A bolha protectora do ME na comunicação social vai-se a pouco e pouco desgastando e a agenda já deixa em alguns momentos e espaços de ser controlada a partir do gabinete de imprensa da 5 de Outubro ou de S. Bento.
- Neste fim de semana temos no Diário de Notícias e no Expresso notícias sobre os desmandos verbais da senhora da DREN contra o Presidente de Câmara de Vieira do Minho, sacerdote de ocupação, a quem pessoa tão rigorosa contra os desmandos verbais de alguns funcionários mandou várias vezes «voltar para a sacrostia». Questionada sobre tais factos, aprece que a única justificação disponível é o espanto por só agora a pessoas se ter queixado do ocorrido. Não se desmentem os disparates, apenas se mostra espanto por alguém – certamente com outros hábitos de civismo – não ter feito imediatamente alarido em torno do assunto.
- Ainda no Expresso lá surge o debate em torno dos critérios de correcção das provas de aferição, neste caso de Matemática, sobre os quais não escrevi porque não quero ser trucidado por não ser especialista na matéria. Mas é verdade que tenho ouvido os meus colegas, entre o aturdido e o hilariante, descreverem como o que está manifestamente errado se torna certo e como, afinal, se calhar a História ou a Língua Portuguesa são disciplinas que tendem mais para a exactidão do que a Matemática. Porque há situações demasiado ridículas, para serem justificadas com critérios da pureza da aferição. Se de algo se pode ter a certeza é que esta aferição está toda contaminada pelas concepções muito específicas de alguns grupos de especialistas de gabinete sobre o assunto.
- No caso do Sol surge uma matéria sobre o enésimo remendo ao currículo do Ensino Secundário, que actualmente é uma manta de retalhos incoerente, a cada mês que passa sujeita a nova cosedura mal alinhavada. O que falta explorar devidamente – e por isso tanto tenho adiado uma leitura sobre este absoluto desnorte – são as consequências profundament nefastas da falta de rumo da tutela para o Ensino Secundário tanto na vida de alunos, como de professores e escolas.
- No caso dos alunos, as decisões sobre as áreas a seguir no 10º ano são muitas vezes condicionais, porque não se sabe como serão verdadeiramente os currículos e cargas horárias ou se as próprias escolas estarão em condições de oferecer o que era suposto oferecerem. Estamos em Junho e tudo suspende a respiração a cada nova fornada de legislação, recomendações ou esclarecimentos.
- No caso dos professores porque estas alterações têm influência directa na definição dos horários e da carga lectiva disponível para os professores sendo que, em nome da estabilidade dos docentes, as colocações trianuais dos Professores de Quadro de Zona Pedagógica só o são se puderem ser ou se as escolas souberem gerir as coisas, enquanto os próprios lugares dos Quadros de Escola podem subitamente evaporar-se num redondo Zero, implicando mudar inesperadamente de vida a partir do próximo ano.
- De tudo isto se percebe que na generalidade das escolas com Ensino Secundário, para além disso sobrecarregadas agora com os Exames do 9º ano e as caricatas Provas de Equivalência à Frequência, não falando no concurso para titulares, existe uma situação de razoável desnorte e expectativa, porque em meados de Junho muito falta saber sobre a preparação do ano lectivo seguinte. Porque não se conhece exactamente com que cargas horárias vão ficar os vários Departamentos, como vai ser possível gerir isso com as implicações da entrada em vigor do sistema da carreira dupla, com as consequências em termos de gestão de cargos, assim como é quase impossível elaborar turmas com base em escolhas hipotéticas sobre realidades ainda em construção.
Não sei bem o que terá andado a ser feito nos meses anteriores, mas é espantoso como toda esta falta de planeamento e calendarização oportuna das decisões sobre o Ensino Secundário (tira daqui as TIC, coloca ali a Ed. Física) ainda continua a passar ao de leve na nossa imprensa, em especial nos opinadores que tão apressadamente acusam os professores de serem a causa de todos os males e ineficiências do sistema.
A verdade é que o próximo ano lectivo está a ser preparado tarde e a más horas, por causa dos atrasos da tutela em questões essenciais. E para além de tarde está a ser mal preparado, porque o currículo do Ensino Secundário – ou o do Básico – não pode ser rearranjado e retocado a cada ano que passa, ao ponto de se tornar uma incoerência ambulante e uma razão evidente para o descalabro educativo dos alunos que chegam às Universidades. O que vale é que com licenciaturas à bolonhesa tudo isto até passará quase despercebido. E até já se podem enviar trabalhos por amil e tudo, que o faz está a cair em desuso.
Junho 9, 2007 at 1:20 pm
“os próprios lugares dos Quadros de Escola podem subitament evaporar-se num redondo Zero, implicando mudar inesperadamente de vida a partir do próximo ano.”
Ora nem mais. E no entanto, continua a ser voz corrente dizer “isso não é para nós, eles connosco não podem mexer”.
Era uma vez uma nêspera.
Junho 9, 2007 at 3:27 pm
E crê que foram parar as boas mãos?
Junho 11, 2007 at 12:05 am
Já percebi que discorda radicalmente de toda a política do Ministério da Educação, mas por favor não perca o seu espírito crítico por causa dessa sua posição. As reportagens do Expresso e do Sol são duas puras mistificações, mais parecendo propaganda política anti-Ministra. A primeira contem incorrecções graves (no essencial os critérios do GAVE são correctos e adequados). A segunda reportagem é uma invenção pura (como podem os alunos ficar mais desorientados do que antes se todas as opções anteriores continuam a existir – só houve fusão de duas vias)? As alterações deviam até ser mais profundas, mas são todas perfeitamente justificadas! Cuidado…
Junho 11, 2007 at 1:13 am
Se existir “propaganda política anti-Ministra” tenho a certeza que dentro de pouco tempo deixará de existir…
Estando eu no 3º ciclo gostei de saber pelo jornal que os alunos vão ter TIC no 7º ano. Espero pela próxima edição do jornal, ou radio ou televisão, para saber como vai ser feito. Vai ser na AP? No EA?
Humm??? Já sei!!
Estou a querer saber demais. Professor não é pago para pensar!!
Junho 11, 2007 at 7:54 am
Meu caro Jaime Silva,
Conheço os critérios do GAVE para as Provas de Aferição desde 2001 e desde essa data que critico, não necessariamente a sua essência, mas a sua oscilação ao longo das semanas.
Pode parecer-lhe estranho, mas numa aferição é mais correcto manter um equívoco de forma consistente, do que fazer adaptações sucessivas ao longop das sessões com os classificadores, mesmo quando uma das sessões já corresponde à quase à data de entrega das provas da sessão anterior.
Quanto ao Secundário, não sei se a peça é uma mistificação – acho sinceramente que não – o que sei é que os professores do Secundários, assim como os alunos, não se sentem confortáveis com o que se passa, com matrículas condicionais, dúvidas no ar.
Já sei que no caso dos alunos é natural e no dos professores será ignorância.
Penso que seja esssa a explicação do ME.
Será a sua?
Tem dodo o direito a isso!
E já agora cuidado porquê?
Não terei direito a opinar a partir do que observo e analiso sobre a realidade?
Será melhor a propaganda ministerial, deturpando factos e números, como aconteceu durante todo o ano de 2006?
Qual o incómodo?
Se a propaganda anti-ministerial existe e não é factualmente correcta, certamente isso se descobrirá como aconteceu com a do próprio ME, mesmo se ainda certas mistificações corem como moeda boa por aí.