Este Portugal que vamos vivendo é o natural prolongamento do Portugal do cavaquismo que Maria Filomena Mónica e Vasco Pulido Valente, tal como António Barreto e o Miguel Sousa Tavares pré super-star, tão bem escalpelizaram.
Se bem repararem, os escândalos que ora parecem surgir do nada, desde universidades privadas que serviram para tudo e desaparecem como fogos-fátuos até instituições bancárias que serviram a poucos e se despenham agora em sucessão, não esquecendo os licenciamentos a preceito (e muito se falará mais tarde dos PIN), tiveram origem nesses períodos pantanosos de maiorias ou quasi-maiorias que fomentaram o aparecimento de pequenas estrelas políticas que, ao cair do pano da sua cor, se transferiram de armas e bagagens para o lado daqueles que antes tutelavam, regulavam ou licenciavam.
O interessante ao ler muitas destas crónicas é perceber, embora a específica formação historiográfica dos autores também ajude a explicar tal, que Portugal, por muito que se diga modernizado, tem uma identidade muito própria desde antanho e que nenhuma chuva de empréstimos (fontismo) ou subsídios (cavaquismo, guterrismo e a seu tempo veremos o socratismo) consegue alterar.
É o mesmo pais que hoje Carlos Fiolhas evoca na sua crónica no Público, o país da cunha, do jeitinho, dos cordelinhos, das fugas para a frente perante adversidades e da evocação de campanhas orquestradas por parte dos ainda há pouco orquestradores.
Esse Portugal permanece, mesmo que 71 super e hipermercados venham a abrir em cima dos 2 triliões já existentes ou que sejam construídos mais quilómetros de autoestradas naquele desvario que Medina Carreira tão bem caricatura.
E em matéria de Educação tudo parece na mesma, bastando reler um pouco de Pulido Valente em 97 sobre as ideias em vigor no período de vigência da dupla Marçal Grilo-Ana Benavente no ME.
Os socialistas recolheram do radicalismo democrático a reivindicação do ensino primário obrigatório e gratuito (que se destinava a preparar o povo para a cidadania) e de um certo liberalismo a preocupação com o ensino «científico» e «profissionalizante» (que se julgava útil ao progresso económico. A mistura não surpreende. os pioneiros da «igualdade de oportunidades» descobriram imediatamente que a escola «burguesa» (com a sua orientação enciclopédica e «clássica») tendia a premiar os «filhos dos ricos» e a rejeitar os «filhos dos pobres». porque «transmitia» o «saber» dos «ricos» e não o dos «pobres». A solução estava assim em criar uma escola compreensiva (no sentido abrangente) que valorizasse igualmente o «saber (abstracto) dos ricos» e o «saber (concreto) dos pobres». Por outras palavras, que valorizasse igualmente o conhecimento «livresco» (histórico, por exemplo) e o conhecimento «prático» (de serralharia, por exemplo). (V. P. Valente, Esta Ditosa Pátria, pp. 218-219)
Perante isto, sou obrigado a rever os meus conceitos e a reavaliar aquilo que cheguei a considerar ser uma descontinuidade entre o guterrismo e o período actual em matéria de Educação.
Janeiro 30, 2009 at 9:21 pm
O Livro de Maria Filomena Mónica é o máximo!
Janeiro 30, 2009 at 9:33 pm
Logo no início do mandato desta trupe do me, Maria Filomena Mónica, num célebre artigo no Público, analisou o curriculum do Valter e concluiu que ele era medíocre.
Janeiro 30, 2009 at 9:36 pm
Recebi este mail:
UM RETRATO
«Em Coimbra, matriculou-se no recém-criado Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), por onde viria a obter, mais uma vez com nota medíocre, o grau de bacharel. Como diria: “Aos vinte e um anos, eu tinha tirado o sétimo ano, tinha estado quatro anos em Engenharia, também não queria ser muito engenheiro, mas era melhor ser engenheiro do que não ser”, após o que acrescentava: “Eu esperei que a vida me surpreendesse, esperei pelo meu Sol”. Antes, teve de assinar projectos de construção feitos por outros, com o objectivo de transformar barracões horrendos em mansões ainda mais horrendas. Ao que me dizem, trata-se de um costume nacional, o que nada explica nem desculpa, uma vez que nunca se devem assinar coisas que não são da nossa autoria. Começavam as trafulhices. Vieram outras. Embora o seu “curriculum” fosse confuso e mais confusa ainda a Universidade que lhe dera o diploma, resolveu promover-se a engenheiro. Na política, fez parte da geração, criada em redoma dentro dos aparelhos partidários. A sua única experiência profissional era a de técnico da Câmara da Covilhã, para onde, na década de 1980, havia sido levado pelo pai. Depois, foi deputado, secretário de Estado e Ministro do Ambiente e, a 15 de Julho de 2004, candidatou-se, com êxito, à liderança do Partido Socialista. A 12 de Março do ano seguinte, era convidado a formar governo. Por fim, o Sol alumiava-o.»
Maria Filomena Mónica, Jornal de Negócios
Janeiro 30, 2009 at 9:42 pm
“Perante isto, sou obrigado a rever os meus conceitos e a reavaliar aquilo que cheguei a ser uma descontinuidade entre o guterrismo e o período actual em matéria de Educação.”
Falta uma palavra para a frase ter sentido.
É “considerar” que falta..?
Janeiro 30, 2009 at 9:46 pm
#4,
Correcto e afirmativo.
E já corrigido.