À luz do que já aqui ficou escrito e citado em relação ao que o Ministro Marçal Grilo achou do movimento associativo de pais quando chegou ao cargo em finais de 1995, a leitura do protocolo estabelecido pouco mais de um ano depois com a Confap suscita-me algumas observações que julgo evidentes:
- Alguém precisava, à época, de saber usar o termo cláusula e não claúsula.
- O ME pretendia que a Confap organizasse de forma compreensível e estruturada o MAP a nível nacional, tendo encarregue aquela organização de o fazer, de modo a legitimar a sua presença como parceiro reconhecido no contexto das negociações do ME (cláusula 1ª).
- Para esse efeito o ME comprometia-se a financiar a Confap com uma quantia simpática todos os anos lectivos, desde que não pedissem mais nenhum apoio ao dito ME (cláusulas 2ª e 3ª), o que não invalidava que obtivessem outras fontes de receita (digo eu…).
- A Confap para existir e manter o financiamento precisaria de prestar contas anualmente ao ME (cláusula 4ª), ficando nas mãos deste a definição do montante do ano seguinte, caso o desempenho da Confap não fosse o mais satisfatório no ano anterior (cláusula 7ª).
Para além destes pontos que julgo incontroversos, eu acrescentaria que fica por saber se existiu algum protocolo adicional (como se prevê na cláusula 5ª) e se tudo isto não demonstra de forma clara e transparente que a Confap, nos termos em que passou a funcionar a partir de 1997, se prestou a uma situação de completa subserviência ao ME em termos de autonomia financeira e se, em termos objectivos, a Confap não se assumiu como uma espécie de instituto privado com capitais públicos, cumprindo uma missão definida pelo ME e não um plano de acção autónomo.
E é isso que está em causa quando, dez anos volvidos, se analisa a acção da Confap, alegadamente como parceiro negocial do ME e em prol das “famílias” mas, quase sempre, como um eco das posições do Ministério ou com (o)posições de tipo coreográfico.
É a minha opinião. Venha quem melhor disto saiba e perceba e demonstre-me que assim não é, que a Confap conseguiria sobreviver sem os subsídios governamentais e que uma acção contestatária das políticas do ME não poderia acabar com represálias como as exercidas sobre os sindicatos de docentes que viram os seus quadros destacados razoavelmente emagrecidos.
Não adianta atacarem-me pela via comparativa – ah, mas os sindicatos isto ou aquilo – porque não sou sindicalizado, também já aqui critiquei repetidamente a sua (in)acção – fruto do anestesiamento praticado também neste mesmo período dos anos 90 – e o que agora está sobre a mesa é este e não outro assunto.
Novembro 20, 2007 at 11:34 pm
Caro Paulo
É por estas e por outras que a blogosfera é hoje um espaço de liberdade e de crítica alternativo a uma comunicação social reverente e subserviente (e não admira, por isso, que os poderes tentem amordaçá-la, como está a acontecer em Itália). O que o Paulo fez, ao pôr a nú a verdadeira natureza da CONFAP, é puro serviço público. Só temos de lhe agradecer.
Novembro 21, 2007 at 12:02 am
Excelente Paulo! 🙂 [concordo plenamente com o Mário Artur]
Novembro 21, 2007 at 8:52 am
Caro Paulo:
Só assim se percebe e se explica o comportamento do Sr. Albino Almeida (A voz do dono!!!).
Novembro 21, 2007 at 9:05 am
Mas existem mais questões por esclarecer.
Poderá um EE de alunos de um concelho ser dirigente em outro?
Será legítimo que a Confap faça empréstimos a algumas Federações?
Que este protocolo sirva como justificação para não atribuir verbas a outras Federações?
Muitos assuntos pendentes sobre um “parceiro” que funciona como super-estrutura representativa de um grupo de pressão que tem um peso desproporcioonado nas preocupações do ME e de alguma comunicação social, relativamente a quem efectivamente representa.
Mas aqui há o direito ao contraditório e espero pela réplica de quem por aqui já passou.
desde que não nos volte (o plural estende-se para incluir os comentadores) como “pulhas”.
Novembro 21, 2007 at 9:48 am
Junto a minha voz à dos que anteriormente comentaram, atendendo à importância deste post.
