É mais do que óbvio que as coisas não mudam de um dia para o outro. Por isso é necessário que os professores mantenham a cabeça fria e dominem a impaciência nos próximos tempos.
Neste momento, a bola está do «outro lado», de onde existe a responsabilidade de dar os «sinais positivos» mínimos exigíveis.
É difícil, claro, pois a classe dos professores tem tido razoável azar com o timing das suas lutas.
- De início, fomos o primeiro grupo a ser torpedeado pelo Governo quando ainda estava em estado de graça e ninguém contestava a sua legitimidade para «reformar» e «mudar», não se questionando o sentido e valor dessas reformas e mudanças. Ainda não tinham chegado ao ponto de ser necessário negociar e ceder.
- Agora estamos a chegar após algumas indesejadas cedências como as que se verificaram com a localização do aeroporto e a área da Saúde. Dizem os entendidos que não é possível ao Governo ceder mais neste momento, sob risco de descrédito total.
Ou seja, fomos os primeiros a levar e não podemos ser aqueles que atiram a última pedra.
A aposta do ME vai tentar ser a de fingir que tudo está na mesma, fazendo acertos mínimos de calendário, esperando uma jogada mal feita ou precipitada dos docentes (um greve mal pensada, por exemplo) para capitalizar junto da opinião pública. Lembremo-nos do que aconteceu em 2005.
Isto é jogo de força, mas também de compassos de espera. Já me cansei de escrever que as lutas ganham-se também fora das ruas, demonstrando razões racionalmente e sabendo cativar a opinião pública e publicada.
Por isso exige-se paciência, domínio das pulsões mais básicas, que podem estar à flor da pele, mas também tornear desânimos mais rápidos. Há que construir alternativas e demonstrar que são mais válidas do que as propostas ministeriais. Esse é um trabalho positivo, essencial para a credibilização de toda a classe.
Se a Ministra surgiu sábado no Expresso a menorizar os sindicatos como interlocutores, esses sindicatos devem demonstrar o contrário e trabalhar para infirmar tais declarações. Mas, por outro lado, os professores devem demonstrar que por si mesmos são capazes de produzir alternativas que devem ser escutadas e analisadas. Apesar do distanciamento do Conselho de Escolas em relação à globalidade dos docentes, esse é um organismo que deve assumir as suas responsabilidades e não apenas defender um interesse de grupo específico no seio dos docentes. E deve se pressionado para tal.
E aqueles que se assumem como construtores de «pontes de diálogo» devem, de uma vez, decidir se querem fazer essas pontes apenas para fora, se querem colaborar com todos os outros, a larga maioria, dos seus colegas.
Março 10, 2008 at 12:32 pm
Parece-me que o 1ºgrupo a ser torpedeado foram os farmacêuticos, mas….
Março 10, 2008 at 12:44 pm
Estou num breakzinho e deixo aqui uma proposta que eu acho que aqui já alguém aflorou:
Greve sim,mas sem assinar sumários,estar nas escolas e a leccionar nos 2 ou 3 dias em que a mesma fosse feita.
Eu acho que isto era algo de inédito, original e era uma bofetada de luva branca nos opinions makers da praça.
Penso mesmo que serias inédito a nivel da europa.
Março 10, 2008 at 12:46 pm
Permita-me uma sugestão:
a caixa de comentários não poderia surgir no final dos artigos? facilita a leitura…
Março 10, 2008 at 12:56 pm
Evidentemente que agora é necessário inteligência para saber lidar com a emotividade e a irracionalidade. Porém, parece-me que a proposta de não assinar os sumários deve ser considerada. A luta continua.
Março 10, 2008 at 12:58 pm
Com quem vai trabalhar a ministra?
http://arrastao.org/educacao/com-mais-de-metade-dos-professores-na-rua-com-quem-vai-trabalhar-a-ministra/
Março 10, 2008 at 1:02 pm
Concordo totalmente com o post do Paulo.
Março 10, 2008 at 1:27 pm
E porque não outra manifestação, noutro sábado, outra vez com cem mil, ou cento e dez mil? Vêm algum inconveniente?
