Hoje, no final da ronda negocial com as duas federações, o secretário de Estado adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, afirmou, em conferência de imprensa, que o ministério “não negoceia sob ultimato”.Em resposta, a Fenprof ameaçou recorrer aos tribunais por considerar ilegal o regime simplificado de avaliação de desempenho que o ministério acordou esta semana com o Conselho de Escolas.
“Os procedimentos simplificados anunciados pelo Ministério da Educação são completamente ilegais porque representam uma alteração ao diploma que não foi negociada, nem publicada em lado nenhum”, defendeu o secretário-geral da Fenprof, no final da última reunião com a tutela. Mário Nogueira considera que o Conselho de Escolas, com o qual a tutela chegou a acordo, “não tem competências para negociar e fazer acordos, o que representa outra ilegalidade”.
Para a Fenprof, o ministério só tem duas saídas: “aplicar o regime de avaliação, tal como está previsto no diploma, ou suspender o processo, se não houver condições para o fazer”. “Tudo o que forem aplicações diferenciadas e procedimentos mínimos é à margem da lei”, reforçou o dirigente sindical.
Considerando que “já não há mais negociação, uma vez que o Ministério da Educação está totalmente inflexível”, Mário Nogueira adiantou que a Fenprof vai reunir com as outras estruturas sindicais do sector para avaliar a situação e discutir outras formas de luta. “A greve está sempre em cima da mesa”, afirmou. (Público)
De manhã, interrogava-me sobre a quem interessaria a ausência de uma solução para este imbróglio. Ao cair da tarde, parece que a resposta é óbvia e é partilhada pelos intervenientes institucionais neste processo.
Se o comportamento errático do ME é algo incompreensível, a voz grossa da Fenprof também não ajuda nada.
Fazem-me lembrar aqueles duelos verbais Pinto da Costa/Vale e Azevedo em vésperas de Benfica-Porto ou vice-versa.
Quando os interlocutores decidem falar de mais fora do relvado, arriscam-se a que o clima no dia do jogo esteja quentinho, no campo e nas bancadas.
O problema é que os jogadores, desta vez, se calhar também poderão ficar surdos a tanto disparate.
O ME percebeu que errou e tenta recuar para posições algo mínimas, dando boa parte do território a um adversário que parece mais interessado numa humilhação pública do que na resolução do problema.
Porque há algo que não percebo: o que impede que este «processo simplificado» venha a ter formulação legislativa?
E o que critica exactamente a Fenprof nessa simplificação? Prefere o modelo original? Tem outro?
Vai para Tribunal exigindo a reposição da legalidade legal legalíssima do decreto original?
Isso faz sentido?
Não seria melhor assestar baterias agora no objectivo essencial? Apresentar alternativas ao modelo de carreira proposto pelo ECD e apostar na declaração da nulidade jurídica de alguns dos seus aspectos, assim como fustigar os elos fracos do novo modelo de gestão escolar?
Vamos sacrificar os objectivos essenciais em nome da conquista total do que é acessório?
Não perceberam já que o modelo de avaliação do ME morreu, bem antes de chegar à praia?
Agora resta a luta, escola a escola, a agrupamento a agrupamento, em nome da anunciada autonomia, para que a sua aplicação seja feita da forma transparente.
Que todos os que se opunham ao modelo de avaliação pelo seu carácter burocrático e formalista – grandes críticas partilhadas por todos, a par da existência de potenciais critérios abusivos – agora demonstrem, pela sua prática, que na sua esfera de acção, têm propostas alternativas credíveis e exequíveis.
Neste caso o ME não recuou, pura e simplesmente abandonou quase todo o terreno de batalha.
Há que mudar a mira. O tiro agora tem de ser dirigido a outro(s) alvo(s). Ao(s) que mais interessam.
