Sairá ainda mais cara em termos de educação e de ensino da língua materna; o mecanismo conceptual que preside a esta perspectivação é um mecanismo prototípico e predominantemente sintáctico, portanto, redutor na sua essência. Isto significa que uma abordagem do real e do mundo efectuada a partir da TLEBS será impeditiva da criatividade (na compreensão como na produção orais e escritas)anulando a compreensão e expressão analógicas e metafóricas. Os quadros conceptuais de partida serão iguais aos de chegada, sem variabilidade possível.
Vai sair barato apenas a quem necessite de mão de obra – e de massa de consumidores – dócil e sem capacidade de transformação do real verbal que lhe seja apresentado.
E eu acho especialmente “estimulante” e “transdisciplinar” a forma como a justificação de certas opções oscila entre o plano mais estrito da Linguística e considerações de carácter cultural geral ou recorrendo a conceitos da Biologia para, por exemplo, fundamentar a classificação dos nomes comuns em animados e não animados ou contáveis e não contáveis, etc, etc.
Tenho andado caladinho a assistir a estas discussões, porque a famosa petição me deixou enjoado com isto tudo, mas não posso deixar de comentar toda esta obsessão com os contáveis e não contáveis.
Há tempos diziam num comentário que tinham perdido não sei quanto tempo de aula a decidir se “nariz” é animado ou humano?! Mas que interesse tem isso? E o que é que isso tem a ver com a TLEBS?
Estas são distinções que só interessam estabelecer se for oportuno, em contextos de uso e para esclarecimento de dúvidas. Os alunos, no inglês, aprendem a distinção entre mass nouns e count nouns logo cedo, porque é relevante para determinadas construções e nunca ninguém andou a discutir se este ou aquele nome é para ser classificado assim ou assado. Serei eu que estou a enlouquecer ou caiu-se de facto no cúmulo do ridículo do ensino da gramática? Se o que se quer é ensinar as crianças a classificar exaustivamente palavras (tarefa que me parece impossível), então não se ensine nenhuma gramática, nem tlébica, nem outra, porque não se está a fazer um trabalho sério. Está-se a brincar ao ensino.
Não conheço nenhum programa do 1º ao 12º que sugira que se classifiquem as palavras a este nível de pormenor. A TLEBS também não o sugere. Mas, curiosamente, os que se afirmam anti-TLEBS fazem-no!
Meu caro homónimo, penso que não leu os diplomas legislativos tlébicos.
Mas, muito mais importante, penso que terá provavelmente tido a sorte de nunca dado uma aula em que os alunos lhe coloquem dúvidas específicas sobre certos nomes.
Porque, e eu confesso fazer isso, gosto de responder de forma informada aos meus alunos.
E se neste caso me perguntarem sobre o “nariz”?
Falo-lhes apenas no contexto?
E depois, o que faço aos materiais disponibilizados pelo ME em que os exercícios se baseiam em listas de nomes descontextualizados?
Caro Paulo
Ainda que não me tenha respondido da última vez que o questionei, eu insisto, desta vez noutra vertente.
1. O que é afinal a TLEBS? A listagem do decreto-lei ou a do CD? A diferença é muito grande…
2. Os materiais disponibilizados pelo ME seguem qual deles?
3. Os materiais supramencionados (viu “O Tioneu”, espero…) estão de acordo com uma ou com outra das listagens – ou terminologias?
4. Esta não é uma questão; trata-se apenas de reiterar a ideia do Paulo Guinote de o seu homónimo não terá lido os legislativos da TLEBS. Mesmo que assim fosse, seria inocência a mais da sua parte – se conhece o CD – afirmar como o tem feito que a matéria é pacífica, do foro do bom senso, etc., como se o problema fosse apenas dos palermas dos seus colegas que, depreende-se da sua opinião, não saberão ler e, muito menos, raciocinar…
Por acaso, respondi-lhe. Se leu com atenção o que escrevi, aparece lá a razão pela qual considero um verdadeiro disparate da Maria Alzira Seixo a classificação como advérbio de modo de qualquer coisa acabada em mente.
