Dizem os apóstolos de um pretenso novo paradigma educacional que o Graal da excelência educativa está na territorialização das políticas educacionais, no envolvimento dos actores locais e no estreitamento da relação entre os estabelecimentos de ensino e a comunidade envolvente.
Em sintonia com isto os projectos educativos devem atender aos contextos locais, assim como a própria gestão das escolas e a própria oferta formativa disponibilizada a alunos e professores.
Sendo escassas as estruturas existentes no terreno, e já em funcionamento, que estão de acordo com esta lógica, avultam como excepções os Centros de Formação de Professores herdados do tempo das vacas gordas europeias prodepianas que, pelo menos na minha zona, têm uma base municipal.
Ora aqui estaria um bom ponto de partida para desenvolver um trabalho articulado com os agentes locais em matéria de formação de professores e sua ligação à comunidade envolvente. Nada melhor que Centros de Formação deste tipo para dinamizarem acções de formação para docentes mas também para as próprias famílias, assim como outras iniciativas de âmbito local.
Nada de mais errado de acordo com o ME. As indicações são agora para eliminar Centros de Formação ou juntá-los de maneira a reduzir em 50% (no mínimo) o seu número. Agora querem-se Centros de Formação que cubram vários concelhos. Percebe-se o esforço de «racionalização»: não havendo dinheiros do PRODEP há que poupar. Em contrapartida, nascem aqueles Centros de Validação e Qualquer Coisa das Novas Oportunidades um pouco por todo o lado. O que fará todo o sentido, ou talvez não, dependendo do lado que se está da torneira dos dinheiros europeus que chegam, agora ao que parece obedecendo à lógica do QREN.
Fecha-se e amalgama-se aqui, para abrir e multiplicar ali.
Mas acredito que tudo resulte de uma visão estratégica e tecnológica do nosso Progresso Maravilhoso que nos conduzirá até ao nível de desenvolvimento do qual cada vez nos afastamos mais.
Confuso? Paradoxal? Uma contradição nos seus próprios termos?
Não e sim, pois é apenas mais do mesmo que temos há coisa de 20 ou mais anos nestas matérias.
Junho 17, 2008 at 12:23 pm
Concordo.
Aliás, tirando algumas excepções, as acções de formação para professores foram sendo progressivamente de pior qualidade e correspondendo cada vez menos às reais necessidades de formação continua dos mesmos.
E, no entanto, esta é um área onde seria fundamental investir-se a sério.É evidente que com cada vez menos tempo para ler e se informar (como salientava DesidérioMurcho no seu artigo)os professores necessitam de acções de qualidade, que refresquem os seus conhecimentos, um espaço onde reflictam, debatam e evoluam com quem saiba mais e lhes transmita esses conhecimentos.
Isto para não falar em licenças e em bolsas de formação (nacionais ou no estrangeiro) a que todos deveríamos ter direito de tempos a tempos.Mas isto sou eu a sonhar.
Junho 17, 2008 at 12:31 pm
Pede-se tudo. E na volta, cada vez nos retiram tudo do que é essencial.Mas os conhecimentos e os saberes não interessam para nada, não é?
Tornámo-nos burocratas e tratamos de papéis.
Por sorte tive direito ao longo destes 30 anos a 2 bolsas de estudo, uma no RU e outra na Alemanha. Ambas já foram há bastante tempo. Mas aprendi muito.
Detesto estar parada. Detesto fazer sempre o mesmo. Gosto de saber mais.
E passo tempos infinitos na escola com actas, pautas, faltas,convocatórias e reuniões para saber a última legislação do ME.
É demais! Sinto-me apardalada, zombie e estupidificada.
Junho 17, 2008 at 12:41 pm
É absolutamente confrangedor o discurso dos modernaços. Retiram duas, três frases (que lhes terão chegado aos ouvidos como sendo “modernas”) e desvirtuam-nas completamente, uma vez que as utilizam para prescrever algo que contradiz completamente a teorização que as suporta.