Março 14, 2008 at 9:20 pm
Guinote esculpa dizer-te isto mas pensas que est+a em fRANÇA OU ESPANHA?
aqui neste país a beira mar plantado o que existe é:
seguidismo
interesses de ocasião
falta de ambição
nada se faz vai-se faqzendo
os outros que trabalhem eu assisto
cada um por si e os outros que se lixem
Não vale a pena porque a alma é pequena
Por isso se pensas que o processo vai decorrer obstacaulizando.se o mesmo escola a esacola , lamento dizer-te isto mas vais ter uma decepção maior que o gRAND CANYON
Na vida existem duas coisas que os portuguses doiram: que alguém faça o trabalho por eles..
Março 14, 2008 at 10:50 pm
Olá a todos.
O Paulo Guinote, está coberto de razão.
De facto, não se percebe porque é que Mário Nogueira havia de dar oportunidade aquela de gente de, como é óbvio, dizerem que não negoceiam sob ultimatos.
Afinal qual era o objectivo? Esmagá-los?
Será que a Fenprof não percebe que deve deixar sempre uma ou mais portas abertas por onde eles se possam retirar com alguma dignidade? E assim, poder cobrar algo.
E agora?
Vão-nos mandar para a greve?
Espero bem que não.
A greve é a bomba atómica e não temos muitas. Aliás, muitos colegas não têm condições financeiras para fazer uma que seja.
Somos professores. Temos que encontrar uma forma de demonstrar, de explicar, o que nos move.
Não há bicho careta que não mande um bitaite a propósito da nossa luta, e nós não conseguimos demonstrar, por exemplo, a incontinência normativa da tutela.
Será que não há por aí ninguém que possa apresentar uma lista das normas, circulares, decretos, despachos e afins que durante uma semana entram numa escola?
O António Barreto já deu a ideia, mas concluiu que a ministra era uma vítima.
E nós?
Ainda esta semana apareceu um despacho sobre as novas épocas de exame do 12º ano para alunos com mais de 18 anos que não querem prosseguir estudos. Três épocas de exame a realizar, salvo erro, em Novembro, Março e Maio, e, já está em vigor! Exames esses que decorrerão em horário pós-laboral!
A tutela preocupou-se em saber se há condições para isso?
Vai pagar horas extraordinárias aos professores envolvidos?
Já pensaram quantas matrizes, provas de exame e demais papeladas vamos ter que fazer, assim de rajada?
Cá fora não se passa nada e esse é em grande medida o nosso problema.
O Mário Nogueira ou alguém dos sindicatos falou disso?
Não sabemos comunicar com o exterior!
Hoje, na SIC Notícias, o Mário Crespo entrevistou o Prof. Adriano Moreira.
Aconselho vivamente que a vejam. Em 20 minutos fez mais por nós do que muita gente junta.
Temos muito trabalho pela frente!
Março 14, 2008 at 10:51 pm
Big brother,
Até ao dia 8 também me diziam que seria impossível colocar 90.000-100.000 docentes na rua.
O triplo dos professores sindicalizados, sendo que muitos lá foram pelo seu pé, como eu.
Desculpa-me então que te diga que se não acreditas que dois terços dos professores – e são mais – não conseguem em cada escola defender os seus interesses, então isso significa exactamente o quê?
Achas, com sinceridade, que muita gente já aceita, de olhos fechados o que o ME e a Fenprof ou a FNE mandam cá para fora?
Desculpa-me mas então quem não acredita na classe docente não sou eu.
Os descrentes serão outros.
Aqueles que pensam que afinal está tudo na mesma.
Março 14, 2008 at 11:02 pm
Já estou farta de escrever o mesmo, mas não entrava….
Eu até que percebo as declarações dos sindicatos.
1- Quiseram este modelo de avaliação confuso, com dúvidas legais, sem regulamentações fundamentais?Acharam-no exequível? Então mostrem como.
2- Estes “recuos” ou flexibilizações” são o reconhecimento de que algo não batia certo e de que a sua implementação não era exequível, não apenas em termos de tempo. A ser assim feito, esta farsa vai continuar e ficar mais complexa.Daqui a uns tempos, lá virão os do costume dizer que os professores progridem automaticamente, que esta avaliação é como a outra, que todos aceitaram e que os sindicatos também.
