É verdade que o tempo, mesmo curto, nos vai amolecendo um pouquinho, mesmo se o não queremos admitir.
A primeira vez que fiz este teste (há coisa de um par de anos) fiquei quase no canto inferior esquerdo da quadrícula. Hoje não respondi tantos strongly agree/disagree e subi uns quadradinhos e o meu nível de libertário social desceu de quase 7 pontos para perto de 5.
Não deixa de ser curioso que, de acordo com as personalidades apresentadas como referência, fico quase entre o Dalai Lama, pessoa estimável mas cuja postura pacífica pensaria ter pouco a ver comigo, e o Nelson Mandela, um dos raros políticos que admiro pela persistência, resistência e sensatez.
Por este andar aos 70 anos estou transformado num centrista cinzento como o Romano Prodi. O que seria triste.
Experimentem também, porque há resultados curiosos. E não façam batota, respondendo o que acham ficar bem. E no caso da Educação respondam em abstracto, não a pensar em alguém ou algo que vos é mais ou menos próximo. Já vi muito conservador empedernido no discurso acabar do lado esquerdo e muito esquerdista de cravo no peito acabar do lado direito, o que em qualquer dos casos não é assim tão estranho.
Dezembro 28, 2006 at 1:43 pm
Já começo a perceber a sua aversão aos políticos, à sua prática e discurso. Os seus companheiros de quadrante são verdadeiros exemplos de santidade política!
Infelizmente, nenhum deles foi um verdadeiro governante.
Dezembro 28, 2006 at 3:25 pm
Permito-me discordar.
Ou talvez nem discorde.
Se Mandela não foi um governante, foi mais do que isso.
Muito mais, realmente.
Dezembro 28, 2006 at 7:47 pm
Veja isto desta maneira. O Dalai Lama nunca governou nada, excepto durante um pequeno período antes da ocupação do Tibete. Na realidade ele não quer governar o seu país. Quer somente voltar ao Tibete como líder espiritual e já não reclama a independência mas a autonomia face à China.
Nelson Mandela esteve 27 anos na cadeia. Foi eleito Presidente da África do Sul e cumpriu um mandato de 4 anos. Esteve essencialmente preocupado com a política de reconciliação e delegou a parte executiva do governo aos seus ministros. De facto, à semelhança do Dalai Lama, pode dizer-se que também pouco governou no sentido corrente do termo. Isto em nada invalida a sua estatura moral e política. Na realidade penso que de Nelson Mandela pode dizer-se o que Isaiah Berlin disse de Winston Churchill no final da Segunda Guerra Mundial: ele é “the largest human being of our time”.
Quem quer viver no céu só tem que seguir uma vida virtuosa e apresentar-se ao Juiz Supremo, esperando entrar no paraíso. Como afirmou Karl Popper, que sei que admira tal como eu, “those who promise us paradise on earth never produced anything but a hell”.
Vivemos num mundo de imperfeições e de injustiças e, como tal, os homens e as mulheres são moldados de igual forma. Os políticos não são diferentes do comum dos mortais. Em Portugal as nossas elites, políticas e outras, reflectem o nosso próprio atraso. E é isso que nos custa mais reconhecer.
Dezembro 28, 2006 at 10:18 pm
A mim não me cuta nada reconhecer isso, incluindo a minha parcela na coisa.
Mas há quem não consiga admiti-lo.
E é com isso que não me conformo, com a constante desculpabilização.
Eu nunca me senti inferiorizado se numa aula não sei responder a uma questão mais ou menos específica, nem, se tiver de pedir desculpa a um aluno por ter valiado erradamente um acto seu.
Mas os nossos políticos parece que só admitem o erro se tiverem uma dupla rede a protegê-los: á data não sabiam que… ninguém podia prever…
Disso estou farto.
Quanto às questões “executivas”, desde quando dei a ideia de ter alguma intenção de ter pretensões desse tipo?
Se é para dizer-me que, então, as minha ideias são impraticáveis, porque meramente teóricas, o que dirá do Karl Popper?
