Pensavam que sabem mais ou menos como se desenvolvem os concursos para a colocação de professores em Portugal? Pensavam que conhecem a respectiva legislação e respectivo enquadramento? Pensavam que era verdadeiro o discurso sobre a estabilidade docente? Não gostavam do sistema centralizador criado pelo David Justino e pensavam que este ano estavam livres de tal coisa?
Não é por nada mas volto a aconselhar a leitura de uma coisa a que o Director-Geral dos Recursos Humanos da Educação deu o nome de roadshow (as razões de tal desconheço-as, pois a Língua Portuguesa tem nomes disponíveis para este tipo de apresentação) para o Concurso 2007. Antes de mais destaco a imensa criatividade e bom gosto da respectiva imagem de abertura, que evoca o que de pior assisti em colóquios e acções de formação.
Mas o mais grave não é isso. O mais grave é que, depois de todo aquele esforço para eliminar as fases e sub-fases dos concursos, racionalizando tudo numa candidatura única à volta de Fevereiro, em suporte informático, agora temos o retorno ao pior do modelo da manta de retalhos que eu conheci durante a maior parte dos meus tempos de contratado e QZP (que só acabaram o ano passado), só que com uma aparência de modernidade.
Se eu percebi o que li, e estava com pelo menos um olho aberto, as maiores diversões que vamos ter serão:
- Um concurso bipartido no tempo (Março e Julho) e tripartido no tipo de destinatários e candidaturas (contratação, afectação e destacamento por ausência da componente lectiva).
- A inexistência de conhecimento por parte dos potenciais interessados (QZP’s ou QE’s) da sua situação até, pelo menos, Julho, quando se prevê que os Conselhos Executivos definam os horários para 2007/08 e se saiba que QZP’s e QE’s não terão componente lectiva atribuída.
- Critérios livres por parte dos Conselhos Executivos para definirem horários e atribuí-los (imagem 8 do coisoshow), excepto a ex-elementos dos próprios Conselhos Executivos, sejam Quadros de Escola ou de Zona Pedagógica. Ao que parece, haverá quem receie ser defenestrado e corrido das escolas por novos órgãos de gestão, pelo que é necessário moderar o carácter discricionário daquela liberdade de critérios acima referida.
- Em caso de regresso de um Quadro de Escola as situações são variadas caso não exista horário disponível, mas desde que seja o regresso de alguém que estivesse num Executivo a vaga é dele e sai quem o órgão de gestão bem entender.
- Em caso de não regressar nenhum Quadro de Escola, afirma-se que se aplica a regra (não sei exactamente com que fundamentação legal) da total liberdade de critérios do Conselho Executivo atribuir serviço e definir quem vai a concurso.
Isto significa caríssimas e caríssimos colegas, que o vosso couro passa a estar, em primeira e última instância, nas mãos dos órgãos de gestão a partir do momento em que exista a necessidade – ou interesse – de gerir horários em função das pessoas colocadas em cada grupo disciplinar e departamento. A porta para os abusos e vendettas fica totalmente escancarada. Não exagero. Reparem bem no que eu sublinhei a azul no quadro seguinte.
Quanto a isto só penso entender três coisas como quase certas:
- Isto é a completa destruição de qualquer possibilidade de um concurso organizado de forma racional e transparente.
- Isto destrói qualquer ilusão a estabilidade da colocação – parece que agora se vai chamar “ligação funcional” – dos docentes e inverte toda a lógica de “estabilização” apresentada como válida mesmo por esta equipa ministerial e que visava a conversão dos QZP’s em Quadros de Agrupamento ou de Escola não agrupada, pois agora todos os lugares podem estar em risco.
- Isto é um sistema que é incompatível com muito do que ainda resta – cuidado com eventuais revogações que tenham passado entretanto despercebidas – do enquadramento jurídico vigente para a profissão docente, em particular, mas para a própria natureza das relações laborais, em geral.
Claro que acho que existe, e de forma óbvia, matéria mais do que suficiente para impugnar a realização de um “concurso” neste moldes, não só pelos conflitos obviamente existentes entre o que se afirma neste coisoshow e vários diplomas em vigor, como pela arbitrariedade dos critérios que presidirão à ida a concurso em Julho de QE’s e QZP’s quando isso derivar da alegada “regra” invocada pelo Director-Geral Diogo Simões Pereira, a qual parece ter surgido de um qualquer nevoeiro ou limbo jurídico paralegal.
Agora o que não precisamos é de argumentos pífios como um que se pode ler aqui (apresentado pelo SINAPE) sobre a situação de uma docente que por ter estado 10 anos no Conselho Executivo aparentemente não poder concorrer a titular. Mas afinal os pontos do exercício de tal cargo, mais os pontos da assiduidade não chegam para isso?
A essência do problema é que isto está a tentar ser implementado à maneira de um rolo compressor que desrespeita claramente a legislação ainda em vigor e diversas garantias relativas ao vínculo laboral dos docentes ou de qualquer trabalhador, sendo algumas das “regras” mais atentatórias dos direitos dos trabalhadores que muitas investidas de patrões ditos neoliberais.
