A leitura dos volumes clássicos do Sim, Senhor Ministro ou Sim, Senhor Primeiro-Ministro, assim como o visionamento da série permitem-nos perceber como algumas técnicas são imorredoiras na vida política, quando se trata de mascarar algo que incomoda, em especial factos que se possam traduzir em notícias desagradáveis ou estatísticas embaraçosas de exibir.

Este Governo não é novo nesta matéria, bastando lembrar as constantes mudanças de critérios na contabilização do desemprego ou na determinação do custo/nível de vida. O INE muda os critérios a cada triénio ou quinqénio sem que se percebam as vantagens; já o IEFP parece mudá-los semestralmente, por forma a que, a cada subida oficial do desemprego de acordo com os cálculos do INE, corresponda uma equivalente quebra no número oficial de desempregados oficialmente reconhecidos pelo IEFP.

Outra área interessante de acção é a da Justiça e da Segurança Pública. Reordenando as categorias de crimes ou atirando para fora do Código Penal certos actos, reduz-se a criminalidade. Assim como mudando o Código de Processo Penal, em matérias como o cúmulo jurídico, penas de 25 anos passam para 8. Simples e eficaz.

Na área da Educação a estratégia não é complicada e está actualmente numa fase já bem avançada embora, após uns 15 anos de prática, ainda se note alguma dificuldade em fazer desaparecer o que não interessa para debaixo do tapete ou em moldar a realidade de forma a caber nos números desejados.

Um caso é o da violência escolar. Nada como criar um Observatório destinado a recolher os dados em grelhas de classificação que quase fazem sumir as ocorrências no limbo sebastiânico do quadriculado. Porque depois é subjectiva a classificação da bolachada dada por um aluno no outro que o fez parar ao hospital, afinal pode ter sido apenas uma brincadeira que correu mal.

Mas a questão do (In)Sucesso e do Abandono é agora a mais premente para este Governo apresentar resultados e, como tal, eu presto-me a oferecer cinco ideias, nada originais, mas que podem ajudar a completar o esforço colocado pelo ME nos recentes pacotes legislativos.

Vamos lá:

  1. Considerar como classificações positivas todas as que forem superiores a Zero. Afinal, dita a rigorosa e exacta Matemática que negativos, negativos, só são os números inferiores a zero. Portanto, há séculos que laboramos num erro conceptual ao considerar como insuficientes classificações que são evidentemente positivas.
  2. Determinar que o Abandono Escolar não existe, pois quem não vai à escola não pode abandoná-la. O que poderá existir é um Tratamento Recreativo da Educação em Tempos Alternativos ou, para os menos conhecedores desta linguagem técnica, a TRETA. Assim poderemos ter uma grande quantidade de TRETA mas nada de Abandono.
  3. Fustigar publicamente os professores que insistam em protestar contra as medidas ministeriais e em considerar que existem alunos sem condições para transitar de ano, mesmo que não saibam escrever o seu nome aos 15 anos, sem outra razão aparente que não seja o desinteresse-iô-tá-se bem, man ou a certeza do emprego garantido graças ao facto do papá ser administrador daquela empresa que presta assessoria a uma outra que trata dos subsídios europeus e está muito bem relacionada com o chefe de gabinete do senhor ministro.
  4. Eliminar os quadradinhos destinados ao registo do insucesso ou abandono escolar nos impressos estatísticos oficiais. Fazer algo parecido com os formulário a preencher nas escolas, nos quais a classificação qualitativa mais baixa deve ser a de Satisfaz/Suficiente. Em termos quantitativos já vimos que acima de zero é positiva.
  5. Lançar uma grande campanha de certificação das competências dos cidadãos de qualquer idade com o título de Para Lá de Novíssimas Oportunidades. Os candidatos enviam um pequeno trabalho por qualquer meio – o fax caiu em desuso, usem o mail ou sms se possível ou peçam a quem saiba para o fazer por si – com a respectiva identificação, certificação desejada (grau académico, especialidade), um slogan alusivo ao projecto em inglês técnico com 2 a 8 palavras e um envelope selado e auto-endereçado para receberem o respectivo diploma.

Modéstia à parte eu acho que estas são ideias que estão um passo ligeiramente à frente – mas só ligeiramente – das políticas do ME, pelo que nem cobrarei direitos de autor, cedendo-as em nome do bem público e da felicidade do Portugal Inovador, Certificado e Autenticado, o que dá sempre PICA, seja qual for a cor do Governo.