Não conheço o jornalista e opinador residente do Expresso que dá pelo nome de Fernando Madrinha. Pelo que leio é pessoa bem informada, com opiniões consensuais q. b. e umas causas pontuais que lhe suscitam maior adesão ou aversão. Tudo isso acho legítimo e normal, assim como a expressão de qualquer tipo de opinião sobre este ou aquele actor político, acontecimento nacional ou o que seja.
Mas reservo-me o direito de, perante o que acho ser um rematado disparate em termos de argumentação, protestar e exercer o meu contraditório, à minha ínfima escala.
E a crónica desta semana de Fernando Madrinha sobre a questão da avaliação dos professores enterra-se naquele tipo de argumentário que, repetido sem contradição, corre o risco de se ir inscrevendo como verdadeiro no espírito das pessoas.
Retomando uma linha de raciocínio que alguns comentadores que defendem a política do Ministério da Educação gostam de usar por suporem-na irrefutável, FM afirma que uma avaliação sem quotas é uma contradição nos termos.
Não percebo bem onde é que FM (e alguns outros) colheram esta noção como indesmentível. Suponho que em estudos estatísticos sobre a distribuição da inteligência humana ou sobre o desempenho dos trabalhadores em algumas organizações. Só que esses estudos – nunca devidamente identificados, mas aludidos vagamente – dificilmente são generalizáveis a todo o fenómeno social ou a todas as práticas de avaliação, em organizações ou qualquer tipo de grupos e fenómenos humanos concretos.
Vejamos apenas dois aspectos, um de ordem prática e outro de ordem teórica, mas claramente interligados.
- Na prática, não indo mais longe e ficando apenas pela minha própria profissão, acontece que eu, em quase duas décadas, todos os meses, todos os períodos e todos os anos, tenho sido obrigado a avaliar mais de uma centena de alunos (por vezes menos, por vezes muitos mais). Quando o faço, faço-o de forma estritamente dependente do desempenho demonstrado pelos alunos individualmente e em termos relativos, claro. Mas nunca distribuo as classificações de acordo com fórmulas estatísticas ou mágicas, sejam elas a curva de Gauss que fazia um professor meu da Faculdade “acertar” classificações para que os factos concordassem com a teoria, ou qualquer outro artifício exógeno e condicionador da minha avaliação. Aliás, só assim compreendo o meu acto de avaliar como o mais equitativo e neutro possível. Não tenho apenas 5% de Excelentes a dar numa turma, ou 25% de Satisfaz Bastante. Há turmas em que esses valores são largamente ultrapassados, enquanto em outros são metas demasiados longínquas. E tudo varia conforme as disciplinas que lecciono e o mesmo observo em relação aos outros docentes. Em momento algum me ocorreu que, numa turma ou no conjunto de alunos que tenho, a minha avaliação teria de, para ser considerada justa, depender de artifícios deste tipo. Isso seria uma limitação perfeitamente disparatada, para além de um atestado de menoridade a todos os envolvidos, avaliador e avaliados.
- E daqui se parte para a questão teórica que é a seguinte: admitindo que a fórmula das “quotas” é cientificamente válida (o que duvido até demonstração em contrário, pois há distribuições assimétricas em todo o tipo de fenómenos soiciais) qual a unidade de análise que se deve tomar como base para determinar o valor da distribuição “ideal” de classificações? Voltemos ao meu caso: deverei usar como unidade cada turma por si, o conjunto das minhas turmas ou atender ao conjunto de todos os alunos da Escola? É que toda a lógica subjacente a este raciocínio parece ser a clássica “lógica da batata” pois, se fosse real uma distribuição previsível das classificações, como se justificaria que a distribuição das classificações seja tão diferente entre Escolas? No caso da carreira docente, uma quota geral de 5% para Excelentes e de 30% para classificações superiores a Bom baseia-se exactamente em quê? Que unidade de análise deve ser usada como padrão? Todo o conjunto dos docentes? Apenas os que estão integrados nos quadros? Segmenta-se por áreas currciculares? Por escalões etários? Por zonas geográficas? Ou acreditamos que, à moda do totalitarismo ideológico, tudo se distribui de forma uniforme em todos os lados?
