Eu já recebi a indicação deste link há vários dias e foi mesmo um dos motivos porque fiquei com pior impressão sobre os materiais disponibilizados pelo ME/DGIDC para apoiar a generalização da TLEBS. Não entrei numa análise específica porque relembrei os terrores dos meus 8º e 9º anos unificados, mais daquele do que deste, porque no caso do 9º a extrema qualidade do professor ultrapassou estes escolhos. Apesar de razia generalizada na turma, não me fez desgostar de nada do que ensinou e os Lusíadas passaram de forma pacífica juntamente com A Abelha na Chuva e A Farsa de Inês Pereira (neste caso com gáudio generalizado mesmo entre os mais renitentes).
Para além disso, não sendo das Literaturas nem da Linguística não tenho o arcaboiço técnico para aprofundar muito a minha crítica para além de apontar o óbvio, ou seja, o pavor que é usar como exemplo da obra em causa tal estrofe e depois bombardear os alunos com aquelas propostas de análise.
Eu sei que não se deve recusar o que é difícil apenas porque é difícil. Agora acho que se deve tentar clarificar ao máximo a forma de abordar conteúdos difíceis, o que é muito diferente de simplificá-los.
Sendo contra a simplificação dos conteúdos sou totalmente favorável a métodos de trabalho que clarifiquem e permitam que o que é complexo possa ser assimilado, com esforço é certo, de uma forma não desnecessariamente agressiva. E neste caso o que se passa é uma verdadeira agressão, mascarada de modernismo powerpointiano e de um prazer taxidermista pelo detalhe.
E se o nosso desejo é despertar, manter ou aprofundar o gosto pela leitura dos clássicos esta é realmente a forma errada de o fazer. Para dividir e classificar frases ou para identificar predicados há outros textos bem mais adequados. Os Lusíadas são para saborear a linguagem. Não para amortalhá-la com etiquetas.
Novembro 22, 2006 at 11:13 pm
Paulo, é que ainda agora e noutro lugar deste blogue lhe dizia; a terminologia é demasiado extensa, há a tentação de a usar toda para mostrar serviço. Para esta gente não há perdão, a pior arrogância é a do ignorante: quem fez isto não sabe o que é ensinar Português, não sabe o que é a língua, não entende o valor de “Os Lusíadas” para a língua. Mais: fará seguramente com as pobres crianças do 9º ano (14 anos, meu deus, idade em que se começa a amar) detestem para sempre a língua, em lugar de venerar a herança -saborosa, como um prato requintado do tempo dos avós e que só se come em ocasiões de festa – dos clássicos.
Novembro 23, 2006 at 11:07 am
Isto é só a ponta do iceberg (ou será do titanic? 😉
Mais em:
http://educacaocor-de-rosa.blogspot.com/2006/11/os-materiais-de-apoio-tlebs_23.html
Novembro 25, 2006 at 7:23 pm
É inacreditável que esta aberração tenha sido feita por professores para exemplicar conteúdos tlebofóbicos! Se não visse com os meus próprios olhos não acreditaria. E ninguém faz nada contra esse surrealismo linguístico e terminológico, obrigatório no secundário? Pobres alunos e professores, pobre língua portuguesa!