Abandono Escolar
Fenómeno social ambivalente e mais do que multifacetado, problemático e a necessitar uma intervenção urgente, seja na perspectiva dos alunos, seja na dos professores, conforme adiante se demonstra e explicita.
Abandono escolar discente – flagelo social extremamente grave, em especial porque se reflecte em estatísticas incompreensíveis para um pais da União Europeia. Perante a sua permanência tornou-se imperioso desenvolver estratégias eficazes para o combater e erradicar. Como políticas sociais de apoio aos grupos mais desfavorecidos e vulneráveis da população ao abandono escolar precoce e à inserção no mercado de trabalho são morosas e onerosas para o erário público, este Ministério optou por promover uma abordagem diferente do fenómeno que passa pela intervenção na representação do fenómeno. Como as estatísticas são números inscritos em folhas brancas ou suportes digitais e mudá-las é uma questão relativamente simples, se encarada do ponto de vista administrativo, considerou-se adequado e especialmente apropriado alterar a forma como abandono escolar é registado. Dessa forma legislou-se de modo a inviabilizar que situações até agora consideradas como abandono o continuassem a ser como, por exemplo, o excesso de faltas. Uma outra metodologia passa ainda por tornar a avaliação do trabalho dos docentes dependente em parte do abandono escolar dos seus alunos, mesmo quando estes não são seus parentes ou quando estão com eles apenas 90 minutos por semana. A ideia é intimidar de tal modo os professores que deixem de marcar faltas aos alunos absentistas ou então que se ofereçam para os transportar diariamente no trajecto casa-escola-casa, com fornecimento gratuito de lanche a toda a família. assim se espera reduzir bastante as estatísticas do abandono escolar num ou dois anos lectivos, mesmo se na prática ele continuar nos níveis de sempre. A ideia é similar àqueloutra de eliminar dos ficheiros do IEFP os desempregados a partir de um determinado tempo de registo e depois anunciar que o número de desempregados diminuiu, mesmo quando a taxa de desemprego aumentou.
Abandono escolar docente – é todo um outro problema e insere-se em toda uma outra dinâmica. Neste caso incentiva-se o abandono escolar do maior número possível de docentes, em particular daqueles que se encontram nos escalões melhor remunerados da profissão. A ideia é aumentar-lhes a carga de trabalho semanal sem contrapartidas financeiras (de 22 para 25-27 horas), congelar-lhes a progressão durante anos a fio (através do congelamento propriamente dito ou adiando a progressão de acordo com novas regras). Quanto aos que não podem progredir mais, a ideia é massacrá-los com trabalho burocrático em troca de um mero título e esperar que eles peçam a aposentação. Consideram-se como excepções a respeitar (e a classificar como Excelentes pelos inspectores) os chamados adesivos (ver futuro verbete correspondente) No caso de não saírem pelo próprio pé, a outra ideia é obrigá-los a sair, através de reordenamentos curriculares (ou da distribuição da carga horária das ACND) que permitam eliminar horários num primeiro momento, de forma a obterem-se horários zero num número apreciável, mesmo que mais tarde venha a ser necessário contratar docentes em início de carreira para essas mesmas horas que voltam a surgir passados uns anos. Também existe ainda a hipótese de colocar em mobilidade especial todos os que tenham maleitas físicas ou psicológicas, mesmo as decorrentes do exercício da profissão, empurrando-os para outros empregos no Estado ou, se preferível, para aposentações compulsivas com metade ou pouco mais do salário original.
Fevereiro 6, 2008 at 4:45 pm
Nem mais! Perfeito, perfeito…
Temos ou não temos governantes perfeitos? Pelo menos já sabemos que leram a sebenta-resumo do Príncipe de Maquiavel!
Fevereiro 6, 2008 at 5:13 pm
Excelente. E o glossário ainda vai “ab”…
Fevereiro 6, 2008 at 7:32 pm
Porque não oferecer incentivos aos professores que oferecem serviços excepcionais aos alunos, com sucesso garantido e resultados de acordo com os objectivos, na mesma base dos prémios atribuídos aos médicos pelos transplantes?
€ 250 000 para um sucesso a 100%
€ 100 000 para um sucesso a 75%
€ 1000 para um sucesso a 50%
€ um bilhete para a Ópera de Emmanuel Nunes para um sucesso na casa dos 25%
Fevereiro 6, 2008 at 7:44 pm
Ironia amarga a que se encontra presente nas definições … Quanto ao abandono escolar discente, saliento -ainda em letargia- as expressões “mesmo quando eles não são seus parentes ou quando estão com eles apenas 90 minutos por semana”… ir a casa não sei se será de louvar, pois ainda acabamos a fazer o pequeno almoço ou a preparar o banho… e descobrir todos os endereços sem veículos com GPS?