O que me parece é que Fernando Madrinha, como muitos outros arautos deste sistema de avaliação por quotas, partilham uma concepção da sociedade, das organizações e dos grupos humanos, como funcionando necessariamente com base em modelos “redondinhos” e previsíveis. Ora sabemos há muito que esse tipo de pensamento, positivista na origem “científica” e totalitário na sua “engenharia social”, é desajustado às realidades humanas que, felizmente, ainda conseguem ter ânimo para serem singulares e específicas nas suas manifestações.
Claro que, como historiador por formação e vocação, tendo a dar demasiada atenção aos detalhes das situações concretas, às singularidades, e só gosto de recorrer a modelos como pontos de referência, ao contrário de pessoas de outra formação como, apenas a título de exemplo, economistas e sociólogos que asentam os seus esquemas conceptuais mais em modelos baseados nas regularidades, no cálculo das probabilidades e na eliminação dos elementos “estranhos” ou irregulares que perturbem a harmonia do conjunto, classificando-os como aspectos marginais e irrelevantes.
O problema é que, dessa forma, e quando aplicadas a grupos humanos, essas concepções abstractas traduzem-se em situações de injustiça para com os indivíduos e, pior do que isso, ao enquadramento forçado da realidade às determinações da teoria. Mas, ao que parece, o que está em jogo é mesmo encaixar a realidade nos 3% de défice das contas públicas e as pessoas que se arranjem. A conversa em torno do mérito é só a poeira que distrai ou perturba a visão de quem quer, ou melhor, de quem não quer ver mais longe.
Novembro 4, 2006 at 4:38 pm
Também não conheço este comentador e não me atrevo atribuir-lhe a autoria de algo que desconheço nem tão pouco o meu comentário lhe é dirigido. O que me importa destacar do teu texto é a ideia de organização social que transparece de discursos positivistas. Atendendo à precariedade dos empregos e dos lugares socialmente relevantes, a mobilidade social que vai a reboque da educação acaba por ser um problema concorrencial para os “filhos das classes” tradicionalmente mais protegidas.
Novembro 4, 2006 at 5:12 pm
Peço desculpa, comentei o post abaixo quando pretendia inserir o meu comentário neste …
Novembro 4, 2006 at 8:27 pm
Aquela de “a ministra … ou dava um passo em frente ou demitia-se” é de gritos!…
Lembra-me a tirada atribuída a Costa e Silva, presidente do Brasil há muitos anos: ANTES DE MIM, O BRASIL ESTAVA À BEIRA DO ABISMO! AGORA, DEMOS UM PASSO EM FRENTE!
Pena a ilustre senhora não saber que está à beira do abismo, e que esse passo em frente pode sair caro ao País! O passo das quotas!
Novembro 4, 2006 at 9:46 pm
Já não há paciência para ler estes fulanos. A bem da minha sanidade mental.
E por falar em tiradas brasileiras,um jornalista (tipo F. Madrinha?!)dizia certa vez num comentário: “Penetramos agora na floresta virgem da Amazónia, ONDE A MÃO DO HOMEM JAMAIS PÔS O PÉ”.
Novembro 4, 2006 at 9:52 pm
E já agora,leram o que uma professora e formadora – Idalina Jorge, de Oeiras- escreveu na revista do Público de hoje? Algo que devia ser comentado.
Pensei em fazê-lo….mas vai-me faltando o Rancor e, de qualquer modo, os meus comentários nunca foram lá publicados.
Novembro 4, 2006 at 10:09 pm
LOL
Bem apanhados os comentários Fernanda! A do pé é liiinda e a outra é tipo a censura.
Não li a revista do Público, não quer mesmo comentar e informar? Interessa passar a ideia 🙂
Já agora, remeto para um comentário de um ilustre que tem um blogue chamado “Incomprofpetência: Se a critica na blogesfera se estende a todas as áreas, porque não, também se debater, sobre as incompetências de alguns Professores.”
Vejam em http://asinistraministra.blogspot.com/2006/11/o-governo-e-confraria.html#links(passo a propaganda à sinistraministra).
Desculpem-me pela extensão …
Novembro 5, 2006 at 12:05 am
No comentário em questão, a professora Idalina Jorge(Mestre em Ciências da Educação-Orientação da Aprendizagem, UCP),Oeiras, começa por dizer que não fez greve, apesar de criticar fortemente a Sra Ministra por ter vindo a retirar aos professores “a autoridade natural que lhes deve ser reconhecida enquanto adultos cuidadores da juventude”.
