O individual e o colectivo
Somos seres pensantes e seres sociais. Em condições “normais” conseguimos pensar/ reflectir sobre o que nos rodeia, mas o nosso pensamento sofre várias influências da sociedade em que nos inserimos.
Ainda assim, quando estimulado, o pensamento leva-nos a equacionar e até criticar algumas ideias de outros com as quais, simplesmente, não estamos de acordo.
Serve isto como preâmbulo para o que tenho andado a pensar.
Quando praticamente toda uma classe profissional (os professores dos ensinos básico e secundário) se dispos a unir-se numa luta contra o ECD e o modelo de avaliação imposto, isto significa que, apesar das influências dos do lado, havia uma unidade de pensamentos. Ao fim de vários anos de conformismo, houve uma lei que despoletou a indignação geral. Penso não existir um único professor ( ser pensante) que possa concordar com esta divisão da carreira, que, quase aleatoriamente, estabeleceu 2 categorias e responsabilizou uma pela avaliação e progressão da outra.
Conceber formas de luta com que todos concordem é bem mais difícil.
No entanto, julgo ser um acontecimento histórico ( e não só em Portugal), que uma classe profissional se tenha manifestado na sua quase totalidade 2 vezes no mesmo ano; ainda mais notória foi a disponibilidade de mais de 90% terem aderido a uma greve.
Uma força destas consegue-se uma vez por geração, talvez nem isso.
Nessa altura, o individual era também o colectivo.
O que “esvaziou” essa luta?
Ainda em jeito de pré-balanço, parece-me que todos devíamos reflectir sobre isto, porque TODOS somos responsáveis: os que desistem, os que julgam ser os detentores da razão, os que se perdem nas lutas pelos protagonismos, os que militam e os que são “amadores” nestas lides ( como eu).
Pela minha parte, senti necessidade de avançar no terreno ( escola) com a contestação que via nas ruas. Não entreguei os Objectivos, porque me parecia o único contributo individual coerente. Não quis ser avaliada por um modelo que rejeito absolutamente. Em coerência, gostava de poder levar isto até ao fim, não entregando a ficha de auto-avaliação.
Mas a luta não é só individual, embora tenha de ser sempre, também, a luta de cada um que, fazendo parte de um todo, contribui para o colectivo.
Não critico ninguém, mas penso que, por uma questão de honestidade, este assunto não devia ser tratado com ligeireza.
Posso aceitar argumentos estratégicos de quem, mais habituado a estas “lutas”, reconhece não haver condições para tal. Teria havido em Março ou em Novembro? Talvez…
O que não aceito é ouvir/ ler de companheiros de luta que o que não quero é ser avaliada.
Isso não é um argumento sério. Eu aceitaria ser avaliada num modelo justo e nunca por alguém a quem não considero competência para tal foi isso que este modelo criou: a injustiça de atribuir a uns a missão de avaliar os seus pares, mesmo que sem diferenciação entre as partes).
A minha luta individual contra ESTE modelo começou quando não entreguei os Objectivos e devia terminar quando não entregasse a Ficha de Auto-avaliação.
Reb
Abril 24, 2009 at 9:41 pm
http://bulimunda.wordpress.com/2009/04/24/25-de-abrilpor-sophia-de-mello-breyner-andresen/
Abril 24, 2009 at 9:56 pm
Comecei por compreender e depois perdi-me… Meus caros, uma luta faz-se com avanços, pausas e recuos. Os avanços deixam todos eufóricos, esquecendo que chega a hora da verdade… As pausas servem para consolidar posições e retemperar forças. O recuo é a estratégia adequada para quando não há força senão para retirar perdendo o menos possível.
Em minha opinião estamos na fase dois, após o avanço eufórico devemos consolidar posições e reabilitar as forças, estamos exaustos. Não fomos, ainda, obrigados a recuar, pelo que devemos iniciar uma luta de guerrilha, menos desgastante, mais visível e menos exigente em termos de recursos. Lembro que os movimentos e manifestações descentralizadas é que criaram o clima que nos permitiu avançar.
Manda a prudência que regressemos ao mesmo, não é fatal mas corrói, desgasta, é notícia, chateia… e num ano em que haverá três eleições é do melhor. Vejam o exemplo que 20 ou 30 professores em Viseu conseguiram ter quando fizeram o cão fugir com o rabo entre as pernas… Os sindicatos têm os seus planos, não os compreendo mas até posso colaborar, não me fico é por aí, continuo a massacrar, a bater na mesma tecla, a moer, porque estou seguro de que eu estou certo e eles estão errados e, quando assim é, não é fácil segurarem-me.
Abril 24, 2009 at 9:57 pm
Bom texto Quink…só espero que os recuos não sejam prenuncio de uma morte anunciada….
Abril 24, 2009 at 10:10 pm
Acabei de ler o último post do Ramiro Marques e senti-me magoada.