Março 10, 2008 at 1:30 pm
Penso que ninguém esperaria que a ME caísse no “dia seguinte”. E, quanto a mim, penso que a sua queda, nestas condições, em nada nos beneficiaria.
Tal como na saúde, viria alguém que abrandaria a marcha, daria umas pinceladas de cor em meia dúzia de artigos, e quando estivéssemos todos desmobilizados despejaria tudo o que se propõem fazer em cima de nós porque, apesar da intransigência e da rudeza da srª ME, convenhamos que ela é apenas uma executora de políticas (má porque seguiu os caminhos errados e escolheu (?- não sei, um deles é amigo do outro e não dela) os conselheiros mais desbragados e incompetentes neste domínio que encontrou.
De qualquer forma, creio que o calendário de luta ficou definido e que, pelo menos até Maio (tirando a greve da FP, marcada para 6ª feira) não está prevista nenhuma greve especifica do nosso sector.
Creio, também, que esta luta agendada, é um tipo de luta “de água mole….”, que serve, simultaneamente, para não desmobilizarmos e para os fazer ver que não adormecemos nem nos esgotámos na manifestação daquele dia.
Creio, ainda, que nos compete a nós, nas escolas, mantermos os trabalhos de construção dos documentos em “banho Maria”, utilizando a prerrogativa, que nos foi dada, de propormos o nosso cronograma de escola, ou de podermos colocar dúvidas superiormente, suspendendo o trabalho enquanto esperamos pelas respostas, muitas das quais não estão a surgir.
Março 10, 2008 at 1:32 pm
Isto é jogo de força, mas também de compassos de espera.
É principalmente um jogo de inteligência e de capacidade de organização.
Março 10, 2008 at 1:32 pm
Maria de Lurdes Rodrigues não tem condições para continuar a gerir o sistema de educação em Portugal. Porque já não é eficaz nessa função. Porque é um facto insofismável que o pessoal que ela administra não aceita a sua administração. Isso esvazia de conteúdo as suas funções. Já não está em causa a eficácia da sua política. A questão é que ela não vai conseguir implementar as boas ideias que tem, nem impor as más. O argumento de a manter no cargo para não “desautorizar” o Primeiro-ministro é falso e perigoso. Mantendo-a nas funções que desempenha a desautorização do governo de Sócrates é constante. (…)
http://jn.sapo.pt/2008/03/10/opiniao/acabouse.html
Março 10, 2008 at 1:38 pm
MLR não é JA Camacho, que se demitiu por falta de motivação dos jogadores. Disse ela que vai passar a ir às reuniões de negociações. Ora, aí estão sentados os sindicatos, que exigiram a sua demissão. Haverá diálogo? E o que vão exigir os sindicatos? Não se sabe muito bem. No site da Fenprof apenas se fala do adiamento da avaliação. Mas não se deve ficar por aí, até pq o PM admitiu alterações para melhorar o processo de avaliação. Assim:
a) aulas assistidas apenas nos termos em que Ramiro Marques referiu (só para os insuficientes, regulares e excelentes);
b) relacionar os resultados dos alunos e o abandono escolar com a organização da escola e não com o desempenho individual dos docentes, pelo que a avaliação do desempenho deve ir a par com a avaliação externa da escola. Isto porque a melhoria dos resultados e do abandono dependem sobretudo da organização e das ofertas da escola (p.ex. turmas de percursos curriculares alternativos, aulas de apoio, programas de acção tutorial, etc.);
c) manter as referências à assiduidade (ainda há professores que dão mais de 50 faltas por ano), à participação e dinamização, à iniciativa (projectos, clubes), à formação contínua e à disponibilidade para apoiar os alunos;
d) aproveitar o prometido concurso extraordinário para titulares para corrigir algumas distorsões de forma a evitar que o avaliador esteja em posição de inferioridade relativamente ao avaliado no que respeita a graus académicos e a experiência de ensino.
Pequenas alterações cirúrgicas mas que respeitem a dignidade dos professores poderão fazer a diferença. À atenção dos assessores do ME que espreitam este blogue.