Afinal não me parece que as suas ideias sejam menos válidas só porque não foi sub-sub-secretário de Estado de Coisa Nenhuma?
Ou estarei a ver mal a coisa?
Dezembro 28, 2006 at 11:02 pm
“Quanto às questões “executivas”, desde quando dei a ideia de ter alguma intenção de ter pretensões desse tipo?
Se é para dizer-me que, então, as minha ideias são impraticáveis, porque meramente teóricas, o que dirá do Karl Popper?
Afinal não me parece que as suas ideias sejam menos válidas só porque não foi sub-sub-secretário de Estado de Coisa Nenhuma?
Ou estarei a ver mal a coisa?”
Calma meu caro! O seu carácter sanguíneo está novamente a traí-lo. Em primeiro lugar, nunca disse que as suas ideias são impraticáveis, meramente teóricas ou inválidas porque nunca desempenhou nenhum cargo de natureza política/executiva. Mais: pode ter as pretensões que quiser que isso em nada altera a justeza das suas palavras. O que tentei demonstrar foi que em política, nomeadamente em política educativa, não existem decisões de custo zero. Eu nunca desempenhei nenhum cargo político, mas não me custa reconhecer que qualquer decisão tem o seu reverso e custo político. Se eu fosse autarca, por exemplo, não tenho acesso a um orçamento ilimitado. Tenho que fazer opções, como as faço para gerir o meu orçamento privado. Se decidir investir na educação tenho que poupar na conservação das estradas, por exemplo. E nalgumas decisões não existe espaço para a tentativa e erro. E muito menos em educação.
Em segundo lugar, congratulo-me com o facto de afirmar que nunca se sentiu inferiorizado se numa aula não sabe responder a uma questão ou se tiver quee pedir desculpa a um aluno por ter avaliado erradamente um acto seu. Conheço muitos professores que não procedem desta maneira e uma atitude como a que descreveu só o enobrece. Eu também convivo muito mal com a desculpabilização política que conhecemos, nomeadamente ao nível da educação. Só que talvez o nos separe é que eu entendo que decisões políticas devem ser julgadas no plano político. Não noutro plano qualquer, excepto, claro, se estivermos perante um crime. O novo ECD, por exemplo, foi uma decisão política e é nesse plano que ele deve ser julgado. Haverá consequências negativas para os professores e para as escolas? Pois então se se verificarem, como é quase inevitável, o nosso julgamento, como acontece em sistemas democráticos, deverá ser efectuado no plano político. Ou advoga o regresso do pelourinho quando esta equipa ministerial for substituída por outra de cor diferente? Tenho a certeza que não.
Dezembro 28, 2006 at 11:09 pm
E nalgumas decisões não existe espaço para a tentativa e erro. E muito menos em educação.
Não existe espaço? De certeza? É que já lá coube tudo e nesse aspecto os nossos governantes têm sido popperianos até à medula: tem sido tentativa e erro, uma e outra vez sem parar.
Por aí vai por um caminho estreito e sem saída.
Pois então se se verificarem, como é quase inevitável, o nosso julgamento, como acontece em sistemas democráticos, deverá ser efectuado no plano político.
Explique-me como isso funciona, nunca percebi como posso julgar politicamente um determinado ministério. Nas eleições aparecem-me partidos, muitas vezes com pessoal que renega tudo o que os camaradas fizeram com mmais ardor do que Maomé renegou o toucinho.
Ou advoga o regresso do pelourinho quando esta equipa ministerial for substituída por outra de cor diferente? Tenho a certeza que não.
O meu carácter sanguíneo impede-me de colocar tal opção fora do baralho. Lembro-me de umas torturas públicas medievais particularmente deliciosas…
😀
Dezembro 29, 2006 at 12:21 am
“nunca percebi como posso julgar politicamente um determinado ministério.”
É fácil. É fazer aquilo que foi feito com esta ministra: manifestações, protestos, etc. É possível colocar a fasquia no plano jurídico, como tem advogado. Mas esta estratégia tem limites. Não está a ver alguém a colocar uma providência cautelar contra a implementação da TLEBS, ou está? Por fim, o voto de cada um de nós em altura de eleições.