A situação deste colega deve ser dramática para que ele venha apelar, deste modo, a todos e a cada um de nós.
Ser professor é também, e sobretudo, sermos solidários.
É urgente uma cadeia de solidariedade.Temos que ajudar!
Ora leiam:
http://www.profblog.org/
Abril 24, 2009 at 10:40 pm
Querida Reb,
A tua luta, neste momento, é a luta de muitos de nós:
– Ser coerente até ao fim.
E acredita…
… nós vamos conseguir!
😉
Abril 24, 2009 at 10:45 pm
Obrigada, Maurício!
Quero acreditar em, pelo menos, uma “aldeia” de resistentes. 🙂
Abril 24, 2009 at 11:21 pm
Olá, Reb!
Gostei de ler o texto.
É honesto e vai na linha do que sempre defendeu nos seus comentários. Lembro-me que quando ainda se falava no problema dos OI, já questionava a entrega da AA.
O quink644 em #2, menciona algo importante.
O Maurício em #5 fala de coerência.
Uma das minhas aspirações é ser coerente.
Mas quando a coerência se repete vezes sem conta, tende a perder a força.
Cada vez mais me pergunto: estarás, Fernanda, a ser coerente?
Não estás!
Mas depois penso: a incoerência vai conduzir-te novamente à coerência.
🙂
Abril 24, 2009 at 11:32 pm
#7, gostei do que escreveste ( tratemo-nos por tu, ok?), em especial do último parágrafo : “A incoerência vai conduzir-te novamente à coerência”. 🙂
E tens razão, repito isto vezes de mais. 🙂
Já na altura dos OI me interrogava até onde iríamos…
Abril 24, 2009 at 11:49 pm
Boa! Reb
Pode contar comigo na sua aldeia!
Não sou tão velho que tenha de andar curvado.
Abril 24, 2009 at 11:53 pm
#4,
Conheço a situação, mas não quis divulgar online sem autorização expressa.
Abril 25, 2009 at 12:24 am
Também eu não quero, não posso e não vou entregar nenhuma ficha de auto-avaliação. Só gostava de estar mais acompanhada. Enquanto não, deixo-vos um poema de Mário Henrique Leiria que muito me tem vindo á memória, nos tempos que correm:
Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
Mário Henrique-Leiria
Abril 25, 2009 at 12:48 am
quink644 diz
“Comecei por compreender e depois perdi-me… Meus caros, uma luta faz-se com avanços, pausas e recuos. Os avanços deixam todos eufóricos, esquecendo que chega a hora da verdade… As pausas servem para consolidar posições e retemperar forças. O recuo é a estratégia adequada para quando não há força senão para retirar perdendo o menos possível.”
Meu comentário:
Esta é luta dos “duros”. É necessário muita paciência, dar tempo ao tempo, mas nunca deixar de acreditar.
É natural estarmos ansiosos, é natural haver desânimo, é natural ficarmos eufóricos, mas é preciso… SABER AGUENTAR UMA GUERRA DE GUERRILHA!
Desiludam-se aqueles que acham que isto vai ser fácil mas sei que “os que acreditam sempre vencerão!”
Abril 25, 2009 at 12:49 am
Reb acredita sempre!
Admiro-te!
Abril 25, 2009 at 12:50 am
Reb:
Quem me dera conseguir ainda encontrar a coerência no meio da revolta!
Dou conta de que fui cobardemente enganada já que, com quase 30 anos de serviço, a única saída que me resta para não ficar “encalhada” no ex 9º escalão é concorrer para as ilhas.
Não se começa da estaca zero aos 50 anos!
Não se faz tábua rasa de uma vida de entrega (quantas e quantas vezes a escola passou à frente de tudo, mesmo tudo)!
Já quase não consigo continuar a indignar-me, mas hoje lá pelo meu “burgo”, distribuiram-se cravos, sinónimo de uma liberdade (com morte anunciada) e, pasme-se, foram empunhados, ou usados na lapela por muitos, quase tantos como os que desistiram de lutar, com uma desfaçatez que quase me causou pranto. Pergunto-me onde moram a coerência, os princípios e os valores?!!!… e não encontro resposta…
Abril 25, 2009 at 9:05 am
A mim, o que me continua a espantar é colocar-se sequer a hipótese de se entregar a auto-avaliação…
No dia em que decidi, por todas as razões, não entregar os OI, ficou claro como a água que não iria entregar rigorosamente mais coisa nenhuma (a não ser documentos que julgasse pertinentes como algum esclarecimento relativo à minha tomada de posição, algum pedido de esclarecimentos ao PCE/D ou ME,notificações legais, etc.).