Março 10, 2008 at 1:51 pm
Professores titulares nos moldes com que foram seleccionados? Como??? Ulisses, está a brincar???
Onde está o mérito de grande parte destes titulares??? Terem passado por processo administrativo??? Continuar com a carreira dividida em duas??? Este “estatuto” deveria ser revisto!!! Não podemos admitir cedências dos sindicatos para mostrarem que têm capacidade negocial. Chega de instrumentalizações!!
Março 10, 2008 at 1:52 pm
Uma questão: como é que as escolas vão conseguir compatibilizar os horários entre os avaliadores e os avaliados?
Março 10, 2008 at 1:53 pm
O concurso de Titular foi uma vergonha e só veio criar injustiças.
Março 10, 2008 at 1:53 pm
E um processo de avaliação completamente viciado??? Lembrem-se que quem avalia também “concorre” ao Muito Bom e ao Excelente.
Março 10, 2008 at 1:57 pm
UMA proposta de avaliação:
1-Assiduidade (mais de 12 faltas anuais começa a influir na avaliação)
2-Portfólio(material utlizado nas aulas)
3-Participação em actividades escolaraes
4-Participação em cargos escolaraes( D.T, coordenador, Biblioteca , ..)
5-Observação de uma aula por ano
6-Formação por acréscimo
7-DIVISÃO DA CARREIRA – PROGRESSÃO SEM COTAS ATÉ AO 9ºESCALÃO E PROVA DE ACESSO PARA QUEM QUISER ACEDER AO 10 ESCALÃO.
8 – Avaliação feita de 4 em 4 anos
Março 10, 2008 at 2:01 pm
Mil vezes ser avaliada por um inspector da mesma área científica!!! Pelo menos estaria mais segura da sua isenção!!
Março 10, 2008 at 2:06 pm
jà agora leiam o Rui Tavares no público de hoje última página. vale a pena.
análise certeira a toda esta bosta de política que o sòcrates -pobre filósofo deve dar voltas na tumba-nos tem imposto.
Março 10, 2008 at 2:11 pm
(…)
“Mostra a desorientação de um Governo irritado com a falta de gratidão que acha que os portugueses lhe devem, que não sabe sequer como explicar o “voluntarismo” da PSP, que foi às escolas para tentar saber quantos iam à manifestação. Mas, enfim, esperamos ansiosamente por ver polícias nas sedes do Partido Socialista a perguntar quantos militantes vão estar presentes no comício/manifestação a favor do Governo do próximo sábado, no Porto.”
(…)
“Se o arrependimento levasse ao céu, Sócrates já lá estaria desde o dia em que decidiu manter Maria de Lurdes Rodrigues. E agora é tarde. Não pode demitir a ministra, sob pena de mostrar fraqueza. Não a pode manter, sob pena de perder o controlo da rua. E o poder na rua pode ter efeitos perversos.”
http://jn.sapo.pt/2008/03/10/preto_no_branco/desorientacao.html
Março 10, 2008 at 2:15 pm
(…)
Mostra a desorientação de um Governo irritado com a falta de gratidão que acha que os portugueses lhe devem, que não sabe sequer como explicar o “voluntarismo” da PSP, que foi às escolas para tentar saber quantos iam à manifestação. Mas, enfim, esperamos ansiosamente por ver polícias nas sedes do Partido Socialista a perguntar quantos militantes vão estar presentes no comício/manifestação a favor do Governo do próximo sábado, no Porto.
(…)
Se o arrependimento levasse ao céu, Sócrates já lá estaria desde o dia em que decidiu manter Maria de Lurdes Rodrigues. E agora é tarde. Não pode demitir a ministra, sob pena de mostrar fraqueza. Não a pode manter, sob pena de perder o controlo da rua. E o poder na rua pode ter efeitos perversos.
http://jn.sapo.pt/2008/03/10/preto_no_branco/desorientacao.html
Março 10, 2008 at 2:30 pm
Mais uma bronca se avizinha. Com os professores a contrato nas escolas!
http://abnoxio.weblog.com.pt/
Março 10, 2008 at 2:37 pm
A divisão da carreira em dois, tem obrigatoriamente que ser revista. Como? Não sei, mas os idiotas que “pensaram” nessa idiotice foi o ME. Que se desenrasquem, porque a “remediar” algo é desde esse concurso.
