Vídeo-Memórias


… quando ele descansa. Acho que não merece.

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Tudo a 5 euros, mas já só se encontra por encomenda porque na maioria das livrarias já não se encontram.

Apesar de termos o desnecessário prazer da crónica de António Ribeiro Ferreira na página 2, num tom que me evoca, estranhamente, algumas prosas que andam pela blogosfera menos sofisticada alinhada com o poder.

Mas, ia eu escrevendo, podemos sempre comprar o jornal, evitar por razões de quarentena intelectual abri-lo, na tal página, ou preferencialmente ficarmos apenas com o primeiro dvd da série sobre a Guerra Colonial produzida pela RTP sob a direcção de Joaquim Furtado.

A série é excelente a muitos níveis e deveria ser obrigatória nas mediatecas de qualquer Escola Secundária ou EB23 que se preze.

Aquele 15 realmente foi muito bem merecido. O resto são más-línguas.

O problema é mesmo que o sol é capaz de não estar pelos ajustes.

Ao contrário do que se se pensa não são os States mas o Portugal Socrático.

Note-se desde já que nada tenho contra programas que visem o retorno de adultos e não-adultos à escola para completarem as suas habilitações e terem a sua devida certificação, potenciadora de uma melhoria da sua situação laboral e material.

Do que eu não gosto muito é do seguinte:

  • Programas que atribuem certificações formais, sem que os formandos tenham adquirido quaisquer competências relevantes, assim permitindo apresentar taxas de sucesso elevadíssimas, ficando por provar se essas taxas correspondem a aprendizagens efectivamente realizadas, se apenas ao cumprimento de directrizes superiores viradas para o “sucesso”.
  • Programas que resumem vários anos de educação e/ou formação em módulos de créditos de meia dúzia de meses, assim possibilitando elevar a taxa de conclusão da escolaridade básica de uma forma paralela e, em alguns casos, injusta para quem seguiu o seu percurso normal com dificuldades mas com persistência.
  • Programas que permitem, na esteira do que atrás ficou dito, aceder ao Ensino Superior sem ter completado sequer metade da escolaridade prévia e sem que tenhamos a garantia de existirem controles eficazes do rigor da sua implementação e do acesso à Universidade.

Ora o que me parece, pelo que vou conhecendo de algumas realizações resultantes do programa Novas Oportunidades (seja no âmbito de CEF’s e afins ou de EFA‘s), é que a aposta é feita principalmente na vertente da certificação e não tanto na do desenvolvimento de competências. Porque é a única maneira de compreender que sejam criados cursos em áreas profissionalizantes, de tipo obviamente técnico e prático, que são dados sem que existam nas instituições ou escolas onde são leccionados, os equipamentos técnicos indispensáveis para complementar uma formação puramente teórica antes do estágios em contexto de trabalho. Sei do que escrevo porque há alguns anos dei apoio burocrático a um curso de nível II (9º+1) na área da Restauração, ajudando na papelada destinada a receber apoios do PRODEP para o projecto. O dinheiro foi escasso e chegou tarde, mas lá chegou e permitiu que a Escola em causa tivesse equipamentos mínimos para desenvolver o curso e adquirir os produtos consumíveis (e comestíveis) para o efeito. Agora fazer um curso destes só com aulas teóricas, como se passa em muitos casos, já me parece razoavelmente estranho. Assim como em outras áreas de formação que requerem mais do que mesas, cadeiras, formador e computadores.

Alguns estabelecimentos de ensino aderiram à moda dos CEF’s como estratégia de curto-prazo para a sobrevivência de alguma carga horária para os seus docentes, mas a médio-prazo esta é uma aposta que se revelará um pouco suicidária.

O mesmo se passará com o Ensino Superior e a iniciativa de abrir a sua frequência a maiores de 23 anos que não tenham completado os estudos que, em situação regular, permitiriam o tal acesso, trocando, por exemplo, todo o Ensino Secundário (em boa verdade podem trocar quase toda a escolaridade) por um exame de admissão elaborado por instituições que precisam de alunos para sobreviver a todo o custo. Por um lado beneficia-se o infractor, criando uma via rápida e paralela para o sucesso, enquanto se abre uma porta das traseiras para o ingresso nas Universidades que queiram usar esta estratégia para engordar o seu corpo discente sem especiais exigências.

Toda esta ânsia em certificar competências e promover as habilitações académicas da população portuguesa seria altamente estimável, se na sua esteira não se verificasse que muitas das motivações destas medidas visam:

Sinceramente gostaria que assim não fosse, mas este parece-me ser mais um daqueles processos que, como aconteceu com os dinheiros do Fundo Social Europeu, servem para disfarçar conjunturalmente os problemas e aparentar iniciativa e oportunidades numa área sensível para o desenvolvimento social do país.

