É verdade que a divisão da carreira foi sempre o que mais feriu a maioria dos docentes em exercício. A criação dos titulares criou uma primeira fractura, que depois o modelo de ADD agravou.

Fizeram um acordo que deu a aparência de ter acabado com a divisão na carreira, mas no fundo apenas a tornou mais complexa, com os estrangulamentos na progressão, cruzados com a criação da figura dos relatores.

As coisas amansaram uns tempos, pareceu que a dupla negocial preferencial tinha conseguido acalmar as escolas, até que se constatou que não.

E não acalmou, provocando algo pior do que uma não-acalmia, pois agravou as divisões existentes, que antes até se conseguiam atenuar, mas agora estão mais expostas.

Eu explico: há dois anos – com maior ou menor sinceridade – a união de facto entre os professores era esmagadora. Aqueles que apoiavam as medidas do ME, embora existissem, eram claramente minoritários.

Neste momento, por omissão, acomodamento ou crença nova, o lote daqueles que aceitaram algumas políticas do ME aumentou. O que significa que, mesmo sendo minoritários, tornaram os conflitos nas escolas mais complicados de gerir.

Por causa das vaidadezinhas bacocas, mas não só.

Com a conivência de alguns sindicatos, o ME/Governo fez avançar a ADD até onde foi possível, colocando o aparato burocrático em marcha.

Até um ponto em que as fracturas internas entre docentes se começaram a agravar perante as diferentes estratégias de lidar com a situação – o chamado coping para os especialistas em dialectos – e sobreviver, melhor ou pior, perante a situação.

O que significa que neste momento, em especial com o cruzamento da ADD com a avaliação das direcções e com a nuvem dos mega-agrupamentos, mais as implicações da reforma curricular na redução de horários disponíveis, se avizinha um período de enorme tensão interna nas escolas que deve ter o seu período mais complicado em plena época de preparação e realização de exames.

Sem nenhuns ganhos evidentes para ninguém, excepto meia dúzia de observadores com diversas patologias e/ou traumas com antigos professores ou actuais colegas.

Mandaria um mínimo de bom senso que, perante um ambiente de austeridade que reduziu salários, congelou progressões e pulverizou horizontes de carreira, a tutela (ou quem manda nela) tivesse a perspicácia de suspender a aplicação de uma ADD que, na prática, é de uma confrangedora inutilidade.

Cada dia que passa é apenas um dia em que estas coisas servem para que o pequeno grupo de mentores desta ADD (com o engenheiro na forma de cereja oscilantes no topo de um bolo de algodão pouco doce) dê lustro ao seu orgulho e a grande maioria dos profissionais ligados à Educação vejam esboroar-se o ambiente em que trabalham.

Quem não vê isso é cego ou muito mais míope do que eu e olhem que a miopia me safou da tropa.

Ou então sente-se bem na função que a cadeia alimentar burocrático-educacional lhe reservou.