Março 10, 2008 at 2:40 pm
“Sobre a recente polémica da não renovação de contrato, a sete mil professores se não forem avaliados, Mário Nogueira, garante que isso não é verdade.” in RTP.Pt
Março 10, 2008 at 2:44 pm
Concordo que nesta fase cautela e caldos de galinha não farão mal a ninguém.
Mas ainda assim há formas de continuar a fazer mossa como seja usando a burocracia como arma de defesa pessoal.
Desta vez concordo em absoluto com a ideia do Paulo de que devemos exigir o estrito cumprimento da legalidade, como proponho em:
http://fjsantos.wordpress.com/2008/03/10/desta-vez-faz-sentido-usar-a-burocracia-como-arma/
Março 10, 2008 at 2:53 pm
Parece-me que as propostas de Land of Confusion (16) podem começar um reflexão séria. É tempo de fazer chegar propostas aos sindicatos e aos partidos políticos (incluindo PS).
Vamos continuar a nossa participação cívica, enviando para os mails dos deputados e dos sindicatos estas e outras reflexões.
p.s. Paulo, não quer ser o anfitrião de “uma espécie de fórum” sobre o assunto?
Não quero abusar da sua boa-vontade, mas tenho a certeza de que + 1.0000.0000 de visitas dão-lhe o estatuto de moderador privilegiado…
Março 10, 2008 at 2:54 pm
Sobre a esperança de o Conselho das Escolas representar dignamente os professores, só se for para rir. Esse CE é composto por 60 Presidentes de Conselho Executivo e representa AS ESCOLAS, não os professores. Não foi feito para isso, nem vai, obviamente, pensar nisso.
Seria engraçado se alargássemos o conceito do Conselho das Escolas ao resto da sociedade: quem representaria os trabalhadores era uma Comissão de 60 Gestores… e estariam bem entregues, porque são eles que sabem o que a empresa precisa!!! Não são? E já agora, para defender os direitos gerais, fazia-se uma comissão de 60 Pais de Família, como no Antigo regime?
Ora poupem-me!
Até fazerem uma nova Constituição, os Sindicatos continuam a ser legal e socialmente os representantes dos trabalhadores.
Mas se alguém não se revê especialmente nas opções dos sindicatos, tem vários movimentos cívicos organizados precisamente para dar voz aos professores.
Agora o Conselho das Escolas? Desses espero ZERO!
Março 10, 2008 at 2:54 pm
Tantos 000!!!!
Março 10, 2008 at 3:12 pm
António Barreto: a farsa da avaliação de professores
Mais palavras sábias sobre a avaliação de professores, hoje no Público:
Na impossibilidade humana de “gerir” milhares de escolas e centenas de milhares de professores, os esclarecidos especialistas construíram uma teoria “científica” e um método “objectivo” com a finalidade de medir desempenhos e apurar a qualidade dos profissionais. Daí os patéticos esquemas, gráficos e grelhas com os quais se pretende humilhar, controlar, medir, poupar recursos, ocupar os professores e tornar a vida de toda a gente num inferno. O que na verdade se passa é que este sistema implica a abdicação de princípios fundamentais, como sejam os da autoridade da direcção, a responsabilidade do director e dos dirigentes e a autonomia da escola. O sistema de avaliação é a dissolução da autoridade e da hierarquia, assim como um obstáculo ao trabalho em equipa e ao diálogo entre profissionais. É um programa de desumanização da escola e da profissão docente. Este sistema burocrático é incapaz de avaliar a qualidade das pessoas e de perceber o que os professores realmente fazem. É uma cortina de fumo atrás da qual se escondem burocratas e covardes, incapazes de criticar e elogiar cara a cara um profissional. Este sistema, copiado de outros países e recriado nas alfurjas do ministério, é mais um sinal de crise da educação.
Março 10, 2008 at 3:21 pm
O concurso para professor titular foi uma vergonha, uma ignomínia. Enquanto essa situação não for resolvida a vida nas escolas será impossível. Eu passei pelo concurso e sei do que falo.