Resta saber se, como se pode constatar 20 anos depois com o FSE, em 2020 não encararemos tudo isto como mais uma enorme alocação de recursos, como eufemisticamente se usa dizer-se nestes casos.

You can be what you wanna be.
They know how to advertise
Sell you anything at any price
Need it or not
that’s what you got
yeah.

Da série Human Face da BBC com John Cleese. Como o próprio diz, mesmo que a coisa não tenha graça e pareça ridícula, é impossível um tipo não se rir disto. Em especial da parte final na prisão, com um grupo de criminosos de Bombaim.

Eu cá experimento fazer isto, mas mais a solo, em privado ou à esquina de um café discreto a recordar isto.

… são os professores, convertidos em permanentes alunos sob a avaliação e fiscalização controladora do Estado, a voltarem agarrar nas bandeiras contestatárias de há 30 anos.

Porque, para quem não reparou, os professores é que passaram a ser os principais objectos da acção formatadora do Estado e a sua resistência é quase a única barreira para que essa formatação se estenda aos futuros cidadãos, os alunos.

When a problem comes along.
You must whip it.
Before the cream sits out too long.
You must whip it.
When something’s going wrong.
You must whip it.

Lamento se a minha erudição é excessivamente pop-culture. Não é que não tenha lido alguns clássicos. Só que estão demasiado arrumadinhos, para ir agora à estante buscar citações mais profundas, a propósito do que será a natureza profunda do português suave.

Agradeço à emn o envio desta pérola absoluta da mais alta comédia. Depois da estupefacção, a evolução da declaração da secretária de Estado e das reacções dos assistentes, deixou-me de lágrimas nos olhos de tanto me rir.

Oh I know I should come clean
But I prefer to deceive
Everyday I walk alone
And pray that god won’t see me

Eu também não comento decisões de Tribunais,
a menos que sejam dos Açores, que como sabem não são Portugal.
Para além disso também não gosto de comentar nada,
quando o meu controleiro está mesmo atrás de mim.

Shyness is nice and
Shyness can stop you
From doing all the things in life
You’d like to

Porque numa semana que parece ter nascido ao contrário,
ao menos a nostalgia que funcione.

Win or lose, sink or swim
One thing is certain well never give in
Side by side, hand in hand
We all stand together

Vou ser franco. Há uma certa perda de vigor físico. percebemos que não somos imortais. Os nossos mentores, para quem antes olhávamos com tanta admiração, começam a dar sinais de que também não o são. Há uma capacidade de deslumbramento que se perde. Os dias ficam mais curtos. Os anos passam – estamos em Fevereiro? Já? – mais depressa. A capacidade de trabalho fica reduzida. Damos por nós com uns apetites suspeitos de votar centrão. Tornamo-nos razoáveis, até um bocadinho conservadores. Começamos (os que temos filhos) a resmungar contra a falta de apoios fiscais para as grandes famílias. Até porque, nos tempos que correm, um agregado familiar de quatro bocas já constitui uma grande família. E, se não nos pomos a pau, ficamos cinzentos. Começamos a dizer coisas tipo «no meu tempo», o que é perigoso, porque as palavras podem ser perigosas. As palavras criam realidade. Se repetirmos muitas vezes «no meu tempo» ainda acabamos, de facto, excluídos deste tempo. Não admira que muitos quarentões tenham a impressão de que a vida lhes passou ao lado. São eles os primeiros culpados, com essa do «no meu tempo». (Rui Zink, Luto pela Felicidade dos Portugueses, 2007, p. 9)

Mas depois o texto anima um pouco e demonstra-nos as vantagens dos 40. Que são menos que as dos 30 e muitos menos que as dos 20, na minha opinião, mas que ainda são consideráveis.

Rui Zink é um quase contemporâneo na FCSH da Nova, parecendo-me que era finalista por lá, quando eu era caloiro em 1983. Em 1984 foi um dos promotores da Pornex, uma mítica exposição de objectos, filmes, etc de cariz pornográfico no velho barracão da Avenida de Berna. Coisa que deu relativo brado na época, que era o tempo dos choques púdicos com os Patos com Laranja. Haveriam de esperar pelos Morangos com Açúcar e veriam.

Enfim. Rui Zink não é uma das minhas referências literárias e aborrece-me que cicie um bocado a falar quando vai à televisão. Ele não tem culpa. Eu também não. Mas parece um tipo simpático, apesar de se ter tornado amigo do troglodita Manuel Serrão.