Relativamente ao abandono escolar docente – agora sem sarcasmos- receio o crescimento de horários zero. Com a extinção do DL 319, as turmas irão certamente ser compostas por um maior número de alunos, aspecto que, a ser reforçado pelos “desincentivos” governamentais à natalidade, se traduzirá em proliferação de horários zero.
Será conveniente a criação de acções de formação em pastelaria ou arbitragem, entre outras , a serem frequentados pelos ex-vocacionados em horário pós-laboral.
Fevereiro 6, 2008 at 8:14 pm
Esta primeira entrada do GEME s’annonce de bon augure.
Interessante ter-se lembrado de assinalar aquilo a que chama de abandono escolar docente, não se tendo esquecido de todo(a)s o(a)s que, doentes, são tratado(a)s como se apenas números fossem e cujo único destino parece ser o caixote do lixo, num beco sem saída.
Um país tão preocupado em varrer as alamedas e pintar as fachadas mas sujo, podre e a ruir por dentro.
Fevereiro 6, 2008 at 8:15 pm
lol…lol…
“A ideia é intimidar de tal modo os professores que deixem de marcar faltas aos alunos absentistas”…..
Eu já ouvi alguém dizer que é o que passará a fazer. As faltas de atraso, essas, também acabarão….
Fevereiro 6, 2008 at 8:22 pm
Ohhh! Fiquei triste porque não colocaste o cartoon que te mandei para ilustrares este artigo.
Parabéns. Está mesmo bom este teu primeiro tema do glossário.
Fevereiro 6, 2008 at 8:27 pm
E que tal cursos de sapateiro(a)s engraixadore(a)s ? Com a quantidade e frequência de sapatos a ser lambidos, não faltará trabalho…
Fevereiro 6, 2008 at 8:30 pm
…engraxadore(a)s…
Fevereiro 6, 2008 at 8:36 pm
Aqui neste blogue nota-se mesmo que damos graxa aos nossos superiores como faz o Jorge, não é Jorge Figueiredo?
Fevereiro 6, 2008 at 8:37 pm
Olinda, é já a seguir.
Fevereiro 6, 2008 at 8:39 pm
Aqui neste blogue nota-se mesmo que damos graxa aos nossos superiores hierárquicos como faz o Jorge, não é Jorge Figueiredo?
Fevereiro 6, 2008 at 8:44 pm
*****, parabéns!
Fevereiro 6, 2008 at 9:11 pm
Olinda, um reparo
Não dou graxa a quem quer que seja.
Saudações
Fevereiro 6, 2008 at 9:30 pm
Saudações ao Jorge que veio chamar graxistas aos outros cheio de boas intenções, é claro…
Fevereiro 6, 2008 at 9:43 pm
Olinda
Inconscientemente estava a entrar no espírito daquela iniciativa sobre o empreendedorismo.
Peço desculpa a quem se sentiu atingido, mas pensem na janela de oportunidades que estas medidas do ME abre…
Fevereiro 6, 2008 at 10:11 pm
EFEMÉRIDE- O que mudou? (é que a mera sugestão à não marcação de faltas …)
Conselho de Educação chumba plano contra abandono escolar
8 Julho 2004
O Conselho Nacional de Educação prepara-se para chumbar o Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar, apresentado pelos ministros da Educação, David Justino, e da Segurança Social e do Trabalho, Bagão Félix, noticia esta quinta-feira o Diário de Notícias.
O parecer, que será votado esta quinta-feira no Conselho Nacional de Educação, classifica de medidas soltas e sem qualquer objectivo linear o proposto pelos ministros no plano apresentado ao Conselho.
Ainda de acordo com o parecer do Conselho, o plano limita-se a apresentar uma soma de medidas soltas, algumas sem pertinência para solucionar o problema, e não define um objectivo preciso e claro.
Na opinião dos conselheiros que estudaram o plano, este não esclarece a forma como a tutela pretende combater o fenómeno do abandono escolar e incentivar os alunos a completar a escolaridade mínima obrigatória.
Fevereiro 6, 2008 at 10:50 pm
Olinda, eu acho que a tua conversa com o Jorge está trocada.
Um está a falar de alhos e a outra de bugalhos.
Fevereiro 6, 2008 at 11:20 pm
Entretanto a ver o Dexter e a gostar. E a sonhar…
Obrigado pela sugestão aqui há uns dias, Paulo
Fevereiro 6, 2008 at 11:21 pm
Eu estou a gravar e depois vou deliciar-me.
Fevereiro 6, 2008 at 11:29 pm
As minhas desculpas ao Jorge, percebi que nos estavas a chamar graxistas.
Confundi-te com os confapianos que vêm aqui mandar bocas.
Fevereiro 6, 2008 at 11:37 pm
Olinda
Tudo bem :))
É uma das razões porque não comento mais… Por vezes não consigo encadear eficientemente as ideias.