Ainda se Justiça fosse célere talvez muitas injustiças se resolvessem. Mas muitos escolhos só poderão ser ultrapassados com a anulação total desse malfadado concurso.
Março 10, 2008 at 3:23 pm
“[O Governo tem de ] manter a avaliação e pôr fim ao diálogo como os sindicatos. Custe o que custar. Mesmo a maioria absoluta.”
António Ribeiro Ferreira, “Correio da Manhã”, 10 de Março de 2008
Março 10, 2008 at 3:28 pm
DIVISÃO DA CARREIRA – PROGRESSÃO SEM COTAS ATÉ AO 9ºESCALÃO E PROVA DE ACESSO PARA QUEM QUISER ACEDER AO 10 ESCALÃO.
Avaliação feita de 4 em 4 anos
Progressão de acordo com o número de vagas nos quadros como acontece nas carreiras militares.
E promoção em igual período de tempo
Março 10, 2008 at 3:32 pm
Já agora para os boateiros que na sexta feira passada quiseram lançaram o veneno de que a polícia estava preparada para “malhar” nos professores. Então quantos feridos houve? E a«quantos foram presos?
Março 10, 2008 at 3:34 pm
L&L:
Não se pode pôr fim a algo que nunca existiu. E esse senhor devia perguntar a alguém esclarecido, por que é que os sindicatos conseguem negociar a avaliação com os privados e não o conseguem com a Sra. d. lurdes. Será que ARF também tem traumas?
Março 10, 2008 at 3:58 pm
As escolas devem ser organizações de estrutura simples uma vez que o trabalho dos seus operacionais “os professores” é extremamente complexo e exigente. A transformação da estrutura organizacional de “burocracia profissional” a “burocracia mecanicista” (Mintzberg) introduz no sistema o próprio toque a finados do Ensino. Os operacionais (os professores) passam a gastar o seu esforço na defesa do seu posto de trabalho em vez do seu esforço ser investido no trabalho com os alunos. Não é possível compatibilizar o que é incompatível! Portanto carreira de professor só pode ser uma com diversos pontos de apreciação. Para a gestão, professores com currículo e perfil de liderança podem concorrer a um concurso para os orgãos de gestão das escolas e terem formação para tal. Esta é a única diferenciação possível dentro duma escola.
Março 10, 2008 at 4:00 pm
Carta aberta a alguém que dá pelo nome de Emídio Rangel
Extraterrestre ou hooligan verbal?
Diz que é jornalista, mas (d)escreve por antecipação, o que rima com encomendação.
Ensinaram-me que acção gera reacção, o que rima agora com indignação.
Que agora convosco partilho.
Muito tempo faltava ainda para despontar a manhã; mais ainda faltaria certamente para o Correio da Manhã chegar às rotativas e ver a luz do dia. Mas ele, Emídio Rangel, na sua rubrica “Coisas do Circo”, já destilava veneno por antecipação. Os verbos liam-se, anacronicamente, no Pretérito Perfeito, ainda que pelas 9 horas da manhã, ainda que eu, e mais 100 000 como eu, continuássemos pela estrada fora. E esta foi a primeira das minhas indignações: ainda mal acordara, feita a primeira paragem numa estação de serviço para tomar um café, vislumbro por cima do ombro de alguém o apelativo título: “Hooligans em Lisboa”. Não resisti à leitura, e fiquei a saber que alguém me apelidava de hooligan, de todos o mais suave epíteto entre os vários que compunham a crónica, ainda eu estava em Aljustrel! A viagem para Lisboa ainda mal começara. Mais do que o café, a crónica revitalizou-me o ânimo e a força desta indignação que não me larga.
Como é que este senhor, mais um, se pode dar ao luxo de abrir a boca para opinar sobre educação em Portugal e dizer um chorrilho de asneiras, ao mesmo tempo que descarrega injúrias à classe docente em meia dúzia de linhas?
