Curiosidades sobre o sistema de avaliação dos professores
– Um sistema onde um “Mestrado” ou “Doutorado” não chega aos patamares mais altos da carreira (e são só 3,4% em Portugal) e um bacharel chega;
– Um sistema onde um “mestrado” ou “doutorado” pode ser avaliado por um licenciado ou mesmo bacharel;
– Sistema raro onde o “chefe” é o que tem 60 anos, ainda que exista um professor fora de série e ultra-competente com apenas 30 anos de idade;
– Sistema onde um Professor que nem sabe o que é o “Word”, vai avaliar os seus colegas no domínio das novas tecnologias em contexto educativo;
– Sistema onde um professor, de determinada disciplina, com média de 19 valores, nos exames nacionais, tem avaliação de “Bom” porque se atrasou uma vez 10 minutos; e o colega da mesma disciplina, na mesma escola, com média de 15 valores nos exames tem “excelente” porque teve a sorte de nunca faltar;
– Sistema fantástico onde um professor de Educação Física do 7º Ano vai avaliar as aulas de um colega de Desenho do 12º Ano;
– Sistema fantástico onde um professor de Informática do 9ºAno vai avaliar as aulas de um colega de Matemática do 12º;
– Sistema fantástico onde um professor de Moral do 8º Ano vai avaliar as aulas de um colega de Economia do 11º;
– Sistema onde o “Director” avalia um professor pela sua simpatia e disponibilidade para fazer o que lhe manda;
– blá, blá, blá ….
José Mendes
Março 10, 2008 at 12:10 pm
Estas “curiosidades” devem ser enviadas, por exemplo, para o BE e outros partidos que poderão fazer uso disso, nomeadamente no Programa “Corredor do Poder”.
Março 10, 2008 at 12:19 pm
A minha mulher é professora de Inglês e teria que avaliar uma colega de Espanhol, pois não tem em quem delegar.
Claro que não vai fazê-lo !!!!
Vai declarar-se incompetente na matéria !!!!
E venha lá o processo disciplinar, que morre à nascença !!!!
Se todos fizessem o mesmo …
Março 10, 2008 at 12:42 pm
Já tinha reflectido em muitos destes aspectos, tendo-os como fundamentais para esclarecimento do cidadão comum relativamente à avaliação do desempenho, tão manipulada por alguns “opinion makers” de trazer por casa. Parabéns por surgirem aqui muitos destes aspectos gritantes tão bem sistematizados por um colega.
Já se tinha comentado, em família, (para além do absurdo dos grandes coordenadores de departamento que passaram obrigatoriamente a perceber de uma diversidade de matérias), o facto de um docente com licenciatura passar a ser avaliador de um colega com mais habilitações- não tendo militares na família parece-me, por comparação grosseira, assistir à situação de um sargento a opinar sobre o desempenho de um oficial de mais elevada patente (mesmo correndo o risco de ser considerada elitista)…uma colega muito informatizada que, nos primórdios da era informática, deu formação a professores, conta a situação de alguém que, pegando no rato, o encostou ao monitor à espera que “algo” mudasse.Iremos ter, em alguns casos, avaliadores com este procedimento na era do grande choque tecnológico?
Março 10, 2008 at 12:52 pm
E nunca se fala num iten de avaliar positivamente quem propicia um bom ambiente de trabalho nas escolas, quem colabora com os colegas para a manutenção do bom clima.
Parece que muitos dos avaliadores teriam negativa neste aspecto fundamental.
Março 10, 2008 at 1:13 pm
Olinda (comentário 4).
Muito bem, Olinda. Nunca se fala disso. Pode-se ter um a boa classificação e ser-se um estafermo na escola. Não existe nenhum item que cubra esse aspecto.
Março 10, 2008 at 1:40 pm
Nem sempre o “chefe” é o dos 60 anos e alto lá, 30 anos e já a avaliar ? Achamos isto certo? Deus nos ajude. Eu não quero o Camboja.