Pois, meus caros, ao contrário do que afirmam, li tudo com atenção. E por ter feito essa leitura com atenção, separo muito claramente o que é a TLEBS e o que é ensinar gramática. Também li e percebi que a TLEBS é apenas uma lista de termos de referência para o ensino, o que é bastante diferente de uma lista de termos para ser ensinada.
Paulo, tenho a sorte de ter bons alunos que fazem perguntas interessantes e pertinentes. Sinceramente, não me parece nem interessante nem pertinente classificar “nariz” como contável ou não contável e penso que todos sabemos que não se faz classificação de palavras sem ser em contexto.
Os materiais que estão no site do ministério têm de tudo: há-os bons, médios e maus. De uma coisa tenho a certeza: quando comparados com os materiais de apoio ao ensino da gramática que foram lançados com os programas de 91, até os maus se tornam óptimos. Como não me considero tonto, sei seleccionar os que interessam.
Respondendo à Paula:
1. Talvez me tenha escapado alguma coisa, mas parece-me que os termos do decreto-lei e os do CD são os mesmos. Se me perguntarem se o CD é claro, a resposta é simples: às vezes. Mas mal estaria eu se só estudasse pelo CD.
2. Os materiais seguem o decreto-lei. A meu ver, o mal de muitos materiais é não seguirem os programas.
O famoso caso do Tioneu não é mais do que um exemplo do Graça Moura no seu melhor. Das centenas de materiais que lá estão, ele resolveu publicitar como exemplo da desgraça que se está a fazer aos alunos um material que é apresentado como reflexão apenas para os docentes. Fascinante esta forma de fazer opinião! É como no que escreveu esta semana em que diz que num artigo do Público em que João Costa diz que a TLEBS não segue um
modelo teórico específico…o Graça Moura lê exactamente o contrário. E assim se construiu uma opinião e um escândalo nacional em torno da TLEBS.
Finalmente, Paula, há, de facto, um problema grave de leitura dos documentos. Não disse que haja gente que não sabe racicionar ou ler, mas , nesta altura da polémica, posso dizer sem hesitar que há colegas que resolveram ensinar definições da TLEBS e pôr os meninos a recitar listas de termos, o que, obviamente, não é ensinar gramática. E repito apenas o que já disse antes: isso é tão mau com a TLEBS ou com qualquer outra terminologia.
E até digo mais: se o resultado da TLEBS é esse, apesar de não se poderem atribuir as culpas à lista de termos, então suspenda-se. Mas aí sou eu quem vai dizer que não me obrigam a ensinar as coisas erradas que estão na nomenclatura tradicional.
Colega Paulo,
Não existem “centenas” de materiais no site.
Quanto ao facto de “todos sabermos” que as palavras só se classificam em contexto, seria interessante que nesse “todos” estivessem alguns dos que produziram materiais nas experiências-piloto que serviram de base para apoiar a proposta de generalização da aplicação da TLEBS e que o ME achou por bem despejar online sem os cotejar.
É que eu ando por lá, pelos fóruns, a observar a maravilha das justificações que são dadas para certas opções. Não sendo formado em Linguística ou Literatura fico verdadeiramente maravilhado por perceber que algumas radicam não na História da Língua, por exemplo, mas em concepções “culturais” sobre o que é ou não “animado”.
Serei certamente “tonto” mas é por procurar orientação em que me a deveria dar.
E mais “tonto” sou por achar que a implementação da TLEBS deveria seguir o curso normal numa matéria destas. Começar pelo 1º ano e seguir daí por diante até ao 4º; do 5º ao 9º, and so on, e não tentar arrancar com tudo ao molho e fé nos deuses disponíveis.
Mas eu acabaria com um pedido ao Paulo: exemplifique-me lá uma coisa assim muito errada na nomenclatura tradicional, uma daquelas de bradar aos Céus, para que eu perceba a premência e urgência de catrapilar a TLEBS agora, já e em força, depois de 40 anos de erros desses.