O que me chamou mais a atenção nesta primeira parte, não foi o facto de a colega não ter feito greve. Foi a expressão “adultos cuidadores da juventude”.
O comentário continua com o 2º dia de greve. “Vai-te embora, porca, que hoje é dia de greve”, disse um aluno do 8º ano no recinto escolar.Porque, ainda por cima, o aluno não lhe facultou o cartão de estudante, a colega fez uma participação disciplinar por escrito.
O que teria eu feito, se tal me acontecesse? Posso garantir-vos que antes de participar deste aluno, teria tentado falar com ele e debatido a questão. Teria sido uma óptima ocasião para uma sessão de Competências Cívicas.
A colega termina, dizendo que haverá muita gente que a responsabilizará pelo acontecido pelo facto de não ter feito greve.
Nada disso. Eu, ( futura professora não titular)responsabilizo-a por não ter sabido encontrar outra solução para esta situação grave. Apesar de ser Mestre em Ciências da Educação, apesar de considerar que é “cuidadora” da juventude.
Laurinda Alves, directora da revista, envia em seu nome, e em nome da revista, um abraço de solidariedade e de coragem.
Novembro 5, 2006 at 12:51 am
Ironicamente, acho que uma das coisas notórias que deduzo do discurso da sinistra e da política para a educação desejada (por eles) é exactamente tornar os professores “cuidadores da juventude”. Tomar conta deles. Fazer com que sejam seres preenchidos sem liberdade para ser e crescer de forma autónoma e consciente.
Obrigada pela sua resposta 🙂
Já agora, julgo que participar – referir, colocar ao dispor, …- é sempre necessário. Nos bons e maus casos. Nesse sentido, o que o jovem disse devia, na minha perspectiva, ter sido participado. Até porque foi ofensivo. há que haver respeito. Em contrapartida, não percebi a parte em que a docente diz que “haverá muita gente que a responsabilizará pelo acontecido pelo facto de não ter feito greve”. Acho uma manifestação de ego desnecessária … enfim …
Abraço!
Novembro 5, 2006 at 9:18 am
Parece-me cada vez mais uma evidência que os jornais e seus jornalistas tomaram claramente partido pela propaganda ministerial, exaustivamente repetido sem qualquer análise crítica e invocando fontes e estudos que nunca chegamos a conhecer. Como contrapartida, e não só por causa desse tipo de jornais pseudo-elitista onde são quase exclusivamente os professores universitários que se podem pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa, os jornais, mesmo os ditos de referência (já agora, referência de quê?), têm perdido muitos leitores (daí o recurso à oferta de brindes!), enquanto os blogs os têm vindo a ganhar, devido à sua liberdade de informação e discussão. Fui leitor compulsivo de jornais durante décadas: actualmente, quando me quero informar, recorro a certos blogs. Este é um deles e não é demais salientar quanto ele representa num debate sério sobre a educação e o ensino num momente extremamente difícil para a dignidade dos professores e para o futuro do ensino no país. Pena é que não encontremos nos jornais á mesma profundidade neste tipo de debates. Aliás, só falta acusar os professores do aumento das tarifas da electricidade ou pelas recentes chuvadas… Continua, Paulo. Mais uma vez um abraço pelo teu delicioso trabalho neste blog e pelos bons momentos de reflexão, a que não falta a ironia e o bom-humor em doses certas. João Esteves
Novembro 5, 2006 at 10:37 am
Fernanda, lembro-me de ter lido esse comentário, e a impressão que me deixou foi de uma extrema contradição entre as várias coisas que eram ditas pela colega, ligada ao verter do ódio sobre as pessoas e não sobre o sistema que as permite. Como exemplo, citarei: “as mulheres de militares que tinham doze no estágio ficaram ao pé de casa”, enquanto essa colega tinha ido parar longe apesar de ter tido a nota máxima. (Seguia-se uma descrição das limitações impostas à sua vida sexual de recém-casada… )
Ora aquela é uma situação consagrada na lei, e não podemos odiar as pessoas por terem direito a tirar partido daquilo que a lei lhes permite! Se está mal, é o sistema que tem de ser mudado. Se não está, então… nada a dizer!