Não tem razão, e fala do que não sabe, quando diz que os professores actuais “trabalham pouco, ensinam menos, não aceitam avaliações”. Bem pelo contrário, a maioria trabalha muito para além do que é razoável, luta para ensinar em permanente confronto com a escola paralela que é o mundo exterior à própria escola (que este senhor ajudou a formar), e aceita ser avaliada, embora não assim, que é como quem diz, à pressa, com critérios pouco objectivos, duvidosos, fora do seu próprio controlo e, sobretudo, para descaradamente sustentar a redução das despesas públicas numa área em que ainda estão abaixo dos ditos valores “europeus”.
Volta a ser demagogo quando diz que no seu tempo, que não é muito diferente do meu, consideradas as nossas idades, os professores eram licenciados, tinham passado por “pedagógicas” (?), eram vocacionados… Má sorte a minha porque ainda antes do 25 de Abril tive um sargento da GNR que me deu Educação Física em jeito de recruta, entre outros professores (informador da PIDE_DGS) cujos talentos atravessavam áreas tão díspares – quanto incompatíveis no meu jovem sentido crítico – que iam da História à Organização Política do Estado (Novo). Enfim, privilégios do comentador, de que eu não desfrutei, apesar de frequentar um Liceu Nacional. E que ele, mesmo sem pedagógicas soube aproveitar para lá ir dando as suas aulas pelos liceus e universidades, como diz. Grande professor terá sido! quando hoje qualquer professor que chega ao sistema é, quase posso dizer, ainda que peque por exagero, mais bem formado do ponto vista pedagógico do que cientificamente (ou teoricamente). E quem fala hoje de licenciados, quando muitos são mestres ou doutores, mesmo ensinando no ensino básico?!!
Como diz e todos concordarão, “Portugal não pode continuar a pôr cá fora jovens analfabetos, incultos e impreparados, como acontecia até aqui”. Claro, ou arriscamo-nos a ter por aí muitos clones de Emídio Rangel. E isso Portugal não aguentará. Concordo com a mudança, mas dispenso a ignorante opinião de alguns. Gente que fala do que não sabe, gente que suga as finanças das empresas públicas (refiro-me à RTP) com indemnizações milionárias, gente ideologicamente responsável por pôr no ar programas educativos que deram pelo nome de Big Show Sic e quejandos. Verdadeiros exemplos do que a televisão não deve fazer enquanto instrumento formativo, a troco das audiências, da dita eficiência.
E, para variar, como antigamente, lá vem o papão dos comunistas. Quatro vezes referido, em tão curta crónica, é caso certo para psicanálise. Pois os “soldados do Partido Comunista”, ainda que “(…) seja óbvio que estes manifestantes são só uma parte dos professores (…!??)” estiveram em Lisboa no passado 8 de Março e obrigaram-no agora a engolir 100 000 vezes tão grosseiro disparate.
Mas não tenhamos ilusões, colegas professores. Ainda assim há, e vão continuar a haver, surgindo como cogumelos à medida que a nossa luta se extrema, pseudo professores a “mandar” palpites sobre Educação. Tal e qual o futebol…!
P.S.- Um último reparo, só de pormenor: se quiser ser rigoroso, o que é obrigação de jornalista e pode comprometer todo um esforço argumentativo, senhor Emídio Rangel, tenha em atenção os nomes…. É que o homem chama-se Mário, mas tem como apelido Nogueira!
M. F. C. R.
Professor Titular, 27 anos de serviço… caso interesse
Março 10, 2008 at 4:06 pm
O conteúdo da função de “professor” tem que estar muito bem definido (sem margem para dúvidas para ninguém) para se poder determinar a: formação inicial e formação contínua dos professores; sistema de avaliação do desempenho profissional; papel dos encarregados de educação dos alunos, entre outros aspectos.