😉
Paulo, obrigada pela resposta, sobretudo a que a mim própria se refere. Não, os termos que estão no CD, não são os da portaria, são muitos mais, muito mais abarcantes no que respeita ao nível de reflexão metalinguística. Não, o “Tioneu” não é um exercício de reflexão para os docentes, é uma proposta de aula de 45 minutos para o 9º Ano. Não, a TLEBS não segue um modelo específico, apesar de ser na sua generalidade orientada para´uma perspectiva fundamentalmente sintáctica propria da linguística computacional; contrariamente ao que o Paulo entende e disse aqui mesmo há uns tempos, a TLEBS é genericamente de inspiração chomskiana – como disse publicamente o presidente da APL – sobretudo no que se refere à sintaxe, mas não foi feita como um conjunto coeso e há inúmeras divergências e contradições.
Ou é també uma invenção do Graça Moura (e de Peres, e do próprio ministério, ultimamente) que a TLEBS tem erros?
Eu sou apenas mais um dos docentes mentcaptos e incompetentes que não consegue percebê-la…
Diga-me só (é a terceira vez que o peço) O QUE ENSINARIA SOBRE O ADVÉRBIO a alunos do 7º ano…
Ah! E essa história de a TLEBS ser apenas um documento de referência e não uma Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário já me está a irritar sobremaneira. Então porque é que ninguém clarifica EXACTAMENTE quais são os ditos “conteúdos declarativos” no meio daquela molhada toda?
Paulo, há um aspecto em que concordo inteiramente consigo: também acho que a implementação devia ter começado pelo 1º ano. Mas o grave é o facto de os programas do secundário não baterem certo com os do básico. A TLEBS é só uma pequena peça no meio do problema. Estamos inteiramente de acordo.
Alguns exemplos de coisas estranhas da nomenclatura tradicional: complemento circunstancial, pronomes adjuntos, complemento determinativo…(sei que me vai cair tudo em cima a dizer que nada disto é estranho e que é muito menos estranho do que certos termos da TLEBS, mas a mim não me obrigam a voltar a falar de complementos circunstanciais).
Paula, desculpe mas não é verdade o que diz. Quando li o artigo do Graça Moura, fui procurar o dito exercício e estava lá dito bem claro na apresentação que era proposto como uma reflexão para os próprios autores.
Também fui procurar as declarações do presidente da APL, que só fala de gramática chomskyana num artigo do Público como resposta a um artigo de Helena Matos para explicar que a gramática generativa não é o que se fez quando se faziam árvores nos anos 80 (está no site do Ciberdúvidas). Terá havido um outro texto que eu desconheço em que ele diz o contrário? O Graça Moura só fala desse do Público.
Sobre os erros da TLEBS, parece-me que os erros estão no CD e não na própria lista de termos. É grave? Sim. Acho que o ministério não nos devia ter enviado aquilo antes da revisão final. Mas será que os erros são tão gritantes que impeçam que se vá trabalhando com aquilo? Não me parece.
Os conteúdos declarativos são os dos programas e do currículo nacional. Pelo menos tem sido essa a minha interpretação. Apenas quando são divergentes, me guio pela TLEBS e os casos de divergência são poucos.
Isto conduz-me a responder finalmente à sua pergunta (peço desculpa por não a ter interpretado bem): num 7º ano, eu ensinaria o que está no programa. Ensinaria a identificar advérbios e as subclasses principais (adjunto-disjunto, que não é mais do que a diferença entre advérbios do predicado e da frase). Como estipulado no programa, ensinaria também a classe dos conectivos para enriquecimento de texto e para o estabelecimento de relações entre frases. Muito provavelmente, para estes últimos, nem seria necessário dar-lhes nome. Bastaria mostrar que posso usar advérbios em vez de conjunções nalguns contextos.
O que eu não faria era usar os manuais da Maria Alzira Seixo e falar de advérbios disjuntos reforçadores do valor de não sei quê!
Só para concluir, acho que defender a TLEBS ou atacá-la pode ser feita sem ser necessário opor iluminados a mentecaptos, seguidistas burros a resistentes esclarecidos ou outros mimos desta natureza. Falo contra mim próprio, que me deixo inflamar por estas discussões. Peço desculpa se os dois se sentiram incomodados pelo tom dos meus posts. Sinto que se criou um escândalo nacional em torno de um instrumento de trabalho que, apesar de deficiente, tem um papel válido mas muito relativo nas nossas práticas.