Desculpem o atrevimento de perturbar a unidade mas não posso concordar. Há casos de pessoas mais velhas que estão diminuidas, deve ser acautelado o interesse dos alunos. Mas humilhar as pessoas, nunca na vida, eu não quero uma sociedade assim mesmo que o tal de 30 anos seja Einstein. Aliás Einstein mandaria isto tudo à…..
Março 10, 2008 at 1:42 pm
Todas estas curiosidades servem para provar que o argumento de que esta avaliação visa a excelência é uma mentira (perdão, inverdade ou informação com carácter vinculativo fraco) descarada.
Março 10, 2008 at 1:50 pm
Herr Macintosh , quanto a isso estamos de acordo, este sistema de avaliação é uma aberração desde o início, ou seja, desde o concurso a titular.
Março 10, 2008 at 2:24 pm
Olá ,
Estou a bebericar o meu café antes de me atirar aos testes, composições e fichas de recuperação que AINDA tenho em cima da secretária e não pude de deixar de pensar que estas questões são pertinente e simples o suficiente para que o grande público as perceba.
Sugiro que o colega que as elencou dê permissão para as difundir pela imprensa regional dos vários concelhos de norte a sul, bem como as ilhas.
Ao contrário do que alguns possam pensar, a maioria dos pais dos nossos alunos não lê o Público, o DN, o Expresso ou o Sol, mas folheiam assiduamente os jornais da sua terra.
Março 10, 2008 at 2:38 pm
Ninguém pretende diminuir ou humilhar colegas (comentário 6), mas sim criticar e agir relativamente a regras ditadas após selecção de titulares, parece-me, como a da aberração que consiste em avaliar áreas do desconhecimento dos avaliadores (o professor de E.Musical avaliar o colega de E.Física, etc.). E é nisto que reside uma das grandes irregularidades da avaliação do desempenho, entre outras.
Quanto à sugestão de se recorrer à imprensa regional para difundir o texto, a mesma parece pertinente, pois acredito que os jornais da terra chegam a muitas caixas de correio por assinatura e os assinantes lêem-nos com interesse (pelo menos é o que verifico no meu concelho).
Quanto à questão de processos disciplinares- comentário 2- que “não dão em nada”, também acredito que “quem não deve não teme”, sabendo de casos passados que não deram mesmo em nada por isso mesmo.
Março 10, 2008 at 2:53 pm
Eu sou, de formação de base Educadora de Infância,mas agora no quadro do ensino especial e porque não havia professor titular, sou coordenadora de Expressões em comissão de serviço. Vou avaliar 5º,6º, 7ºe 8º de EV, EVT, ET, EM e EF e mais os prof de ensino especial de pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclo. Vi no comentário 2 que há possibilidade de não avaliar. Por favor, explicam-me como posso fazer o mesmo?
Março 10, 2008 at 4:24 pm
Piaf:
Segundo entendi, talvez o autor do comentário possa elucidar melhor, a colega em questão, não se encontrando apta a avaliar aulas de Espanhol por não possuir formação académica para tal, irá fundamentar por escrito a sua posição ficando a aguardar resposta e não dará início ao processo de avaliação dessas aulas, o que faz sentido.A situação é aplicável a qualquer docente indigitado para avaliar disciplinas que não fazem parte da sua licenciatura (nem profissionalização, como é evidente). Se muitos(o desejável seria todos) fundamentarem com propriedade tais posições, poderemos aspirar a uma avaliação mais séria e plausível.
Março 10, 2008 at 5:13 pm
Bem sei que a idade nem sempre é sinal de sabedoria. Mas quanto a mim,este exemplo dos 60 e dos 30 anos não colhe. Primeiro há “o saber de experiência feito” de que nos fala o Poeta, e depois, em todas as profissões, e já que é aventado o exemplo da carreira militar (em que, no mesmo posto militar, um simples dia de idade a mais é um posto), se houver um tenente de 30 anos super-competente deverá ser este a assumir as rédeas do comando de uma divisão passando o general a comandar o simples pelotão.
Há um factor a considerar: na hierarquia militar (e eu que fui oficial miliciano sei do que falo) a ascenção na carreira é feita com exames de promoção: de tenente a capitão, de capitão a major, de coronel a oficial general. E no ensino?!… E por aqui me fico.