Março 10, 2008 at 4:17 pm
Vejam o que é o futuro da escola e nós a preocuparmo-nos com minudêcias(a bem dizer é claro)
Março 10, 2008 at 4:19 pm
Um grave problema com que nos deparamos neste momento parece-me ser a desinformação sistemática sobre tudo o que se passa nas nossas escolas e sobre as verdadeiras razões da nossa luta. Qualquer fala-barato se permite falar sobre os problemas da educação sem conhecer minimamente as condições das nossas escolas. Nesse sentido parecia-me interessante organizarmo-nos para fazer frente a essa desinformação, incitando as pessoas a virem avaliar as condições tantas vezes deficientes em que somos obrigados a trabalhar. Essas visitas seriam também uma óptima oportunidade para distribuirmos um documento claro sobre as razões da nossa luta, a escola pública que defendemos e sobre as consequências desastrosas que para ela terá a política deste governo.
Março 10, 2008 at 4:20 pm
Mais para fazer pensar
1 -https://educar.wordpress.com/2008/03/10/problemas-de-timing-e-outros-detalhes/#comment-35523
2-http://www.youtube.com/watch?v=fhnWKg9B2-8&feature=related
Março 10, 2008 at 4:20 pm
https://educar.wordpress.com/2008/03/10/problemas-de-timing-e-outros-detalhes/#comment-35523
Março 10, 2008 at 4:24 pm
E para terminar porque parece que da outra vez não ficou acessivel aqui vai este:
Eu pergunto será mesmo realista concorrer com estes gigantes?
Não existe carreira docente, que consiga combater esta rapidez e este gigantismo.
COMO ALGUEM JÁ DISSE WE ARE THE PASTE THE FUTUR BELONG TO THEM…
Março 10, 2008 at 5:09 pm
Caro Landofconfusion
Tenho visto com bastante interesse estes insinuantes videos do ” did you know”.
Mas no essencial, parece-me que nao passa de conversa de vendedor de material informatico.
Penso que se tenta passar uma ideia de um corte geracional profundo em que o mito do aluno bom selvagem dos eduqueses foi substituido por outro mito, o do ” mutante incompreendido” uma especie de Midwich Cuckoo actualizado.
Sim, eu tenho consciencia que estou a escrever isto devido a essa tecnologia, mas devemos estar vigilantes para evitar que esta se torne num fim em si, e nos escravos dela.
Março 10, 2008 at 5:15 pm
Muito seriamente:
-Alguém, de bom senso, estava à espera que a socretina corte (e seus acólitos!) viesse dizer que estava “arrependida” do mal que fez, dos seus “erros, má fortuna”…?
Só ingenuamente…
É verdade que levaram na “coroa”!
Na coroa da arrogância, da prepotência, da ignorância, da má educação, da falta de preparação política, da falta de conhecimento dos problemas da educação, na falta de cidadania, de formação democrática…na coroa da falta de respeito.
(É uma -das muitas estórias que ficarão fora do conhecimento generalizado do país – verdade a acrescentar à manifestação de 8 de Março que,nesse Sábado, de manhã, na Curia, a sra minisocretina levou uma “banhada”.)
Alguém estava à espera que quem pensou, discutiu, redigiu -com tradução simultânea em Inglês de primeira water- o Tratado de Lisboa se incomodasse com o que 100.000 “professorzecos” fizeram?
Só ingenuamente…
Março 10, 2008 at 5:17 pm
Ainda tenho mais do que uma turma em que quando peço para desligar os TMs só meia dúzia vai com a mão ao bolso…
Na escola pública há ainda muitas assimetrias
Se os mando ir ao Google ver algo relacionado com a matéria nem se lembram mas se os mando ver o site dos “nomes esquisitos” na aula seguinte dão-me conta do que se riram…
Março 10, 2008 at 5:31 pm
Pode ser que seja só para vender computadores, nuno mas olhando e reflectindo sobre os números e o que se debita com tal tecnologia a pergunta tem que se fazer:
A escola, como aquela que nós como alunos ferequentamos e a escola como ainda os nossos alunos frequentam está condenada so fracasso?
A minha resposta é que mais cedo ou mais os meios tecnológicos vão-nos ultrapassar e o pior é que nós, portugueses, nãoestamos minimamente preparados para isso. QUANTOS COLEGAS SABEM TRBALHAR COM O POWERPOINT, COM PODCAST, COM BLOGS, WEB PAGES, GOOGLE….
a MINHA IMPRESSÃO É QUE NÓS VAMOS NUMA CITROEN DYANE EAONOSSO LADO VAI ALGUÉM DE FERRARI.