Não acordem a tempo não, caríssimos sindicalistas, percam tempo em torneios retóricos florais, não actuem de forma célere e firme nas instâncias certas e também acabarão destruídos pela enxurrada.
E não se esqueçam que vai haver muito boa gente a achar quye iusto é muito bom, está muito certo e é dotado de bo-senso. A altura não é para conversas de gabinete, nem para acções de rua que nada travam, é para luta contra a manifesta ilegalidade.
Que de uma vez por todas entendam isso. O caminho pode ser estreito mas é o único com algum potencial de eficácia.
Março 21, 2007 at 11:27 pm
Não tem nada a ver com este post. É apenas uma curiosidade. Ao tentar aceder ao site:
http://doportugalprofundo.blogspot.com/
depara-se com a mensagem:
More information
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For more information about HTTP errors, see Help.
Muiito curioso, sabendo de antemão que o autor deste blog anda a “escabulhar” o passado académico do licenciado em engenharia civil
Março 21, 2007 at 11:36 pm
Paulo, penso que destacou o mais importante desta questão, faltará talvez apenas dizer que até os Executivos de regresso poderão estar a prazo, porque no concurso do próximo ano deixam de ser considerados ex-CE e assim também poderão ir ao “DACL directo”!
Março 21, 2007 at 11:38 pm
FTrindade, não me surpreende. Sem querer ser alarmista, há mais casos estranhos. E não estou a ser sensacionalista nem mentirosa.
Forbidden
You don’t have permission to access / on this server.
Paulo, temos que concertar forças. A velha máxima do dividir para reinar … O que pretendo dizer é que, esqueçam-se determinadas divergências e unam-se esforços. Antes de sermos isto ou aquilo somos pessoas e … está em causa a nossa dignidade e até sobrevivência.
Enquanto não acreditas nos sindicatos, eu temo pela justiça, que pode tardar …
Nem sei se fui clara… É tudo tão estranho! Juro que nunca pensei ver tais coisas!
Março 21, 2007 at 11:46 pm
http://doportugalprofundo.blogspot.com/
operacional 🙂
Março 21, 2007 at 11:52 pm
Margarida:
Confirmada operacionalidade. Provavelmente falso alarme. Mas esta agora não é:
Belmiro ao ataque?
Para amanhã dia 22 de Março de 2007 o jornal Público, propriedade do grupo SONAE promete:
Amanhã
Omissões e confusões no dossier de licenciatura de Sócrates
Provavelmente a não perder! Porque será só agora tanto interesse no assunto que já mexe pelos blogues há mais de 2 anos???
Março 21, 2007 at 11:59 pm
Paulo Guinote:
Apercebo-me por aqui de um certo estado de alerta entre os professores, até porque a minha cara metade também é professora. Mas, também por isso, pude descobrir esta capitulação de compromissos assumidos face aos eleitores.
E, como não o fiz antes, acerto agora: parabéns pelo vigésimo aniversário na docência.
Março 22, 2007 at 12:03 am
Não entrando em teorias da conspiração concordo com o que disse a MArgarida no n.º3; algo de estranho se passa e precisamos não só de unir esforços, mas também de estar atentos. E sobretudo denunciar, denunciar, denunciar… É preciso alertar a malta que a situação não se compraz com alheamentos ou desculpas esfarrapadas. Um dia, quiçá breve, será tarde demais… O horizonte não te um aspecto famoso. Por detrás de cada medida há sempre qualquer mais na manga. Uma pessoa COM CONHECIMENTO de causa já me confidenciou: “não fazes ideia do que está para vir!”
Março 22, 2007 at 12:05 am
Depois de ter saído o Decreto-Lei 35/2007 (http://www.fenprof.pt/DynaData/SM_Doc/Mid_115/Doc_2159/Anexos/Contratacao.pdf)que dá aos CEs a possibilidade de contratar quem muito bem lhe apetecer, utilizando os critérios que muito bem lhes apetecer, só faltava mesmo o resto do poder. Mas este poder ainda não está completo! Falta dar-lhes o poder de gerir, por completo, o destino do pessoal do quadro. É só dar mais um tempinho à miluca…
E o problema é que se há CEs honestos… também há CEs das Caldas das Taipas (ou lá como é que se chama)
PS: sobre power point já deixei um comentário no texto anterior e um outro um pouco mais completo no http://olhardomiguel.blogspot.com/2007/03/o-circo.html
Março 22, 2007 at 12:13 am
Eu bem lhes disse: http://educacaosa.blogspot.com/2007/03/ltima-hora.html
Março 22, 2007 at 12:18 am
Mais umas notícias “interessantes”, não sobre o concurso, mas sobre assuntosque tb nos dizem respeito
Sobre a votação do ECD:
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1288982
Intervenção da Ministra da Educação no lançamento do Programa de Modernização das Escolas Secundárias:
Intervenção do presidente da Parque Escolar, EPE. João Sintra Nunes, no lançamento do Programa de Modernização das Escolas Secundárias:http://www.dren.min-edu.pt/docs/2007/projectos/intervencao_presidente_parque_escolar.pdf
(estes dois últimos itens foram roubados aqui: http://ocartel.blogspot.com/
Março 22, 2007 at 12:27 am
António, não acha que podíamos dispensar deputados? Se votam todos sempre o que o partido manda então, para que pagamos? A representatividade seria, 1 deputado vale por x votos etc. Ficava mais simples …
FTrindade, é preciso expor e agir. Agir de acordo com alguma lei que ainda temos, sobretudo, pela Constituição, tão lesada … Isto para já, evidentemente …
Março 22, 2007 at 12:29 am
As receitas vão faltando e o estado vai-se tornando um administrador do estado de emergência.