Março 10, 2008 at 5:18 pm
Começo a ficar preocupado com o sentido, quase único, de algumas críticas. Eu que pensava que o sistema de avaliação punitivo era todo ele injusto. Sou essa coisa de “titular” e até às vezes me considero também “tritular”. É mesmo obrigatório ver o grau das habilitações dos membros dos conselhos executivos que farão certamente parte de qualquer sistema de avaliação? Quando se pretendem fazer listagens críticas e divulgá-las é necessário abrir mais o leque. Já coloquei noutro post a questão do inspector na sala de aula. Quanto a este assunto não se justificam as preocupações anteriores? Continuo a pensar como Vasco Pulido Valente.
Março 10, 2008 at 5:25 pm
Inserto no post “Sim, Senhora Ministra”, de 9 de Março:
“Infelizmente, estão a fechar-se demasiadas coisas sérias dentro das gavetas do esquecimento. Por condescendência, aceitei como muito importante o trabalho de Taylor. Provavelmente, alguém teria de desenvolver métodos científicos aplicados ao trabalho como forma de melhorar a sua organização. As teorias das relações humanas vieram depois transformar de forma que parecia irreversível as organizações. Assiste-se hoje a um dos mais extraordinários retrocessos de que há memória: o neotaylorismo, ainda por cima aplicado às relações sociais, medindo-as, cronometrando-as, destruindo-as. A escola é, mais do que tudo, um mundo de relações sociais. A participação e observação dessas relações por inspectores, por exemplo, irão alterá-las sem apelo nem agravo. É inacreditável ninguém ter dado por isso. E que este assunto seja completamente descurado.
PS: Muito gostaria que Atento visse este texto. E também gostaria de dizer que a minha área não tem rigorosamente nada a ver com Sociologia.”
Março 10, 2008 at 5:40 pm
Na apreciação da maioria dos (e das) colegas com quem converso, o que fica como conclusão é que este modelo de avaliação não é mais do que um estágio permanente até ao dia da aposentação. Já há cerca de dois anos coloquei a seguinte questão: no ano em que forem completados 65 anos e 40 de serviço (para quem aguentar, e eu sou dos que não vão aguentar) os professores ainda serão obrigados a frequentar acções de formação e a ter aulas assistidas? A divisão da carreira em duas, que impede os mais novos de serem coordenadores e, por isso, mais dinamizadores da escola, foi outro colossal erro. Tudo isto são outros braços deste “monstro” que não podem ser colocados à margem de qualquer listagem.
Março 10, 2008 at 6:35 pm
Ó colegas, de uma vez por todas: sempre que tentarem achar uma lógica em todo este processo, pensem – DINHEIRO, DINHEIRO, DINHEIRO – POUPAR, POUPAR, POUPAR…
Tudo o resto passa de imediato a fazer sentido!
Março 10, 2008 at 7:01 pm
Parece-me que muitos estamos a afirmar o mesmo, só que por vias diferentes.
1- os professores com mais habilitações académicas tiveram de “fazer exames” e alguns bastante duros, perante júris implacáveis, assisti a diversas defesas e sei ao que me refiro;
2- a questão das habilitações de outros órgãos da escola também faz parte de muitas reflexões críticas, pois se até o futuro director, órgão unipessoal de liderança forte,não carece de grande currículo científico (o que não sucedia com o reitor do Estado Novo, atenção não sou saudosista)…
3- todos sabemos que a preocupação essencial- apesar do que passa para a opinião pública através da comunicação social- é poupar e não trazer qualidade, sendo esse um dos principais factores da nossa -e aqui falo em nome de muitos- indignação, tendo o comentador antecedente toda a razão, embora o preocupante é o que nos está a custar tal poupança, chegando-se ao enxovalho da imagem profissional.
Em todos estes anos como directora de turma, posso afirmar ser irrisória a percentagem dos que se aproveitavam do sistema, recorrendo às “tais baixas médicas” (refiro-me à experiência pessoal e ao preenchimento das aulas previstas/aulas dadas nas quais nunca verifiquei discrepâncias significativas).