Tenho encontrado colegas assim: o ódio gerado pelas decepções que acompanham a profissão cega-as e leva-as a tirar conclusões estranhas: parecem culpar toda a gente menos os verdadeiros responsáveis!
O que mais me impressionou nesse texto (que li num dos blogs dedicados à educação) foi precisamente o ÓDIO que respirava em cada linha. Se alguém escapava a esse ódio? Dentro da escola, eu diria que não!… Tudo parecia ser feito com uma fúria concentrada e venenosa, desde o estágio ao mestrado passando pelas aulas e a relação com os colegas
Este é, para mim, um dos exemplos do que pode resultar de uma má gestão da agressividade que estamos sujeitos a desenvolver por causa das duras condições psicológicas do nosso trabalho: auto-mutilação, com os resultados à vista!… :((
Novembro 6, 2006 at 11:51 am
O Madrinha, de quem não sou admirador, toca na ferida, apesar da caixa associada ao artigo ser infeliz.
Comentando a “prática” e a “teoria” deste post:
Prática – A avaliação dos seus alunos sem curvas de Gauss ou outros artifícios permite classificá-los no contexto da escola e mais tarde no contexto Nacional, pelos exames Nacionais. Aqui não deve haver lugar a quotas de excelência para notas elevadas ou coisas do género. Não o defendo nem penso que alguém o defenda. O paralelo a estabelecer com o tal sistema de “quotas” agora proposto não é esse, porque me parece que ninguém quererá limitar a classificação do Professor. O limite está nas vagas (como já disse a palavra quota não é a mais adequada neste contexto) existentes na escola, assim como no caso dos alunos o limite está nas vagas do ensino superior. Em resumo: qualquer mérito quando aferido no sentido de preenchimento de uma vaga é, por natureza, relativo. Porque as vagas são limitadas. E a dificuldade que tenho em transmitir este conceito causa-me estranheza e leva-me a concluir que do outro lado da argumentação não se jogará com o baralho todo. Ou se quiserem, voltando a um dos meus “mantras” favoritos, parte-se sempre do pressuposto que os recursos (financeiros e outros) são ilimitados e daí partem-se para conclusões do arco da velha…
Teórica – Bem, a tal evidência científica que procura é de tal modo trivial que imagino que não figure em manuais de grande calibre, mas em qualquer manual de iniciação à economia ou à gestão. Em resumo: os meios são limitados; uma organização implica hierarquia, responsabilidade e autoridade (mais ou menos centralizada); a competição pela progressão na carreira, com recurso a critérios de mérito relativo entre os candidatos, promove a excelência.
E estas evidências estão demonstradas, pela prática, nas maiores e melhores organizações (públicas ou privadas).
Concedo que talvez Portugal e os Portugueses tenham um qualquer gene particular que os impeça de aderir à evidências que noutros sítios parecem evidentes. Nesse caso o Sócrates terá de passar a ir à Finlândia não para importar ideias e processos mas talvez para importar Finlandeses.
ManyFaces
Novembro 6, 2006 at 9:21 pm
Explique-me como se eu fosse louro: qual foi o país onde foi implementado este sistema e essa implementação se reflectiu numa maior qualidade dos resultados educativos.
Unzinho exemplo, chegava-me.
Por trivial que seja.
O que se calhar o meu amigo estará a esquecer é que uma coisa é a Finlândia com cento e tal anos de alfabetização plena, outra coisa somos nós que ao pé coxinho esperamos que os mais velhos morram para ir subindo dos 90% em pleno século XXI.
Acha que foi com sistemas de quotas na progressão dos professores que a Escandinávia ou a Alemanha, ou a Suiça, atingiram níveis de literacoa muito elevados e os mantiveram?
Não… curiosamente nesses países isso foi conseguido com uma intervenção relativamente reduzida do Estado, em virtude da ideologia religiosa luterana ou calvinista que encentivava o contacto directo com os escritos sagrados.
Por cá, quanto mais ignorante melhor. E durante muito tempo ao Estado chegava que se soubesse ler, escrever e contar até ao mais a tabuada.
Temos poucas décadas de progresso. A própria classe docente foi objecto de uma massificação recente e, ainda estava em estabilização, já a querem reduzir a funcionários acríticos.