Tal como dizia a outra pessoa noutro lugar, o contexto socio-afectivo e cognitivo de cada um determina diferentes leituras de um mesmo enunciado – e não será a Santa TLEBS que o impedirá…
Lição a reter para o ensino do português…
Por mim nenhum incómodo.
Desculpas desnecessárias.
Percebo agora melhor a sua posição, em especial quando escreve sobre a necessidade de articulação entre os programas dos vários níveis de ensino, quase sempre feitos de forma desarticulada, aliás como a própria TLEBs em que cada responsável produziu clusters pouco comunicantes.
Para quem vem de fora da Linguística, as principais críticas passam, não só por certas características intrínsecas da nomenclatura, mas pelo atabalhoamento de todo o processo.
Pessoalmente anda-me a fazer confusão o argumento, que começo a ver repetido pelos tlebéticos de que a TLEBS não foi generalizada, a experiência pedagógica é que foi. Alguém por favor que me explique, como se fosse mesmo muito burro, como é que se pode generalizar a experiência pedagógica da TLEBS sem a usar nas aulas?
Aliás, o que é isso afinal de “experiência pedagógica da TLEBS”? Onde está definida, do que procedimentos implica, que é para poder fazer também? Será o famoso “revalorizar o ensino da gramática para salvar a Nação” de que fala MHMM?
Janeiro 13, 2007 at 8:48 pm
Meu deuzzzzzzz!… A TLEBS está em todo o lado e QUÃO periculosaaaaaaaaaaa !…
Olha só como sai cara!
ehhehhe
Janeiro 14, 2007 at 2:12 pm
Sairá ainda mais cara em termos de educação e de ensino da língua materna; o mecanismo conceptual que preside a esta perspectivação é um mecanismo prototípico e predominantemente sintáctico, portanto, redutor na sua essência. Isto significa que uma abordagem do real e do mundo efectuada a partir da TLEBS será impeditiva da criatividade (na compreensão como na produção orais e escritas)anulando a compreensão e expressão analógicas e metafóricas. Os quadros conceptuais de partida serão iguais aos de chegada, sem variabilidade possível.
Vai sair barato apenas a quem necessite de mão de obra – e de massa de consumidores – dócil e sem capacidade de transformação do real verbal que lhe seja apresentado.
Janeiro 14, 2007 at 4:02 pm
E eu acho especialmente “estimulante” e “transdisciplinar” a forma como a justificação de certas opções oscila entre o plano mais estrito da Linguística e considerações de carácter cultural geral ou recorrendo a conceitos da Biologia para, por exemplo, fundamentar a classificação dos nomes comuns em animados e não animados ou contáveis e não contáveis, etc, etc.
Janeiro 14, 2007 at 4:58 pm
Tenho andado caladinho a assistir a estas discussões, porque a famosa petição me deixou enjoado com isto tudo, mas não posso deixar de comentar toda esta obsessão com os contáveis e não contáveis.
Há tempos diziam num comentário que tinham perdido não sei quanto tempo de aula a decidir se “nariz” é animado ou humano?! Mas que interesse tem isso? E o que é que isso tem a ver com a TLEBS?
Estas são distinções que só interessam estabelecer se for oportuno, em contextos de uso e para esclarecimento de dúvidas. Os alunos, no inglês, aprendem a distinção entre mass nouns e count nouns logo cedo, porque é relevante para determinadas construções e nunca ninguém andou a discutir se este ou aquele nome é para ser classificado assim ou assado. Serei eu que estou a enlouquecer ou caiu-se de facto no cúmulo do ridículo do ensino da gramática? Se o que se quer é ensinar as crianças a classificar exaustivamente palavras (tarefa que me parece impossível), então não se ensine nenhuma gramática, nem tlébica, nem outra, porque não se está a fazer um trabalho sério. Está-se a brincar ao ensino.
