Correspondendo à adaptação de um post de meados de Junho. Aguardo as acusações de instrumentalização por parte do Santos & Cia, devendo esclarecer que a iniciativa de enviar o texto, com pedido de publicação, foi minha há umas duas semanas.
A Educação merece ser discutida com argumentos sérios
Tentar debater qualquer assunto sério sobre Educação com quem de Educação pouco percebe, teoricamente ou na prática, é uma tarefa quase sempre destinada ao fracasso. Mas é o que se passa quanto à possibilidade de diminuir o número máximo de alunos por turma, quando do outro lado se tem alguém com os argumentos usados pela equipa do Ministério da Educação.
Os Ministérios da Educação e das Finanças até podem discordar da medida alegando (erradamente…) que a medida implicaria importantes gastos acrescidos. Mas contraditar a proposta com argumentos como médias e rácios é querer discutir pedagogia com base na análise do número de computadores por sala e aluno.
Aclaremos o que está em causa: o que se pretende é eliminar as turmas com um número excessivo de alunos, permitindo a esses grupos trabalhar melhor. O que se pretende é baixar o plafond máximo de alunos por turma, sendo que por turma se entende turmas regulares. O que se deseja é melhorar o trabalho com aqueles alunos que têm sido esquecidos nos últimos anos: os alunos regulares, bons ou muito bons, que pretendem trabalhar e nem sempre dispõem das melhores condições.
Porque tudo tem sido direccionado para resolver os problemas dos alunos que faltam, não estudam ou – mais justificadamente – têm problemas de aprendizagem e necessidades educativas especiais. Esses sim têm sido objecto de imensas medidas, incluindo passar do 8º ano para o 10º, dizem que excepcionalmente.
Claro que há turmas PCA e CEF que têm menos de 15 alunos, mesmo menos de 10, e que apresentam níveis de sucesso abaixo da média. Mas isso acontece porque, na origem, essas turmas são constituídas por alunos com um historial de insucesso recorrente. O normal será terem um insucesso acima da média. Em circunstâncias normais, esses alunos, integrados em outras turmas, não transitariam ou muito poucos o conseguiriam. Alcançar 50% de sucesso numa turma com um currículo adaptado é um enorme sucesso. Comparar a média conseguida por estas turmas com as médias das turmas maiores mas regulares é ou desonesto, demagógico ou sinal de profunda ignorância. Comparar o insucesso das turmas PCA ou CEF com menos de 15 alunos com os resultados das turmas com 25 alunos mas que foram limpas desses alunos é uma falácia enorme. É intelectualmente desonesto. Nenhum especialista pode dizer que os estudos provam seja o que for nessa base.
O que se pretende com a proposta de redução do número máximo de alunos por turma é algo diferente: é que as turmas regulares disponham de melhores condições de trabalho para elevar os seus resultados. Para melhorar o desempenho médio dessas turmas que será quase sempre melhor com 22 alunos do que com 28.
Se houvesse algo a comparar seria grupos-turma com um perfil similar de (in)sucesso e comparar os resultados de turmas com 28 alunos com as de 22 alunos. Isso sim, permitiria estudar a sério a questão. Mas o nosso Ministério da Educação não tem interesse nisso.
Comparar resultados de turmas pequenas por serem constituídas por alunos que antes estavam em risco educacional com as das turmas maiores de onde esses alunos foram retirados é pura desonestidade intelectual. É o mesmo que retirar de uma fruteira com 35 frutos – atenção que é um mera comparação – 10 maçãs em risco de se estragarem por diversas razões, conseguir que mais de metade delas não se estraguem e depois alguém dizer que esse resultado é pior do que o conseguido com os 25 frutos saudáveis, porque afinal só se estragaram 3.
Discutir nesta base, como faz o ME por via do secretário Trocado da Mata, é…
Julho 3, 2010 at 12:19 pm
Já li, em papel…
Gostei muito pela total clareza!
Só quem tiver palas nos olhos, não entende isto: comparar turmas pequenas ( CEF) com turmas regulares é o cúmulo da desonestidade.
Houvesse turmas pequenas de sobredotados e eu queria ver como seriam as estatísticas..
Julho 3, 2010 at 12:19 pm
Sopinha, o que importa é que os pobres comam sopinha…
http://porquemedizem.blogspot.com/2010/07/sopa-dos-pobres-sec-xxi.html
Julho 3, 2010 at 12:21 pm
Na página ao lado ( Expresso), o artigo do Guilherme Valente: “Dois logros do eduquês” tb está óptimo pelo desmontar das teorias do “aprender a aprender”…
Julho 3, 2010 at 12:26 pm
Tb vale a pena ler o artigo da Isabel Leiria sobre o insucesso da Matemática, 3 anos após a introdução do Plano de Acção.
Não se atrevem a questionar o Plano. Querem, apenas, mais do mesmo.
É nestas alturas que tenho pena que o Nuno Crato não tenha influência no Ministério.
Nota: apesar de não ser de Matemática, dou aulas de Estudo Acompanhado com os colegas de Matemática e tenho a minha opinião sobre as pedagogias dominantes, “filosofia” presente no PAM.
Julho 3, 2010 at 12:45 pm
Uma gargalhada geral…
“Os professores quanto mais dão, mais cheios ficam.”
Esta senhora vai pelo bom caminho, com estas larachas.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/ensino/escola-tropeca-na-legislacao
Julho 3, 2010 at 12:54 pm
Chamou-me a atenção o antetítulo, certamente feito por um jornalista dentro do contexto: “… situação existente no ensino secundário…”
Vá lá que de vez em quando vão pedindo um ou outro textozito de opinião a quem perceba do assunto…
Julho 3, 2010 at 1:01 pm
Mas pronto, é o semanário do regime, nada de criticar o Espesso.
Têm jornalistas especializados em quase tudo, não haver ninguém que perceba de um assunto tão acessório como a educação, qual é o mal?
Trocam o básico com o secundário, outras vezes referem os “professores de liceu”. Uma ignorância factual que só encontra paralelo na arrogância opinativa…
Julho 3, 2010 at 1:04 pm
António,
A petição vai do básico ao secundário. Fica mais interessante fazer um antetítulo assim…
Segunda-feira talvez uma surpresa maior…
Julho 3, 2010 at 1:05 pm
Não vou comprar bastam-me os vossos resumos.
Julho 3, 2010 at 1:08 pm
#8
Confesso a minha profunda e antiga embirração por este jornal, que contudo creio que tem fundamentos, não é mero preconceito…
Julho 3, 2010 at 1:27 pm
Na estatística as distribuições que apresentam várias modas indicam,em geral, falta de homogeneidade. Ou seja, indicam a existência de diferentes causas para diferentes modas. Em linguagem mais simples – quer dizer que alguém andou a misturar alhos com bugalhos.
Julho 3, 2010 at 5:30 pm
O ministério divide o montante disponível pelo número de alunos. Se as contas fossem feitas localmente a distribuição seria mais racional.
Há uma excessiva uniformização neste e noutros assuntos.
O conceito de turma, horário de turma etc. são anacrónicos. continuaremos a chafurdar em contradições ainda durante muito tempo até nos apercebermos de que as contradições são insanáveis.
Julho 3, 2010 at 9:12 pm
Brilhante….
Clareza cristalina.
Sint+etico e picante nas bicadas quanto baste.
Assinaria por baixo.