Quanto a decisões para as quais não existe espaço para a tentativa e erro elas são muitas em educação. Veja o caso da escolaridade obrigatória. De acordo com a actual Lei de Bases do Sistema Educativo é de 9 anos. Há alguns atrás falou-se em prolongá-la para 12 anos. Mas para isso tem de se alterar a Lei de Bases, medida que tem que ser tomada ao nível do Parlamento. Na altura em que esta discussão se colocou todos os partidos políticos eram a favor. Na minha opinião teria sido uma má decisão. Uma vez tomada ela é dificilmente reversível.
Dezembro 29, 2006 at 2:23 pm
Quererá dizer “irreversível”, julgo eu.
Quanto ao julgamento político de uma política sectorial, permito-me discordar de novo.
As manifestações e as greves deram resultados parcos e cada vez darão menos em sistemas democráticos com maiorias consolidadas e em que os Governos aleguem o interesse nacional, mesmo que isso seja duvidoso.
No momento das eleições eu voto num partido, num eventual candidato á primeiro-ministro ou voto em alguém que, globalmente, está mais próximo das minhas ideias (ou eu das dele ou dela).
Não exerço de modo algum um juízo soibre uma política sectorial ou parte dela.
Por isso mesmo, os programas eleitorais são sucessivamente desrespeitados com base em fundamentações oportunistas e nada acontece.
É a democracia que temos, sei que parece ser o menos imperfeito dos sistemas disponíveis e realizáveis na Terra, mas isso não me diminui em muito a insatisfação e a sensação de menorização de todos nós.
Dezembro 29, 2006 at 11:02 pm
Irreversível ou dificilmente reversível são termos próximos em termos de significado.
Lembrei-me de um exemplo relativamente recente a propósito do custo das decisões políticas em educação: a suspensão da reforma do ensino secundário realizada por David Justino. Num livro publicado há poucos meses, A Reforma do Ensino Secundário, o antigo ministro tenta justificar a sua decisão. Independentemente do que dela pensarmos, esta suspensão teve algumas consequências negativas. Travar mais o processo acarretaria muito provavelmente indemnizações elevadas para com as editoras de manuais escolares em virtude da aprovação de determinados programas. Boa decisão? Má decisão? Qualquer que ela fosse teria custos e estes devem avaliados numa perspectiva essencialmente política.
Quanto aos programas dos partidos políticos e às políticas sectoriais que apresentam temos sempre que fazer uma espécie de média interna para votarmos, tomando em conta múltiplos factores, em particular o perfil do candidato a primeiro-ministro.
Eu confesso que leio os programas dos principais partidos relativamente a duas ou três áreas e a educação é sempre uma delas. Nste aspecto julgo que o actual governo não se está a desviar muito do seu programa. Veja em http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Programa/. Poderemos concordar muito ou pouco com o programa e com a sua implementação. Mas encontra algo que se afaste muito daquilo que foi aprovado no Parlamento ou do programa do PS?
Dezembro 29, 2006 at 11:33 pm
Não estará a confundir “programa de Governo” (aquele que se aprova na AR depois das eleições) com “programa eleitoral” (o que se apresenta ao mexilhão antes das ditas)?
Se fossem a mesma coisa eu talvez andasse por aqui a perorar menos.
Não me lembro exactamente de ter lido nada sobre quotas aqui: http://www.ps.pt/bases/bases_programaticas.pdf.
Na página 46 faz-se um voo generalizante sobre o tema, mas não está lá nada escrito e muito do que está – estabilização do dorpo docente e, pasme-se, colegialidade da direcção estratégica das Escolas – é claramente posto em causa por este ECD.
Mas agradeço~lhe particularmente esta réplica porque já me deu tema para um post de final de ano.
😉
Janeiro 2, 2007 at 12:51 am
Eu também comecei no canto inferior esquerdo. O teste ainda não existia mas lembro-me bem do que pensava com 20 anos. Agora ando nos -2.5: -2.5. Ainda assim pela esquerda… O que me agrada porque confirma que um liberal de esquerda é coisa possível…