Não conheço nenhum programa do 1º ao 12º que sugira que se classifiquem as palavras a este nível de pormenor. A TLEBS também não o sugere. Mas, curiosamente, os que se afirmam anti-TLEBS fazem-no!
Janeiro 14, 2007 at 5:09 pm
Meu caro homónimo, penso que não leu os diplomas legislativos tlébicos.
Mas, muito mais importante, penso que terá provavelmente tido a sorte de nunca dado uma aula em que os alunos lhe coloquem dúvidas específicas sobre certos nomes.
Porque, e eu confesso fazer isso, gosto de responder de forma informada aos meus alunos.
E se neste caso me perguntarem sobre o “nariz”?
Falo-lhes apenas no contexto?
E depois, o que faço aos materiais disponibilizados pelo ME em que os exercícios se baseiam em listas de nomes descontextualizados?
Sempre os deito fora como já pensava fazer?
Janeiro 14, 2007 at 7:12 pm
Caro Paulo
Ainda que não me tenha respondido da última vez que o questionei, eu insisto, desta vez noutra vertente.
1. O que é afinal a TLEBS? A listagem do decreto-lei ou a do CD? A diferença é muito grande…
2. Os materiais disponibilizados pelo ME seguem qual deles?
3. Os materiais supramencionados (viu “O Tioneu”, espero…) estão de acordo com uma ou com outra das listagens – ou terminologias?
4. Esta não é uma questão; trata-se apenas de reiterar a ideia do Paulo Guinote de o seu homónimo não terá lido os legislativos da TLEBS. Mesmo que assim fosse, seria inocência a mais da sua parte – se conhece o CD – afirmar como o tem feito que a matéria é pacífica, do foro do bom senso, etc., como se o problema fosse apenas dos palermas dos seus colegas que, depreende-se da sua opinião, não saberão ler e, muito menos, raciocinar…
Janeiro 14, 2007 at 8:11 pm
Caros Paula e Paulo,
Por acaso, respondi-lhe. Se leu com atenção o que escrevi, aparece lá a razão pela qual considero um verdadeiro disparate da Maria Alzira Seixo a classificação como advérbio de modo de qualquer coisa acabada em mente.
Pois, meus caros, ao contrário do que afirmam, li tudo com atenção. E por ter feito essa leitura com atenção, separo muito claramente o que é a TLEBS e o que é ensinar gramática. Também li e percebi que a TLEBS é apenas uma lista de termos de referência para o ensino, o que é bastante diferente de uma lista de termos para ser ensinada.
Paulo, tenho a sorte de ter bons alunos que fazem perguntas interessantes e pertinentes. Sinceramente, não me parece nem interessante nem pertinente classificar “nariz” como contável ou não contável e penso que todos sabemos que não se faz classificação de palavras sem ser em contexto.
Os materiais que estão no site do ministério têm de tudo: há-os bons, médios e maus. De uma coisa tenho a certeza: quando comparados com os materiais de apoio ao ensino da gramática que foram lançados com os programas de 91, até os maus se tornam óptimos. Como não me considero tonto, sei seleccionar os que interessam.
Respondendo à Paula:
1. Talvez me tenha escapado alguma coisa, mas parece-me que os termos do decreto-lei e os do CD são os mesmos. Se me perguntarem se o CD é claro, a resposta é simples: às vezes. Mas mal estaria eu se só estudasse pelo CD.
2. Os materiais seguem o decreto-lei. A meu ver, o mal de muitos materiais é não seguirem os programas.
O famoso caso do Tioneu não é mais do que um exemplo do Graça Moura no seu melhor. Das centenas de materiais que lá estão, ele resolveu publicitar como exemplo da desgraça que se está a fazer aos alunos um material que é apresentado como reflexão apenas para os docentes. Fascinante esta forma de fazer opinião! É como no que escreveu esta semana em que diz que num artigo do Público em que João Costa diz que a TLEBS não segue um
Janeiro 14, 2007 at 8:17 pm
modelo teórico específico…o Graça Moura lê exactamente o contrário. E assim se construiu uma opinião e um escândalo nacional em torno da TLEBS.