“territorialização” “envolvimento dos actores sociais” “interrelacionamento” são conceitos de teorizações do Paradigma Sistémico de abordagem da fenómenos sociais. Ora, o mais espantoso, é que “estes modernaços”, utilizam as frases (desses conceitos) mas num sentido de apropriação “vulgata” ou de senso comum, i.é, de conveniência em termos de discurso ideológico ou político, operam no registe do Paradigma da causalidade linear, o que desvirtua TOTALMENTE a sua operacionalização.
Por exemplo: um dos conceitos sempre associados é o conceito de “fronteira” entre os sistemas ou sub-sistemas. Fronteiras pouco claras, esbatidas ou demasiado rígidas, são verificadas em sistemas disfuncionais, quer sejam familiares ou sistemas organizacionais -p.ex, se a fronteira sub-sistemas “professores de uma escola” /”encarregados de educação de uma escola” for clara e bem definida, a comunicação entre os “actores sociais” está facilitada e uma maior eficácia nas tarefas está assegurada; se a fronteira (…)for pouco clara e definida ou for demasiado rígida, a comunicação entre os “actores sociais” tende a ter muitas áreas de tensão e de conflito, proporcinando grande “espaço de manobra aos actores” para jogarem os vários jogos de poder, com uma eficácia nas tarefas muito limitada.
“espaço de manobra”- Crozier!
Junho 17, 2008 at 2:43 pm
Ainda não sei nada do exame nacional de Portuguêsdo 12º ano.
Como foi?
Junho 17, 2008 at 2:51 pm
Não tem muito a ver com o assunto, ou talvez tenha.
Uma jovem amiga que este ano esteve a estudar numa escola secundária dos EUA, ao abrigo de um programa de intercâmbio,vem com classificações de 20 a todas as disciplinas, salvo um 19 a uma outra.
Voltou agora para aqui fazer os exames nacionais.Já cá era uma boa aluna, digamos de média 16 ou 17.Não estudava muito, é certo, embora tivesse boas capacidades. Mas lá fora foi brilhante.
Caída numa família de acolhimento que desconhecia, numa escola com professores e colegas que desconhecia.
Então como foi?
Gostei muito de lá estar. Aquilo é muito fácil nas escolas!
E esta?
(Hoje deve ter feito o exame de Português e nos dias que seguem vai fazer os outros).
Que coragem a da rapariga!
Junho 17, 2008 at 3:50 pm
Na sequência do meu comentário 3.
O conceito de “fronteira” foi introduzido por Minuchin, no âmbito da Sistémica Familiar, tendo sido apropriado também pelos sociólogos e psicossociólogos das Organização.
Se as fronteiras entre o subsistemas parental e filial são muito pouco definidas- “emaranhamento”, ou no caso contrário, de fronteiras rídigas de “desligamento”. Situações disfuncionais.
Podemos tentar aplicar á escola e antecipe-se a total bagunça com o desperdício de energias (trabalho) que deveria ser investido no trabalho com os alunos, a ser desviado para “jogo dos actores sociais”.
(pois)
Através da observação participada e de toda uma panóplia permitida de recolha de elementos informativos (entrevistas, inquéritos, descritivo funcional, etc),fazem-se inferências sobre a forma como a organização está estruturada e como funciona e, naturalmente, quais as áreas menos adptativas ou funcionais – aquela organização está a cumprir menos bem em termos de eficácia e eficiência talvez porque…-.
A propósito aconselho “Estrutura e Funcionamento das Organizações” de Mintzberg e, especialmente, lá para o final da obra, as tipologias organizacionais segundo o modelo – “burocracia profissional” e compare-se com a “burocracia mecanicista” que estes modernaços sinistros querem impor. Inacreditável
Esta obra não estava traduzida do francês e nem sei se, comercialmente, está disponível no mercado.
Junho 17, 2008 at 3:51 pm
“fronteiras rígidas”
Junho 17, 2008 at 5:42 pm
Estes conceitos, como o de territorialização, ou o de envolvimento das comunidades, ou o do aproveitamento dos recursos locais, têm de ser lidos no contexto de globalização em que estamos, de outro modo tendem a encaixar-se numa ideologia mentecapta de cerceamento das aspirações e das aprendizagens. Num contexto de poder local, democrático porventura, mas com marcações mais ou menos extensas do espectro partidário local (mais totalitários uns, mais informais outros), aqueles conceitos cumprem o jogo estratégico de «tampão» ao desenvolvimento, de perda de velocidade. Para que os conceitos se tornem criativos precisam de desterritorialização, de envolvimento com forças e comunidades do exterior. O «localismo» educativo que está a grassar por aí é de redução à banalidade, é de erosão da criatividade, é de estreitamento compreensivo.