Se é esse o caminho que acha certo, tudo bem, ficamos em claro desacordo.
Novembro 7, 2006 at 11:37 am
Caro Paulo,
Quanto à cabeleira loura não será necessário ir tão longe. Um bom princípio que sigo sempre é não menosprezar à partida a argumentação de um interlocutor e se comento este site é porque lhe reconheço qualidades, apesar das posições divergentes.
Sem ir buscar exemplos fora do sistema de ensino, conheço inumeras Universidades e colégios em Inglaterra e Estados Unidos (públicos e privados) que aplicam as normas organizativas que eu indiquei… Basta ir buscar a lista dos 50 melhores desses Países e temos exemplos que cheguam e sobram:
– Nestas organizações o quadro de professores permanentes é definido pelas própiras escolas (nada de quadros nacionais que é mais uma das particularidades Ancionais..). O Acesso ao quadro é extremamente exigente. Os professores Júnior são acompanhados e avaliados pelo “titulares” e têm de dar provas durante muitos anos de terem mérito para ascenderem a “titulares”.
Se me perguntar se um sistema destes é condição suficiente para melhorar a literacia e quaidade de ensino de um País, digo que não. Mas lá que entendo ser condição necessária, lá isso acho. É que sem profissionais de excelência não se podem fazer escolas de excelência. E sem elas não há educação que se aguente.
ManyFaces
Novembro 7, 2006 at 11:56 am
Mmmm….
As Universidades privadas americanas ou mesmo as públicas inglesas.
O Paraíso ali à frente… mesmo depois da Thatcher uma Univerdade inglesa é algo que não está ao nosso alcance.
Eu dei uma vista de olhos muito ao de leve a Oxford e um pouco ao King’s College, muito de passagem, e sei que o nível de salivação me aumentou cá de uma maneira.
Pois, mas esse é outro mundo.
As origens desses sistemas educativos são fundamentalmente privadas, como resultado de uma sociedade civil forte e que empurrou o Estado durante muito tempo.
Mas experimente ir às escolas públicas não-superiores norte-americanas e mundo já será outro.
Por cá é tudo ao contrário.
Eu andei a ler muitos processos de criação de escolas entre c. 1870 e c. 1920, mais a legislação do Estado Novo sobre a criação de escolas e postos escolares e se quiser eu arranjo-lhe as passagens em que até o arranjo de um telhado era motivo de queixas que chegavam ao topo da tutela.
E a deliciosa forma como na fase final da Monarquia – embora não seja esclusivo – em pleno Parlamento João Franco e um ex Director-Geral da Instrução Pública por ele demitido terçaram argumentos sobre a forma como se aldrabavam os provimentos de lugares para professores.
E olhe que estamos de novo perto desses tempos.
É só municipalizarem mais o ensino e destruirem o tal quadro nacional de colocações e vai ser um forrobódó dos diabos.
Aquela da “lourice” era só uma brincadeira, como certamente percebeu.
Novembro 15, 2006 at 6:00 pm
Para quem estranha a expressão “adultos cuidadores da juventude”´: é simples: vejam os vocábulos latinos educere e educare. Estão e ver a diferença? Em ambos os casos, o objecto do cuidado é a juventude. Os papéis é que são diferentes. Lastimável é haver professores tão ignorantes, que não sabem destrinçar entre um e outro papel. O pior da ignorância é que acompanha com soberba (diz o povo). Mistura fatal.
Novembro 15, 2006 at 6:43 pm
Nem todos os professores são obrigados a saber latim.
Talvez chamá-los imediatamente “ignorantes” seja uma forma de soberba bem pior do que aquela de que acusa os outros.
Mas é a sua opinião.
Tudo bem.
Novembro 16, 2006 at 4:48 pm
Paulo!
Não fizemos estágio no mesmo ano e na mesma Escola? Ou estarei enganada? 1978? Sacavém? Havia um estagiário com o seu nome.