Finalmente, Paula, há, de facto, um problema grave de leitura dos documentos. Não disse que haja gente que não sabe racicionar ou ler, mas , nesta altura da polémica, posso dizer sem hesitar que há colegas que resolveram ensinar definições da TLEBS e pôr os meninos a recitar listas de termos, o que, obviamente, não é ensinar gramática. E repito apenas o que já disse antes: isso é tão mau com a TLEBS ou com qualquer outra terminologia.
E até digo mais: se o resultado da TLEBS é esse, apesar de não se poderem atribuir as culpas à lista de termos, então suspenda-se. Mas aí sou eu quem vai dizer que não me obrigam a ensinar as coisas erradas que estão na nomenclatura tradicional.
Janeiro 14, 2007 at 10:03 pm
Colega Paulo,
Não existem “centenas” de materiais no site.
Quanto ao facto de “todos sabermos” que as palavras só se classificam em contexto, seria interessante que nesse “todos” estivessem alguns dos que produziram materiais nas experiências-piloto que serviram de base para apoiar a proposta de generalização da aplicação da TLEBS e que o ME achou por bem despejar online sem os cotejar.
É que eu ando por lá, pelos fóruns, a observar a maravilha das justificações que são dadas para certas opções. Não sendo formado em Linguística ou Literatura fico verdadeiramente maravilhado por perceber que algumas radicam não na História da Língua, por exemplo, mas em concepções “culturais” sobre o que é ou não “animado”.
Serei certamente “tonto” mas é por procurar orientação em que me a deveria dar.
E mais “tonto” sou por achar que a implementação da TLEBS deveria seguir o curso normal numa matéria destas. Começar pelo 1º ano e seguir daí por diante até ao 4º; do 5º ao 9º, and so on, e não tentar arrancar com tudo ao molho e fé nos deuses disponíveis.
Mas eu acabaria com um pedido ao Paulo: exemplifique-me lá uma coisa assim muito errada na nomenclatura tradicional, uma daquelas de bradar aos Céus, para que eu perceba a premência e urgência de catrapilar a TLEBS agora, já e em força, depois de 40 anos de erros desses.
😉
Janeiro 14, 2007 at 10:35 pm
Paulo, obrigada pela resposta, sobretudo a que a mim própria se refere. Não, os termos que estão no CD, não são os da portaria, são muitos mais, muito mais abarcantes no que respeita ao nível de reflexão metalinguística. Não, o “Tioneu” não é um exercício de reflexão para os docentes, é uma proposta de aula de 45 minutos para o 9º Ano. Não, a TLEBS não segue um modelo específico, apesar de ser na sua generalidade orientada para´uma perspectiva fundamentalmente sintáctica propria da linguística computacional; contrariamente ao que o Paulo entende e disse aqui mesmo há uns tempos, a TLEBS é genericamente de inspiração chomskiana – como disse publicamente o presidente da APL – sobretudo no que se refere à sintaxe, mas não foi feita como um conjunto coeso e há inúmeras divergências e contradições.
Ou é també uma invenção do Graça Moura (e de Peres, e do próprio ministério, ultimamente) que a TLEBS tem erros?
Eu sou apenas mais um dos docentes mentcaptos e incompetentes que não consegue percebê-la…
Diga-me só (é a terceira vez que o peço) O QUE ENSINARIA SOBRE O ADVÉRBIO a alunos do 7º ano…
Janeiro 14, 2007 at 10:39 pm
Ah! E essa história de a TLEBS ser apenas um documento de referência e não uma Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário já me está a irritar sobremaneira. Então porque é que ninguém clarifica EXACTAMENTE quais são os ditos “conteúdos declarativos” no meio daquela molhada toda?
Janeiro 15, 2007 at 12:38 am
Paulo, há um aspecto em que concordo inteiramente consigo: também acho que a implementação devia ter começado pelo 1º ano. Mas o grave é o facto de os programas do secundário não baterem certo com os do básico. A TLEBS é só uma pequena peça no meio do problema. Estamos inteiramente de acordo.