Março 14, 2008 at 11:10 pm
Uma mesa de negociações na véspera do comício do PS no Porto, o que é que esperavam?
Como é evidente o governo tinha que mostrar “quem é que manda” para consumo interno. Depois, podem de mansinho sem fazer muitas ondas ir “flexibilizando”… preferencialmente circulares não assinadas, os métodos do costume.
Março 14, 2008 at 11:19 pm
Faz algum sentido, faz, Paulo.
Ao exigir-se a “reposição da legalidade do decreto original”, pretende-se, penso, provar que não é possível repôr-se uma legalidade em algo que continha ilegalidades.
É uma estratégia.Que pode ser perigosa, claro.Mas é uma estratégia.
Março 14, 2008 at 11:20 pm
[…] Há que mudar a mira. O tiro agora tem de ser dirigido a outro(s) alvo(s). Ao(s) que mais interessam. Jump to Comments O Paulo Guinote aponta com clareza o caminho a seguir. […]
Março 14, 2008 at 11:22 pm
O ECD foi aprovado , está em vigor. Os sindicatos são convocados para sessões de regulamentação do mesmo-neste caso a avaliação, porque deu no que deu. Está no programa mínimo da APEDE a contestação jurídica do ECD. Também lá está a pressão sobre os sindicatos.Mas a contestação do ECD está no programa da Fenprof. Por isso os movimentos devem continuar, estamos a esquecer como foi que tudo começou? Porque devolveu o ME a bola às escolinhas? Porque assim, acabam os movimentos, as escolas mais contestatárias farão “avaliação minima” ou outra coisa qualquer muitíssimo mais bem feita, não sei, as outras farão o que lhes der na real gana e o professor avaliado volta a ficar fragilizado. A fenprof não cedeu porque não ia mandatada pela classe para ceder. Nem quero pensar mas estou a defender a fenprof, acho que ela tem sido especialista em ter cão e não ter cão. Desta vez não. Ainda não. A classe tem que decidir e não se atreve a dizer esta coisa simples- não se podem avaliar professores desta forma.Mais vale qualquer avaliação do que nenhuma? A proposta da FEnprof de debate nas escolas, se a fizerem mesmo, é útil, mas se entretanto, as escolas estiverem já a avaliar os 7000 ou 700 ou 70 ou mesmo 7, já cederam em toda a linha pois utilizaram ESTE MODELO. São cobaias os colegas? Talvez não. A Fenprof agiu bem, não fez como a tutela, não os entregou aos pequenos poderes ansiosos de serem considerados de boas práticas- que os há mais do que se julga.
Março 14, 2008 at 11:31 pm
Quanto ao recuo ou não recuo, a teoria dos jogos tem coisas interessantes: no jogo de soma positiva ganham ambos a ministra poderia continuar pois pode dizer que há novos dados, novos estudos, tal como na Ota e ganhamos nós (com o compromisso de também propormos melhor solução) E SOBRETUDO GANHA A EDUCAÇÃO! Tempo é apenas o que se pede, não acho muito. E não nos foi dado.
Março 14, 2008 at 11:42 pm
Os sindicatos (Fenprof e FNE) fizeram bem. Não é possível aceitar uma semi-aplicação da lei sem que haja uma nova lei a determinar os termos da “semi-aplicação”. Neste momento há uma lei em vigor, ou é revogada ou suspensa ou aplicada. Não pode ser “semi-parcialmente-se-me-apetecer-aplicada”.
Verificou-se que é impraticável, mas isso é um problema de quem fez a lei e que terá de a emendar.
É uma questão de princípio mínimo de Estado de Direito, respeitar a lei ou revogar a lei. Estou ansioso por saber o que pensa o Presidente da República destas aplicações adaptadas caso a caso da lei. Será que mesmo com isto vai continuar calado?
Março 14, 2008 at 11:46 pm
Por isso mesmo essa aplicação “simplificada” deve ser objecto de legislação específica.
Alguém pediu isso na dita reunião?