Caríssimo: o Paulo estranhou e criticou a minha expressão “cuidadores de juventude” – isto não é latim, certo? Eu só lhe sugeri que visse a diferença entre os dois vocábulos latinos, não o chamei ignorante, tenha paciência, não use de sofismas. A questão é saber se: 1. Percebeu a expressão “adultos cuidadores da juventude” relacionada com o conceito “educere”. 2. Se não percebeu, esteja à vontade, que eu procurarei explicar. Eu quando não percebo uma coisa pergunto – os parentes não se ressentem – são de rija fibra.E eu aprendo imenso: com as auxiliares de educação, com os colegas de EV e de Educação Musical, nem se fala…
3. Não venha é com argumentos ad hominem. Argumente sem falácias e com lealdade. E reflexivamente. Os professores são pouco reflexivos: é o que dizem alguns investigadores. Professores assim produzem alunos que pensam mal. Eu já expliquei no meu blogue a importância de formar cidadãos reflexivos.Pensar, estudar, discutir. Socraticamente. Não é esse: é o da cicuta.
Novembro 16, 2006 at 5:26 pm
Cara Idalina,
Não, não fomos colegas, pois em 1978 ainda andava no 8º ano ou algo próximo. Mas isso não é relevante.
O que é importante é que penso que está a confundir as coisas: antes de mais a expressão que usa não fui eu que a introduzi nesta conversa. Se reler todo o meu post perceberá isso.
Aliás, o que eu fiz não foi um ataque ad hominem ou ad feminam, foi uma defesa da acusação generalizada de ignorância dirigida aos professores nesta sequência de comentários o que achei despropositado, assim como a de soberba. Há professores ignorantes, pois há, como há muita gente ignorante por aí.
Quanto à capacidade de argumentação, ir-me-á desculpar mas não será o meu ponto fraco. Pode não ser muito forte, mas fraco não será. Se relanceou os olhos pelo resto do blog perceberá que procuro fundamentar as minhas posições, o que aliás a maior parte dos comentadores também faz.
Se devemos afgir reflexivamente? Claro, é isso que eu tento e aquilo porque a certa altura dinamizei mais este espaço. E porque continuo a retorcer-me cada vez que os meus jovens alunos abdicam de pensar por si mesmos.
Novembro 16, 2006 at 5:28 pm
Então vamos lá imaginar o diálogo da jovem colega com o moranguinho do Vai-te embora porca:
-Porque é que queres que eu me vá embora?
Porque é porca!
– Ah!… Tá bem… Porque me chamas porca?
-Porque o meu pai também chama à minha mãe.
– Ah!… Tá bem…E porque é que bates nos teus colegas mais novos e mais fracos?
– Porque o meu pai também bate na minha mãe!
– Ah!… Tá bem… E porque é que lhes roubas as coisas que são deles?
– Porque me apetece, ó vaca (foi o que ele ouviu os professores chamarem à ministra).
– Ah!… Tá bem… E… porque é que ameaças os teus colegas mais novos com x-actos para lhes extorquires dinheiro?
– Ah!… Tá bem…
– Olhe, e já agora tome lá (enfia-lhe o x-acto no estômago)
DIÁLOGO COM OS QUE SOFREM!!!
Estas informações são autênticas. Vim depois a saber que o moranguinho fazia estas coisas todas. Escrevi à direcção e disse: Se o K (não posso dizer o nome) é mais alguma vez ameaçado pelo
moranguinho, vou ter que me chatear (desculpem lá o termo).
Vejam notácia no meu blogue.
Um abraço da
Idalina
Novembro 16, 2006 at 5:31 pm
Então vamos lá imaginar o diálogo da jovem colega, que havia de conversar com o moranguinho do Vai-te embora porca, antes de pedir o cartão -Porque é que queres que eu me vá embora?
– Porque é porca!
– Ah!… Tá bem… Porque me chamas porca?
-Porque o meu pai também chama porca à minha mãe.
– Ah!… Tá bem…E porque é que bates nos teus colegas mais novos e mais fracos?
– Porque o meu pai também bate na minha mãe!
– Ah!… Tá bem… E porque é que lhes roubas as coisas que são deles?
– Porque me apetece, ó vaca (foi o que ele ouviu os professores chamarem à ministra).
– Ah!… Tá bem… E… porque é que ameaças os teus colegas mais novos com x-actos para lhes extorquires dinheiro?
– Porque preciso de dinheiro, ó porca.
– Ah!… Tá bem…
– Olhe, e já agora tome lá (enfia-lhe o x-acto no estômago)
DIÁLOGO COM OS QUE SOFREM!!!
