Chegado por mail e enviado pelo autor que também o enviou para o próprio jornal.
O Editorial do dia 5 de Março, sendo texto de opinião, não deveria dispensar de conhecer alguns factos que comenta. Opinar sobre o que se conhece mal, só por sorte atinge o centro da questão.
O Inglês “desde tenra idade”, tal como as outras actividades que ocupam os meninos até às 17:30h não são aulas, não têm presença de professores e, como tal, não representam mais trabalho e mais esforço para nenhum docente deste país. Para que perceba, não é mais escola, é um ATL do Estado, orientado por animadores a recibo verde que não precisam de ter habilitações específicas para o que fazem. Quanto ao nível remuneratório, ficava bem pagar esse trabalho pelo menos ao preço de uma empregada de limpeza. Mas isso é só uma opinião solidária de um cidadão para com os animadores.
Os professores aceitam contrariados esses prolongamentos? Só se for como cidadãos, já que profissionalmente não são chamados ao caso. Pessoalmente, tenho dúvidas metodológicas que seja óptimo manter as crianças no mesmo espaço das 8:30h até às 17:30h, e que essa massificação seja um progresso. Mas reconheço que facilita a vida a muitos pais.
Em relação às substituições, o Estatuto da Carreira Docente definiu-as como trabalho extraordinário. Como essa norma já estava em vigor quando me tornei professor, e como nem sequer me foram atribuídas horas de substituição, estou duplamente à vontade para dizer que a Lei é para todos e também abrange os patrões. Vê algum mal em que se cumpra a Lei?
Sobre os dados positivos do relatório agora publicado, seriam boas notícias se não coincidissem com as avaliações abaixo da média nos estudos da OCDE. Uma coisa é o resultado estatístico, outra coisa é o nível efectivo de conhecimentos dos alunos. Porque, em última análise, não é o professor que define os critérios para o sucesso dos alunos, mas sim o Ministério. E o que para a OCDE é medíocre pode ser perfeitamente aceitável para o Governo de Portugal. Realmente parece-me muito optimismo falar em “conquistas irreversíveis”, mas “opiniões não se discutem”.
João Oliveira, professor
Março 5, 2008 at 11:41 pm
Os professores estão a avisar…!
Março 5, 2008 at 11:49 pm
Os professores estão a avisar…!
A Devida Comédia!
Por Miguel Carvalho
Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um
pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo
Criancinhas
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em
festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às
litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito
como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe
o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta
metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la
porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com
os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à
frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência
meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em
sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são
«uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha
que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica
traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as
criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter
do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem
dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho
sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na
casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas
ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas,
das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao
hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos
congressos e debates para nos entretermos.
Artigo publicado na revista VISÂO online
Março 6, 2008 at 12:04 am
Só uma pequena nota:
na minha escola, quem “dá” as AEC’s são (todos) professores licenciados. Mas… atenção… não são dos quadros da escola… são pagos pela Câmara… a recibo verde. Por exemplo, a Prof..ª que dá Desporto foi mãe recentemente… e só esteve 1 mês de “baixa por maternidade” porque… não recebia um tostão que fosse se ficasse 4 meses com o bebé!
Março 6, 2008 at 11:40 am
no agrupamento a que pertenço as AECs são todas dadas por professores licenciados, também pagos pela Câmara e também sem condições…
Março 6, 2008 at 12:09 pm
De facto os professores das AEC são professores colega…não são animadores!!!!!!!!!!!!!!!
Embora mal pagos habitualmente e sem as regalias devidas pois “estão a recibo verde”.