Alguns exemplos de coisas estranhas da nomenclatura tradicional: complemento circunstancial, pronomes adjuntos, complemento determinativo…(sei que me vai cair tudo em cima a dizer que nada disto é estranho e que é muito menos estranho do que certos termos da TLEBS, mas a mim não me obrigam a voltar a falar de complementos circunstanciais).
Paula, desculpe mas não é verdade o que diz. Quando li o artigo do Graça Moura, fui procurar o dito exercício e estava lá dito bem claro na apresentação que era proposto como uma reflexão para os próprios autores.
Também fui procurar as declarações do presidente da APL, que só fala de gramática chomskyana num artigo do Público como resposta a um artigo de Helena Matos para explicar que a gramática generativa não é o que se fez quando se faziam árvores nos anos 80 (está no site do Ciberdúvidas). Terá havido um outro texto que eu desconheço em que ele diz o contrário? O Graça Moura só fala desse do Público.
Sobre os erros da TLEBS, parece-me que os erros estão no CD e não na própria lista de termos. É grave? Sim. Acho que o ministério não nos devia ter enviado aquilo antes da revisão final. Mas será que os erros são tão gritantes que impeçam que se vá trabalhando com aquilo? Não me parece.
Os conteúdos declarativos são os dos programas e do currículo nacional. Pelo menos tem sido essa a minha interpretação. Apenas quando são divergentes, me guio pela TLEBS e os casos de divergência são poucos.
Isto conduz-me a responder finalmente à sua pergunta (peço desculpa por não a ter interpretado bem): num 7º ano, eu ensinaria o que está no programa. Ensinaria a identificar advérbios e as subclasses principais (adjunto-disjunto, que não é mais do que a diferença entre advérbios do predicado e da frase). Como estipulado no programa, ensinaria também a classe dos conectivos para enriquecimento de texto e para o estabelecimento de relações entre frases. Muito provavelmente, para estes últimos, nem seria necessário dar-lhes nome. Bastaria mostrar que posso usar advérbios em vez de conjunções nalguns contextos.
O que eu não faria era usar os manuais da Maria Alzira Seixo e falar de advérbios disjuntos reforçadores do valor de não sei quê!
Só para concluir, acho que defender a TLEBS ou atacá-la pode ser feita sem ser necessário opor iluminados a mentecaptos, seguidistas burros a resistentes esclarecidos ou outros mimos desta natureza. Falo contra mim próprio, que me deixo inflamar por estas discussões. Peço desculpa se os dois se sentiram incomodados pelo tom dos meus posts. Sinto que se criou um escândalo nacional em torno de um instrumento de trabalho que, apesar de deficiente, tem um papel válido mas muito relativo nas nossas práticas.
Bem hajam
Janeiro 15, 2007 at 8:13 am
Tal como dizia a outra pessoa noutro lugar, o contexto socio-afectivo e cognitivo de cada um determina diferentes leituras de um mesmo enunciado – e não será a Santa TLEBS que o impedirá…
Lição a reter para o ensino do português…
Janeiro 15, 2007 at 10:38 am
Por mim nenhum incómodo.
Desculpas desnecessárias.
Percebo agora melhor a sua posição, em especial quando escreve sobre a necessidade de articulação entre os programas dos vários níveis de ensino, quase sempre feitos de forma desarticulada, aliás como a própria TLEBs em que cada responsável produziu clusters pouco comunicantes.
Para quem vem de fora da Linguística, as principais críticas passam, não só por certas características intrínsecas da nomenclatura, mas pelo atabalhoamento de todo o processo.
Janeiro 15, 2007 at 9:09 pm
Pessoalmente anda-me a fazer confusão o argumento, que começo a ver repetido pelos tlebéticos de que a TLEBS não foi generalizada, a experiência pedagógica é que foi. Alguém por favor que me explique, como se fosse mesmo muito burro, como é que se pode generalizar a experiência pedagógica da TLEBS sem a usar nas aulas?
Aliás, o que é isso afinal de “experiência pedagógica da TLEBS”? Onde está definida, do que procedimentos implica, que é para poder fazer também? Será o famoso “revalorizar o ensino da gramática para salvar a Nação” de que fala MHMM?