Trata-se de uma situação opaca que gostariamos de ver esclarecida pelas partes envolvidas, pois todos somos contribuintes. Quanto à questão ética a colidir com a profissão docente- vide debates televisivos e recortes de imprensa- já outros se têm vindo a pronunciar, e bem, nos últimos dias e neste mesmo espaço.
Novembro 21, 2007 at 11:06 am
Bem podem os autores das CLAúSULAS vir aqui defender-se, acusando os intervenientes neste espaço de também cometerem alguns erros naquilo que escrevem.
Só revelarão ainda mais debilidade intelectual ao não conseguirem distinguir um erro de teclas, ocasional e correctamente escrito logo a seguir, de um erro que ignorantemente se repete em todas as CLAúSULAS
Novembro 21, 2007 at 5:28 pm
Ainda a propósito de CONFAP:
Já por algumas vezes questionei a CONFAP sob a forma de “gerir” a minha situação de pai/professor. Vejo, frequentemente, que uma das grandes “lutas” destes pais é o direito a poder faltar aos seus empregos para acompanhar o percurso escolar dos filhos. Tudo parece estar correcto, excepto quando pai é professor…
Novembro 21, 2007 at 5:48 pm
Exactamente Pedrotildes, é o fenómeno psicológico da atracção/repulsa. Mas sobre isso ainda haveremos de discutir e comentar muito mais por aqui. É uma questão de tempo e oportunidade.
Mais um excelente post com igual abordagem feita pelo Paulo Guinote. Concordo com a tese da falta de independência e liberdade que a Confap não tem ao receber o subsídio do ME a quem tem que prestar contas e muitas vezes defender. Aliás há muitas intervenções da Confap em que parece esta estrutura deixar-se utilizar pelo ME, nomeadamente na relação com os professores e outras em que a defesa das políticas educativas deste governo é levada aos limites.
Enfim, na minha acção procurarei lutar pela independência e liberdade do movimento de encarregados de educação quer como professor quer como membro de uma associação de pais que não o deveria ser mas somente associação de encarregados de educação.
Reafirmo o que escrevi em post anterior, penso ser possível a Confap prescindir do sujbsídio que lhe é atribuído pelo ME.
Novembro 21, 2007 at 8:23 pm
Obrigada ao Paulo e a todos os colegas que tão bem transmitem o que se vai passando.Tenho a certeza que muitos de nós nem imaginavam como certas coisas se vão tecendo nos bastidores.
E não me refiro só à Confap.O caso do advogado contrado duas vezes nem ao diabo lembra…
Novembro 21, 2007 at 11:11 pm
Mais uma vez questiono: qual é verdadeiramente a percentagem de EEs que as associações de pais representam em todo o país e nomeadamente na CONFAP? Só de me lembrar que na minha escola a associação de pais foi eleita com 12 votos sendo 11 dos próprios da lista, isto diz tudo! Cadé os outros?
Não está em causa a sua existencia, o que está em causa é grandeza da sua visibilidade. Se formos ver não passam de um «tigre de papel» com direito a opinar!
Novembro 22, 2007 at 9:06 pm
Contratado em vez de contrado.Ando mesmo a ficar cansada…
Novembro 23, 2007 at 7:45 pm
[…] A ausência, ao fim de vários dias, de uma reacção mais ou menos indignada a este, este e mais este post sobre o financiamento da Confap pelo ME com base no mítico […]
Janeiro 28, 2008 at 11:43 pm
Boas
Ora muito bem andava eu à procura de Informações sobre o movimento associativo dos pais,,,e encontrei este blog, muito interessante e elucidativo, enfim…ando à 3 anos a ser “enganada”, sim porque pertenço a uma associação e federação de pais,e considero-me extremamente activa na defesa dos direitos dos mais jovens, e depois de ter lido estes comments, sobre a confap, sinto-me realmente decepcionada ao verificar que a “corrupção” chegou ao seio das familias …esclarecida …
Março 6, 2008 at 3:33 am
[…] o que escrevi em Novembro passado no dia 19, 20 (o post da divulgação da minuta do protocolo), novamente 20 (sistematização de ideias e opiniões) e depois dia 29, entre outros […]