Surgiu a confirmação ministerial com a célebre Notificação onde se lê, parafraseado “…”é por referência aos OI previamente fixados e ao respectivo grau de cumprimento que o docente efectua a sua auto-avaliação””
“…”os OI são elemento obrigatório na avaliação da componente funcional do desempenho, uma vez que só a partir da aferição do seu nível de execução é possível avaliar o contributo de cada docente para o cumprimento dos objectivos fixados no projecto educativo e no plano de actividades da escola, de acordo com o estabelecido nos artigos (…)”
Assim,”sem objectivos individuais fixados não é possível avaliar o desempenho dos professores.” (E-mail do Ministério da Educação, de 9 de Fevereiro)”.
Ora bem, não tendo entregue objectivos individuais, não me tendo os mesmos sido “fixados” pelo C.Ex./D., NADA MAIS TENHO A ENTREGAR NO QUE RESPEITA A ESTA FARSA QUE SE CHAMA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO.
Aguardo futuros desenvolvimentos e, claro, irei para tribunal (apesar das custas……)
Abril 25, 2009 at 9:16 am
Também prefiro a música e e dança como alternativa a mais uma subida ou descida da Avenida.
E se disserem “olhem para estes, agora festejam…” dizem muito bem! É porque os extremos têm tendência a tocar-se – não é por acaso que se contam tantas anedotas em funerais…
Abril 25, 2009 at 10:23 am
Parabéns Reb!
Obrigada por continuares a lutar e contribuires para mais um dia de comemoração da liberdade.
Abril 25, 2009 at 3:05 pm
Reb, corroboro a 100% contigo! Se fomos tantos unidos por uma só voz, qual a razão de ignorarmos esta nossa força e irmos, tal Egas Moniz render-se de corta ao pescoço???
# 4 Maria João
Pessoalmente, das duas uma: ou perdi a capacidade de interpretar textos, ou foi o Ramiro Marques.
Militante do PS, suspendi temporariamente a minha actividade e até fui compreendida! Apesar da minha aparentemente posição política suspeita, enquanto professora defendo que o objectivo imediato de todos os professores não pode ser manipulado politicamente!!! Não somos carne para o canhão de qualquer força política. Tenho para mim que este PS ou o outro partido “alternadeiro” seguirão processos idênticos. Quantos aos restantes partidos, sabemos que dificilmente serão governo.Não sejamos utópicos! Lutar pela escola pública e pela nossa dignidade deve ser sempre a meta primordial!
Lavrar na actualidade da educação uma posição forte, unida, responsável, interveniente para que este governo, com ou sem maioria absoluta, ou outro governo, nos leve a sério, nos ouça. Estas guerras de alecrim e manjerona, entre blogues, em nada abonam a nossa causa!
Será que a vida já não nos ensinou que só as varejeiras mudam?!
Não será demagógico pensarmos que tudo será ouro sobre azul se for com outro partido no governo?!!
Neste dia carismático da liberdade, da democracia, parece haver, ainda, a visão maniqueísta do preto e branco, a desenterrar : quem não é por mim, é contra mim.
Lamento o Ramiro Marques, não por aquilo que ele defende, mas por insistir critica e obsessivamente nos aspectos políticos ao quase pedir contas a outros, afastando-se, assim, do assunto que nos une! Chega de demagogia!
Abril 25, 2009 at 3:16 pm
Tantos portugueses a viver mal, tanta pobreza ao dobrar da esquina…Pergunto-me: os profs têm medo de quê? De perder umas dezenas de euros se fizerem uma greve que paralise a escola?! Sabemos que temos o ordenado certo ao fim do mês, assim, por que razão há forças obscuras que se “cortam” com uma greve de uma semana ou mais??!! Não lêem o que se passa com os nossos colegas de outros países?! Que lesmas somos nós que insistimos em brincadeiras do faz de conta que estamos unidos e no momento crucial começamos a assobiar para o ar?
Mais manifestações? Mais concentrações? Tenham dó! Continuo a achar que a proposta dos sindicatos é uma obscenidade! Dizem que está na lei e devemos acatá-la! Mas que raio temos nós andado a fazer?! Não tem sido para alterar as ditas leis?
A ser assim, “acordeiramo-nos” todos, já que as forças sindicais começam a vergar a espinha dorsal.
Abril 26, 2009 at 5:40 am
Recuso-me a levar o portátil para a escola. Algumas colegas anda completamente derreadas e derretids com o transporte de tanto peso, e responsabilidade claro, esquemas de CAF, SIADAP e estatística.
Abril 26, 2009 at 11:56 am
Como fizeram no Chile, para derrubarem este modelo? Conseguiram, ou não? Então, nós também conseguimos.
Abril 26, 2009 at 12:15 pm
Pois mas no CHILE SÃO UMA CLASSE…NÓS SOMOS UM BANDO…LÁ ATÉ UM JARRO DE ÁGUA ATIRARAM Á MINISTRA…AQUI UNS OVITOS E LOGO SE GERA ESCÂNDALO.. LÁ DEMITIU-SE..CÁ SÓ SAI SE MORRER DE ATAQUE CARDÍACO…ENFIM DIFERENÇAS…