Março 14, 2008 at 11:47 pm
Acrescentando: tudo bem que seja revogado o decreto em causa e substituído por outro.
Mas acham que isso vai acontecer?
Março 15, 2008 at 12:22 am
Concordo totalmente com o João Filipe, comentário 10.
Só assim percebo a posição dos sindicatos.
Comentário 12 do Paulo: Esse é o problema e voltamos ao mesmo.
Março 15, 2008 at 1:14 am
De acordo com o Paulo!
Março 15, 2008 at 3:01 am
Que saudades de bater nos sindicatos, deixando o ME respirar à vontade!
Não há – ainda – razões para isso, neste processo. Mas parece que alguma frustração começa a querer encontrar bodes expiatórios. Podemos conseguir um pouco mais, digamos, uma simples suspensão se formos, juntos, um pouco mais persistentes. Isto não é jogo de “mata-mata”, mas há pontos fundamentais.
“Neste caso o ME não recuou, pura e simplesmente abandonou quase todo o terreno de batalha.”
Parece-me que alguém anda a sonhar com desejos lindos!…
A água parece próxima, mas é apenas uma miragem. Não tenha pressa excessiva.
Começa a haver ecos a mais da verdade da 5 de Outubro aqui. Nem quero acreditar nisto.
Março 15, 2008 at 10:46 am
Aquilo que o ME pretende na minha opinião, é passar a batata quente às escolas com este modelo simplex para uns e complex para outros.
Depois quem terá de descalçar a bota dos critérios diferenciados serão as escolas e o ME lava daí as mãos.
Lembram-se dos mini-concursos? Então não se esqueçam…
De qualquer maneira, modelo simplex ou não, pelo que me toca a mim, por mais que eu negociasse não haveria titular na minha escola para me avaliar, pois eu a negociar queria alguém da minha área científica. Sou de Inglês e na minha escola só há titulares de Francês e Português no meu departamento. Por isso não me revejo minimamente nesta “simplificação”.
Março 15, 2008 at 10:51 am
Mas o problema dos titulares deriva do ECD e não do modelo da avaliação.
Então que tal se batêssemos à porta do ECD, em vez de perdermos mais tempo com as cerejas?
Março 15, 2008 at 12:19 pm
Estou completamente de acordo com a Fernanda quando di:
1- Quiseram este modelo de avaliação confuso, com dúvidas legais, sem regulamentações fundamentais?Acharam-no exequível? Então mostrem como.
2- Estes “recuos” ou flexibilizações” são o reconhecimento de que algo não batia certo e de que a sua implementação não era exequível, não apenas em termos de tempo. A ser assim feito, esta farsa vai continuar e ficar mais complexa.Daqui a uns tempos, lá virão os do costume dizer que os professores progridem automaticamente, que esta avaliação é como a outra, que todos aceitaram e que os sindicatos também.
Depois de sermos acusados (até à exaustão)de progredir sem mérito, vamos aceitar ser avaliados (temporariamente e para cumprir calendário eleitoral)de modo “simplificado”?
NUNCA! Pela nossa dignidade profissional? Queremos ser avaliados! Com dignidade e justiça. Façam acertos na lei. Comecem todo o processo com correcção desde o início, com a ponderação e serenidade que merece.
Março 15, 2008 at 12:26 pm
Quanto à ética e a dignidade, de quem depois de fazer e dizer tudo o que fez e disse, quanto à falta de profissionalismo dos professores a a falta de rigor da sua avaliação de desempenho, vem agora, nesta fase, propor uma “avaliação flexível e simplificada”…. estamos conversados.
Março 15, 2008 at 12:50 pm
Sim ,Paulo, é óbvio que temos de lutar contra este ECD, mas nunca também esquecer os seus derivados. As frentes são várias.
Março 15, 2008 at 3:00 pm
Recebi agora um email de uma colega sindicalista a dizer que o ME está a tentar chegar a um acordo com a FNE… Se assim for, estarão a tentar separar/dividir os professores… Teremos obviamente que nos opôr