Sou um simples licenciado em História, com umas qualificações académicas complementares apensas em matéria de História Contemporânea e aspirações em História da Educação e uma profissionalização que, sendo no 1º grupo do 2º ciclo, contemplou as áreas da Didáctica do Português e da História.

Não sou, pois, alguém com uma formação académica de base em Língua Portuguesa e o meu desempenho no Ensino Secundário na transição entre os anos 70 e o início dos anos 80 não foi especialmente brilhante. No 10º e 11º ano, sempre que a Gramática atacava eu mal passava do 13 e só quando chegava a parte da Literatura ou da produção escrita voava um pouco mais alto para os 15, 16 ou, em casos raros, o 17.

Por isso, como professor de Língua Portuguesa de jovens entre os 10 e os 13 anos (ou 14, ou 15, se o sucesso tiver sido curto), encaro o ensino da Gramática como uma necessidade, principalmente com uma utilidade prática, mas como algo que pode ser doloroso e chato se não for leccionado com conta, peso e medida. Sou razoavelmente aborrecido com quem usa mal a nossa língua materna, mas sou um pouco condescendente com quem não me sabe declamar sem pestanejar todas as variedades de conjunções e preposições. Considero mesmo, e parece que não sou o único, que um ensino da Língua Portuguesa que sobrevalorize as derivas taxonómicas, à moda dos excessos classificadores do positivismo oitocentista, pode acabar por matar no ovo o gosto pela própria leitura.

Daí que, após uma pausa em que não leccionei por estar equiparado a bolseiro, tenha regressado este ano e dado de cabeça logo com uma criação que responde pelo nome de Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário. A coisa deixou-me confuso e perplexo a vários níveis, sendo o principal deles a acrescida complexidade terminológica adoptada e a sua irrelevância para uma melhor aprendizagem prática da língua. Não vou dar exemplos dos desvarios da TLEBS (já outros o fizeram de forma elucitadiva), na quase completa inexistência de Gramáticas actualizadas ou de manuais para os alunos (os que estão em vigor foram concebidos e adoptados antes desta reinvenção da roda), nem mesmo da pobreza de materiais disponibilizados pelo Ministério para apoiar esta implementação, que são quase omissos em exemplos de aplicações práticas, pois não vale a pena bater mais nos ceguinhos.

Como em meu redor na Escola tenho algumas pessoas que parecem entusiasmadas (ou no mínimo seriamente empenhadas) com este tipo de novidade, procurei calar as minhas sérias dúvidas sobre a sua implementação a frio no 2º ciclo a alunos que vieram do 1º ciclo com a “velha” terminologia. Pensei que era o facto de eu ser originalmente de História e professor de Português “por empréstimo” que explicaria a minha sensação de desajustamento e desconforto. E algum rebuço em admitir que achava a coisa assim a modos que semi-disparatada.

E lá me fui tentando adaptar em razoável silêncio às novas “frases complexas copulativas assindécticas” ou algo parecido, bem como à morte dos bons, velhos e amigos “complementos circunstanciais”, pelos quais sempre senti alguma estima.

Só que nesta última semana, gente bem mais qualificada do que eu, apareceu a abrir a boca e a escrever quanto ao disparate da coisa. Na Visão de 5ª feira passada foi Maria Alzira Seixo, hoje no Diário de Notícias é Vasco Graça Moura. Pelo menos deixei de me sentir tão só e a companhia até nem é má nesta minha dúvida existencial sobre a lógica de aplicar esta nova Terminologia aos 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico e não a reservar para uma fase mais avançada e de aprofundamento linguístico do percurso escolar dos alunos.

É que de experiências pedagógicas destas já temos a nossa conta e, por via de regra, meia dúzia de anos depois de iniciadas chega-se à conclusão que só vieram atrapalhar em vez de ajudar.

Adenda: Para uma outra visão sobre este assunto, complementar mas nem por isso mais cor-de-rosa, clicar aqui.