Lá nos iremos tornando todos não rentáveis.
E administrar a crise passa também por ir atirando uns contra os outros.
Março 22, 2007 at 12:37 am
uma pergunta:
devemos separar os bons profissionais dos medíocres ou meter todos no mesmo saco?
Março 22, 2007 at 12:40 am
Cada coisa a seu tempo. Neste momento o “mau” da fita é a política deste ministério e deste governo que nos desgoverna.
Março 22, 2007 at 12:53 am
Neste caso, os presidentes dos CEs – ou os CEs solidariamente – terão que saber que podem ser responsabilizados em tribunal por prejuízos causados a um determinado docente, pelo que terão de acautelar-se com os critérios que apresentem como justificação – o ME não estará lá para lhe cobrir as costas, haja a legislação que houver. É portanto e uma vez mais aos sindicatos que compete tornar isso público – para além de, uma vez mais e como é óbvio, colocar o ME em tribunal por mais esta óbvia ilegalidade.
A propósito, já terá seguido alguma queixa, condignamente elaborada, para uma CE que putativamente nos governa? É que a instauração de uma ditadura, por muito que convenha em aspectos económicos, não fica nada bem…
Março 22, 2007 at 12:56 am
Desculpem-me, que o assunto é grave, mas eu não resisto: quem terá sido o boçal (não há perigo, gente desta não chega lá), autor da “manga” de início?
Março 22, 2007 at 8:50 am
Bom, muita coisa.
Quanto ao acesso ao blog Do Portugal Profundo, esse tipo de msg é habitual no Blogger. Já deixei de me preocupar com isso. Quando apareceu a bandeirinha a referir que nós podíamos assinalar (“flag”) um site como inconveniente, começou logo tudo a assustar-se sem perceber que aquilo era a possibilidade não o facto.
Sei nque andamos hiper-sensíveis à censura – e ela vai existindo já nem muito dissimulada – mas é preciso é ter calma..
Quanto às habilitações académicas do nosso “primeiro” e então onde e como foram obtidas é coisa que acho tão grave,mas tão grave, que sem elementos com conhecimento directo meu tenho-me escusado a comentar.
Porque poderia explicar mais do que o óbvio.
Quanto ao resto, aos “concursos”, acho que esta é uma asneira de todo o tamanho, gravíssima e de consequências muito más para todo o sistema educativo.
Claro que os opinadores orgânicos do regime, assumam-no ou não é o que são nos últimos anos – Vitais Moreiras, Miguèis Sousa Tavares, Pulidos Valentes – vão deixar passar sem dar por isso ou então concordarão.
Teria alguma curiosidade na opinião do Pacheco Pereira e do Marcelo Rebelo de Sousa – que começou a descolar desta Ministra – mas esses andam com outras agendas.
Março 22, 2007 at 1:28 pm
Para o Paulo:
O que poderiam estes comentadores dizer sobre isto?
Já ninguem têm paciência (se é que alguma vez tiveram) para o concurso de professores.
Quanto ao MST, não me parece justo classificá-lo de “opinador orgâncico do regime”, relativamente ao ECD, manifestou-se(na TVI) contra a avaliação dos prof´s pelos pais e tb quanto à inclusão do sucesso e abandono escolar na avaliação.
Março 22, 2007 at 5:19 pm
Mas é dos primeiros a atacar os professores em outras matérias.
Março 22, 2007 at 5:59 pm
Hummm, que Stora tão interessante…
E parece muito determinada a ensinar o 2×2…
Março 22, 2007 at 6:03 pm
Estou a estranhá-lo meu caro MFaces…
😉
Março 22, 2007 at 6:24 pm
Calores Primaveris…
Março 23, 2007 at 1:02 am
Atenção ManyFaces, não é stora, é setora.
Um “e” faz aqui toda a diferença.
Viva a Primavera, mesmo fria.
Março 23, 2007 at 6:52 pm
E não pretendo ensinar nada. Partilho dúvidas,coisas que o que vejo ou leio me fazem pensar…
E neste fim de semana entramos na hora da Primavera.
Março 11, 2009 at 9:23 pm
[…] passam quase dois anos sobre este post em que eu comecei a tentar desmontar parte dos mecanismos da desregulação do concurso nacional […]
Março 11, 2009 at 9:30 pm
[…] passam quase dois anos sobre este post em que eu comecei a tentar desmontar parte dos mecanismos da desregulação do concurso nacional […]