Contra o sector público da Educação e contra a classe docente têm sido usados os argumentos e truques mais demagógicos e populistas que é possível imaginar, ou quase. Desde campanhas mediáticas em órgãos da comunicação permeáveis até à manipulação ou truncagem de estatísticas de tudo nos serviram um pouco. Tivemos uma Ministra a alienar com aparente agrado toda a classe em troca do virtual apoio da opinião pública ou mesmo a recomendar aos docentes sque soubessem ler, secretários de Estado a chantagear sindicalistas na praça pública, debates televisivos telecomandados, dossiers sobre a Educação publicados com dados errados ou seleccionados a gosto e inclusivamente distorção de escalas em gráficos, tivemos despachos, circulares e orientações de legitimidade mais do que duvidosa para tornar situações de facto, o que só poderia ser alterado com a entrada em vigor do novo Estatuto.
No entanto, se alguém riposta contra essas estratégias, denuncia as suas perversões ou critica a competência técnica de certas decisões e decisores, existe logo uma barragem que clama contra a “caricatura” das críticas, contra o corporativismo das reacções ou mesmo contra o que se considera ser uma fulanização da política. É o triunfo da defesa politicamente correcta das caneladas políticas do Governo.
Mas eu para o politicamente correcto nunca dei muito e muito menos gosto que me enfiem barretinas que não são à minha medida. E por isso não me incomoda nada devolver o mesmo tipo de ataque feito aos docentes como, por exemplo, o que é apontado como a falha da classe em combater o insucesso e o abandono escolar. Combate onde considero que a escola e os docentes têm um papel importante, mas não único ou sequer o suficiente para inverter a situação.
Por isso, vejamos o perfeito atestado de menoridade e incompetência explicitamente passado pela União Europeia à governação portuguesa nos últimos 10-12 anos. Em relatório sobre o desempenho a economia portuguesa, o nosso país é apresentado como o mau exemplo a não seguir pelos recém-chegados à União Europeia. Embora o texto se centre mais na última década, os dados usados remontam a 1992-93 para demonstrar o completo falhanço de Portugal em aproveitar a boleia dos subsídios europeus para se modernizar e o tempo das “vacas gordas” para fazer as reformas orçamentais necessárias a tempo, assim como para aumentar os seus níveis de produztividade e diminuir o desequilíbrio da balança comercial.
Neste pacote são arrasados de uma penada e em poucas páginas políticos e economistas da nosa praça, muitos dos quais agora parecem ter visto a luz depois de contínua cegueira. Olhemos para os nomes dos governantes que temos, assim como dos opinadores oraculares, e encontrá-los-emos a quase todos com cargos de responsabilidade elevada no período que agora se aponta como de descalabro e falhanço.
Mas há sempre aquele argumento interessante de terem aprendido com a experiência e de agora estarem verdadeiramente empenhados em remendar as asneiras feitas. Isso não me convence, pois a quase nenhum destes simpáticos senhores e senhoras ouvi ou li palavras de admissão dos seus disparates passados (será a minha veia negativa de não gostar de dar a outra face sem retribuição? pois sim, que seja!) e nada me faz crer que eles tenham aprendido algo certo no entretanto, sendo que no entretanto os ouvi dizer que antes tinham feito tudo bem.
Não sejamos hipócritas: Portugal não é um país de incompetentes a todos os níveis. Temos é um enorme défice de qualidade nas elites que se substituem no Poder e que transmigram alegremente entre os círculos do poder político e do poder económico (vejam-se os Dias Loureiros, os Pinas Mouras do cinzento centrão), défice esse que se torna ético e moral no plano das instituições mais elevadas do Estado, quando se conhece que o próprio Procurador-Geral da República que saiu era a fonte das notícias lançadas para a imprensa através de uma assessora pessoal que foi por ele sacrificada para se defender.
Não imputemos à Educação de hoje a crise do país. Estes senhores não foram educados por mim, nem pela generalidade dos meus colegas. Se fossem talvez tivessem colocado o interesse do país acima dos interesses particulares (partidários, de grupo e individuais) e não aparecessema gora a pedir sacrifícios a quem não foi responsável pelo afundamento geral em que nos encontramos.
Que eu saiba, não foi nenhum professor do Ensino Básico e Secundário que definiu a política orçamental do final do cavaquismo ao final do guterrismo, que enterrou dinheiro em IP’s mal desenhados e não na qualificação real da população, que preferiu exibir frotas automóveis de alta cilindrada em vez de investir na reconversão de uma estrutura produtiva globalmente arcaica e incapaz de enfrentar a globalização de que tanto se fala. Se o fosse talvez tivesse sabido fazer contas, talvez tivesse sabido avaliar a situação, talvez tivesse tomado em seu tempo decisões difíceis, não as adiando até se tornarem muito difíceis (principalmente para os outros).
Não me digam que este discurso é demagógico; mas mesmo que o seja, que se dane. Está à vista de todos quem tem deixado o país à deriva.
Dezembro 28, 2006 at 7:04 pm
“…Estes senhores não foram educados por mim, nem pela generalidade dos meus colegas. Se fossem talvez tivessem colocado o interesse do país acima dos interesses particulares…»
Pobre País se os Professores dos actuais Governantes tivessem sido educados por si ou pela genaralidade dos seus colegas que se sentem muito valorizados por escreverem na Blogesfera…
Será que você em função do seu discurso, não põe os seus interesses acima dos interesses do Pais?
Será que voçê dá aulas e é mesmo Professor?
Pobres alunos!
Dezembro 28, 2006 at 7:27 pm
Será que “voçê” foi mesmo Professor?
Sem sequer saber escrever “você”?
E “voçê” sente-se muito valorizado em comentar na blogosfera e escrever um post cada ano bissexto?
Porque se o que pretende é vir para aqui à pedrada, garanto-lhe que eu não dou a outra face, só para me armar em politicamente correcto.
Leia, concorde ou discorde, mas não ponha em dúvida a honestidade dos outros, sem antes dignar-se fazer a sua declaração de interesses, já que age a coberto de identidade desconhecida e ninguém sabe ao que anda.
Se não gosta, passe ao lado e deixe-se mesmo de tretas.
E não seja alarve como o outro que deve ser da mesma faixa etária e com os mesmos interesses.
Dezembro 28, 2006 at 9:40 pm
O giro é que é tão esperto mas cai em todas ratoeiras.
Detectou que o segundo “voçê” estava mal escrito…
Eu ter sido ou não Professor é indiferente, pois até podia ser analfabeto e ser tão ou mais digno que qualquer Professor
Parabéns excelente Professor e até escreve no blog todos dias, que até lhe favorece muito o “curriculum”
Você porque se identifica com um nome ( que sei lá se é o seu verdadeiro nome), acha-se menos anónimo que eu.
Por acaso já identificou a Escola onde vende aulas?
Não tenho pachorra para pseudo-pensantes intelectuais de nível duvidoso, que só escrevem disparates, mas acham que a sua produção é de valor elevadíssimo.
E mude de disco na argumentação, pois a minha afirmação na vida não passa por escrever Post’s todos dias num Blog.
Dezembro 28, 2006 at 10:13 pm
Não o conheço, mas tenho pena de quem o conhece pois deve ser bestialmente frustrante tentar dialogar consigo, por isso não dou mais para pseudo-críticos que nada adiantam.
Quanto a mim, não deve ser difícil saber quem sou.
Venho na lista e com nome próprio.
A si, por exemplo, aulas nem vendidas a peso de ouro e olhe que eu peso bastante.
Há casos perdidos que não se devem sequer tentar remediar.
Over and out.