Mas isso não vem ao caso.

Vem isto apenas a talhe de foice porque daqui a duas horas se irão reunir alguns resistentes que anualmente se reencontram por ocasião do aniversário da conclusão em licenciatura da FCSH da Nova que por lá andou entre 1983 e 1987. Éramos uns 50 e acabámos em marcha ordeira uns 40, mais alguns que se foram juntando no percurso, por transferência ou outro motivo. Num mítico ano bom, acho que em meados dos anos 90 chegámos a reunir mais de 30 convivas.

Agora juntamos normalmente uma dezena, uma dúzia, eventualmente com família e já é bom. Ainda quase ninguém vota no centrão e são poucos os que se preocupam com os benefícios fiscais com as famílias numerosas. Nos que aparecem regularmente não há figuras públicas; entre os que não aparecem nunca há alguns que gostariam de ter sido figuras públicas e quase o conseguiram. O quase parece que é a razão para não aparecerem.

Após 18 anos a tentar reunir as hostes, este vai ser o meu último ano na função. Para castigo vamos comer a pouco mais de 500 metros da minha base, num local cuja qualidade do serviço, na opinião de um colega pouco cinzento, se assemelha a um orgasmo. Eu não diria tanto, mas concordaria que equivale a uns excelentes preliminares. A única desvantagem é que ficando em pleno deserto, é mais difícil cumprir a tradição que até 2004 mandava que parte de nós a seguir descesse o Parque Eduardo VII numa investida sobre a Feira do Livro. Fica para amanhã.

Estamos quase todos mais gorditos, em especial eu, com mais uns 12 kg que há 20 anos. Mais calvos. Com aquelas pequenas mazelas da idade a aparecer. As raparigas, não; estão como dantes. Com responsabilidades acrescidas, contas por pagar. Divórcios, mortes de amigos, doenças impedem parte do núcleo duro de aparecer.

Já falamos algumas vezes em «no nosso tempo». Mas nem sempre para dizer que é bom. Era apenas diferente. Quer dizer, agora a moda parece voltar a estar parecida e, numa turma de Letras com uma elevada percentagem de rapazes, infelizmente parte da vestimentária feminina dos anos 80 regressou, o que não é nada bom.

Mas felizmente continuamos algo incontinentes quando nos encontramos. Verborreicos. Curiosamente os percursos profissionais não passaram de forma esmagadora pela docência. O que é bom. Porque o fel se destila de diversas direcções contra aqueles que – independentemente do posicionamento de cada um de nós – detestamos em comum. Os só-cretinos, como antes os durões, os portinhas e os guterrões. Nenhum de nós tem (ainda) cartão partidário e acho que não há elementos de nenhuma obra à mesa do primeiro sábado de Junho. Talvez por isso continuemos a gostar de nos encontrar. Vinte anos depois.

A dúvida do título, pedida de empréstimo aos coevos Talking Heads, nem se aplica tanto a nós mas, infelizmente, ao que nos rodeia. Porque será que, apesar de tanta mudança, parecemos ter quase voltado ao ponto de partida?

Eye to eye stand winners and losers
hurt by envy, cut by greed
face to face with their own disillusion

Já sei, já sei, as minhas referências musicais são demasiado pop e tresandam a eighties.
São ossos da geração

we are programmed just to do
anything you want us to
we are the robots
we are the robots
we are the robots
we are the robots

Está muita gente chocada com as declarações de Mário Lino sobre o deserto que se estende a sul do Tejo. Aquele em que vivo há 42 anos, portanto. E na última década exactamente no concelho visado pelo ministro ao criticar a opção pelo Poceirão. Embora a 3 km esteja a fábrica que mais contribui para o PIB nacional, confesso que realmente da janela do meu escritório, as placas pós-modernistas de uma urbanização à la Taveira, dão uma certa sensação de deserto mental.

Eu nem por isso estou muito enfastiado com o ministro que já soube gozar em público com a licenciatura e a engenheirice do PM e escapou sem um processo disciplinar. Ao contrário da DREN, eu acho que as pessoas têm direito à sua opinião e mesmo ao disparate.

Até quando são governantes que deveriam ser pessoas informadas e que, mesmo numa situação prandial, deveriam exercer o dever da contenção na verborreia.

(e agora para algo completamente diferente…)

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Don’t say it’s easy to follow a process
There’s nothing harder than keeping a promise

Blood runs through your veins, that’s where our similarity ends
Blood runs through our veins

Blood runs through your veins, that’s where our similarity ends
Blood runs through our veins

There’s nothing believable in being honest
So cover your lies up with another promise

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