Março 10, 2008 at 5:43 pm
Claro que os colegas que ainda não dominam as tecnologias já o deviam ter feito. Penso que se lhes afigura muito difícil. Se ousassem experimentar…Não sou lá muito boa nessas coisas mas já dou um jeito e foram os meus alunos que me motivaram: comecei a pensar que se qualquer um deles era capaz de me apresentar um power point como é que eu não sabia? Escrevi assim no google”como usar o power point”. Afinal era bem fácil: a net ensina tudo!
Março 10, 2008 at 5:46 pm
Março 10, 2008 at 5:49 pm
Já vi este video e é realmente interssante. Os prof de Matem+atica deviam-no ver,
Março 10, 2008 at 5:53 pm
Land of confusion;
Bom, verdade seja, que esta manifestacao dos 100000 professores, essa sim e que foi uma verdadeira “mudanca de paradigma”, que nao teria sido possivel sem o sms. Foi um verdadeiro “shift”, e curiosamente, de quem menos se esperaria, dos “retrogrados” professores,e desta vez com os sindicatos a reboque.
Este facto ainda nao foi referido, penso que por ser ainda muito cedo para tal. Os governantes e opinion makers ainda estao a digerir o “happening”.
Março 10, 2008 at 5:54 pm
“I guess they’re trying to humiliate us into getting their scores up….It’s all accountability, accountability, accountability. Why don’t they just strip you naked and make you stand on a table? That’s the same thing as putting your scores up there.”
http://nochildleft.com/2005/nov05triage.html
Março 10, 2008 at 6:37 pm
Land of confusion
É verdade que a humanidade está a viver uma aceleração exponencial em várias áreas: comumicaçaõ, ciência, arte, etc. Há mais artistas e cientistas vivos e atrabalhar neste momento, do que em toda a história humana. A humanidade nem sempre existiu (tem uns poucos 3 milhões de anos, o que é nada comparando com os 4500 milhões da história da Terra) e não vai existir para sempre. E isto é tão certo como eu agora estar aqui com um pó ao Rangel, que nem o posso voltar a ouvir…. creio que ainda no nosso tempo vamos assistir a uma maior ligação entre o corpo humano e as máquinas, envolvendo mesmo a aquisição de conhecimentos. Mas não tenho dúvida que mesmo então aquilo que os filósofos disseram e o que os escritores clássicos escreveram, continuará a ser pertinente. Assim como aquela célebre carta de um presidente americano escreveu
Março 10, 2008 at 6:45 pm
(bolas)
…sobre o que esperava da educação de um filho. Foi escrita para aí no séc XIX, mas será importante daqui a muitos séculos.
Uma praga tradicional rogada pelos chineses:
“Que vivas em tempos interessantes” no sentido de conturbados…é isso que estamos a viver. Mas não há que desesperar porque podemos sempre encontrar motivos de consolo.
Como naquela estória zen do monge que estava pendurado sobre um precipício, agarrado a uma raíz prestes a soltar-se; viu uma amora madura, comeu-a e sentiu uma grande felicidade.
Março 10, 2008 at 7:07 pm
È SÓ LER O ADMIRAVEL MUNDO NOVO ESCRITO NOS ANOS 30 E VER QUE O QUE LA ESTÁ ESCRITO TEM VINDO A ACONTECER
Março 10, 2008 at 8:07 pm
Penso que devíamos convidar jornalistas a passarem uma semana nas nossas escolas.
Março 11, 2008 at 12:22 am
Quanto às novas tecnologias, acho que não devemos cair num deslumbramento pacóvio. Continuará a haver excelentes professores que não as usam. Há tempos o director de um colégio em que os alunos têm boas classificações explicou que as noções básicas de matemática eram explicadas com materiais reciclados, garrafas e tampas. Nuno Crato já escreveu uma crónica no Expresso a denunciar os malefícios que podem advir de se pensar que é o recurso às novas tecnologias (computadres, máquinas de calcular…) que vai resolver os problemas do ensino.