Junho 17, 2008 at 6:04 pm
O tubo de ensaio:
http://www.ces.fas.harvard.edu/studygroups/eduReform/index.html
Junho 17, 2008 at 7:56 pm
Fernanda (4),
Não tive possibilidade de ver o exame de Português de 12º ano, mas soube por uma antiga aluna que, ao contrário do que se esperava(todos “apostavam” nos 120 anos de Pessoa), saíu um excerto d’Os Lusíadas. Já espreitei no site do Gave, mas ainda não estava lá a prova.
Junho 17, 2008 at 8:23 pm
José Machado,
Mas o que está verdadeiramente em causa é simplesmente pela via do ataque aos professores atingir-se o âmago da própria democracia. Alguém tem dúvidas?
Todos os recuos civilizacionais se fazem em nome de um (pseudo) déficite financeiro e de um ataque, mais ou menos brutal, aos portadores de conhecimento e de cultura aos outros.
Estamos a viver um desses momentos de grande recuo civilizacional. De trevas e de atropelos.
O sector da Educação é o sector chave do desenvolvimento de um país neste mundo meio confuso. Há Estados/Povos que apostam na dignidade e no desenvolvimento dos seus cidadãos. Há outros, o caso português, que desinvestem na dignidade e no desenvolvimento em nome do interesse egoista de um grupo muitíssimo minoritário.
A camarilha chegou ao poder.
Junho 17, 2008 at 8:49 pm
Mais uma vez , neste país o que conta são as questões de forma e nunca as de conteúdo!(a educação é, neste âmbito, terreno fértil)
Menos discutível, por mais vulgarizada no discurso (e tão só), a autonomia é apenas uma questão de forma: autonomia para ensinar mais Ciências ou Geografia – está quieto: saindo da componente de escola pode obrigar-se as criancinhas a ter “corte e costura”, “tapeçaria de arroiolos”, “remendo de redes de pesca”, “técnicas do berlinde”…mas nunca nada chamado de ciências ou geografia (ordens superiores)! Aulas até 20 de Junho: mas é só na forma porque com exames/ reuniões e afins lá se foram elas (excepto na tal escola onde, tendo terminado as aulas, tudo se arranjou para a reportagem dos governantes)… Aulas de substituição – desengane-se quem pensa que o objectivo é a preparação dos alunos: estatuto, artigo 82º, nº7 (ou é permuta – que dentro da inflexilidade geral e do funcionamento escolar em 2 e 3 turnos é muito difícil, particularmente, no ensino regular; ou é atribuida a professores com horário incompleto; ou… ou (pois é! – lá se vai a promoção da qualidade)os alunos são encaminhados para ocupação educativa – entretenimento- e lá se vão as actividades curriculares… é que para além destas alternativas tería que ser paga…); crianças com dificuldades de aprendizagem – STOP- actualmente médicas(?),3 em 1: condições iguais para todos (inclusividade/ igualdade…- só falta a fraternidade…)+ progressão garantida + sucesso repetido; …
Finja-se!!!a lista é interminável a as formas incontáveis… façam-se muuuitas reuniões, preencham-se MUUUUITOS PAPEIS(Eficácia garantida) – estão para a escola – como as iniciativas legislativas estão para o governo … é de TGV e sem necessidades de transbordo
Junho 17, 2008 at 9:34 pm
No comentário 11, anahenriques reduz a poucas linhas o que realmente está a acontecer, a verdade nua e crua. Hoje, na pequena aldeia onde habito, quando ia comprar o jantar fiquei estupefacto ao ver a montra da única livraria da terreola. Estava em primeiro plano “O Príncipe” de Maquiavel? Bom sinal. Os Portugueses andam a ler!
Junho 19, 2008 at 2:11 pm
🙂
………….
cínico e mentiroso
imprensa marrom