Estas informações são autênticas. Vim depois a saber que o moranguinho fazia estas coisas todas. Escrevi à direcção e disse: Se o K (não posso dizer o nome) é mais alguma vez ameaçado pelo moranguinho, vou ter que me chatear. (desculpem lá o termo).
Vejam notícia no meu blogue.E leiam o artigo do meu estimado professor Daniel Sampaio: Menos psicologia, mais educação.
Um abraço da
Idalina
Novembro 16, 2006 at 6:19 pm
Nâo me leve a mal, mas depois de tentar perceber a origem do “mal – algo relacionado a revista do Público – continuo sem perceber o suficiente para lhe responder adequadamente.
Provavelmente meti-me no que não devia.
Novembro 16, 2006 at 8:55 pm
Entretanto li o excerto da sua carta à Visão.
Como quase descreve a minha situação, faço-lhe aqui a minha vénia.
Novembro 16, 2006 at 11:10 pm
Obrigada, Paulo. Não tem de quê.
Estão a sair mais coisas minhas na comunicação social. E agora só onde e quando eu quero, porque é bom para a tosse.Escrevi um comentário a propósito de o escritor Lobo Antunes dizer que é autista, quando eu entendo que ele é só mau. Ai, que era muito violento, e tal, que só podiam publicar metade, ao que respondi que não publicavam nada. Que isto de jornalistas, também há que pô-los no lugar.
Mas é professor de quê, posso saber? Não consigo qualquer indicação a esse respeito no seu blogue. Não é uma crítica,apenas uma observação, entenda. Quando alguém atrás diz que eu escrevi na Revista do Público, não é verdade. O que aconteceu foi que mandei os dois textos do meu blogue a um ex-professor de mestrado, com quem já croniquei. E ele enviou-os à Laurinda Alves. Aliás, eu já tinha escrito aquilo tudo nos jornais, saiu em dose repetida.Depois vem o post(10) de mesimoes, ou que é. Que a Lei é assim, a propósito da minha referência à Lei dos funcionários públicos casados com funcionários públicos. Eu nunca contestei a Lei, só registei os seus efeitos. As colegas que tiveram doze ficaram em escolas perto de casa, eu fui efectivar ao Alentejo. Mais digo: fui muito feliz no Alentejo (à parte as saudades do meu Jorginho – os seres humanos são sexuados, as professoras também, é sinal de saúde, acho eu). Mas se a personagem diz que as leis são as leis, então porque contesta as Leis? Esta conversa faz sentido? É de pessoa que não tem um milímetro de massa cinzenta, tenha paciência. Outra coisa é confundir a frontalidade com ódio. Acho piada sermos todos tão insidiosamente maledicentes, mas não sermos capazes de erguer a voz para dizermos o que pensamos.Se alguém o faz, é por ódio. É um resquício salazarento. Leu a crónica de José Gil que originou o meu apontamento? Brilhante. Não há um único comentário neste seu blogue a essa crónica, já reparou? Será por acaso? Pode ir ao meu blogue, que eu transcrevi-a.
Um abraço. (Afinal a diferença etária não é assim tão significativa. São só uns treze anos. Tenho primos mais novos).
Novembro 20, 2006 at 9:54 pm
Então, Paulo? Gostou das notícias hoje do Público?
Particularmente aquela a que se refere quando fala da minha carta à Visão?
Ele foram cartas para a Sra. Ministra, aos Senhores Secretários de Estado, ao Exmo. Conselho Nacional de Educação, a digníssima Comissão de Educação da Assembleia da República. Como vê, não foram os Sindicatos a fazerem nada por mim. Nenhum deles fez, nos trinta anos da minha carreira, nada por mim. Quanto a eles, tenho mantido um silêncio estratégico, embora à vezes tenha vontade de puxar pela minha costela granítica (a outra é minhota, sempre é mais gaiteira). O estimado colega Rui Baptista, Presidente da Assembleia Geral dos Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, envia uma carta para o público, onde cola acriticamente vários textos de pessoas, algumas das quais não percebem nada de educação, mas insitem em botar faladura de ignorância, como é o caso de Filomena Mónica. A minha vontade foi comentar que já percenbia o papel de alguns dirigentes sindicais: coladores de textos. Mas enfim, enquanto as negociações durarem é necessário manter um silência estratégico relativamente a este gente. Mas está para a próxima.